Ex-estrela da escalada esportiva morre durante conflito na Ucrânia

Por Redação

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Maksym Petrenko foi um dos escaladores mais talentosos da Europa no início dos anos 2000. Foto: Reprodução / Climbing.

O escalador ucraniano Maksym Petrenko foi morto em combate no último dia 15 de outubro. Aos 46 anos, ele servia nas Forças Armadas da Ucrânia na guerra contra a Rússia quando foi atingido por fogo de morteiro em meio à batalha em curso por Toretsk.

Nascido em Luhansk, em 1978, Petrenko estava entre os escaladores mais fortes da Europa Oriental no surgimento da escalada esportiva. Ele foi uma figura presente no circuito internacional de competições ao longo dos anos 1990 e início dos 2000, participando de 41 Copas do Mundo da IFSC e sete Campeonatos Mundiais.

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Petrenko conquistou a medalha de ouro no Campeonato Mundial Juvenil em 1997 e subiu ao pódio cinco vezes no circuito Open. Ele escalou vias de 5.14c à vista quando 5.15a era a graduação mais difícil do mundo, e ainda é o único ucraniano a ganhar uma medalha no Campeonato Mundial de Lead (1999).

O escalador holandês Jorg Verhoeven conheceu Petrenko enquanto treinava em Innsbruck no início dos anos 2000 e competiu com ele no circuito de competições, que na época era bastante unido. Verhoeven descreveu Petrenko como um escalador extremamente forte, que, ao contrário dos escaladores da Europa Ocidental como ele, tinha pouco ou nenhum apoio financeiro e logístico, além de escassas infraestruturas de treinamento em casa, na Ucrânia, mas conseguiu se destacar nas competições.

O cenário competitivo daquela época era muito mais íntimo do que o abrangente circuito da Copa do Mundo de hoje. “Ele era meio que um outsider”, disse Verhoeven. “Havia um pequeno grupo de ucranianos e russos que participavam dessas competições, mas eram sempre poucas pessoas. Como escalador holandês, eu também estava meio sozinho, então nos tornamos amigos.” Verhoeven disse que Petrenko era um pouco introvertido, “mas quando você quebrava essa barreira, podia ver uma pessoa atenciosa e um escalador incrivelmente motivado. Ele sempre encontrava alegria na vida através da escalada.”

Verhoeven também destacou que Petrenko era um escalador “louco”, movido por um nível de determinação quase incompreensível para seus contemporâneos ocidentais. “É difícil explicar, mas esses escaladores da Rússia, da Ucrânia, tinham uma mentalidade totalmente diferente”, disse Verhoeven. “Os franceses, os austríacos, até eu, éramos financiados por nossas federações. Você treina em uma boa instalação, viaja de avião para as competições, ganha ou perde, e volta para casa. É difícil, mas é fácil, na verdade.”

“Então você encontra algumas pessoas que lutam em um nível diferente”, continuou. “Eles treinam em uma academia inexistente. Basicamente têm uma barra fixa e talvez algumas agarras improvisadas. É isso. Eles dirigem 10 mil quilômetros sozinhos só para chegar a uma competição. Maksym era esse cara. Ele queria isso.”

A escaladora profissional ucraniana Jenya Kazbekova, filha dos ex-escaladores Serik Kasbekova e Nataliia Perlova, relembrou memórias de infância viajando com seus pais e Petrenko para competir. “Ele era muito forte e trabalhador”, disse ela. “A quantidade de treino que ele fazia na época era impressionante para as gerações de escaladores que vieram depois.”

“Minhas memórias mais recentes com ele são de competições nacionais em que ele armava as vias”, acrescentou Kazbekova. “Ele sempre foi gentil e um pouco excêntrico. Muito calmo, um verdadeiro escalador de dificuldade à moda antiga.”

Petrenko viajou de volta para a Ucrânia de tempos em tempos nos últimos anos, mas Verhoeven não tem certeza de quando, ou por que motivo, seu falecido amigo começou a lutar no combate. “Maksym não era uma pessoa que eu imaginava que começaria a lutar em uma guerra”, explicou. Verhoeven acredita que Petrenko voltou para lutar por sua terra natal porque sentia que não tinha outra opção.

Maksym Petrenko não é o primeiro escalador ucraniano a trocar a corda pelo fuzil. Ele se junta a uma lista tragicamente longa de alpinistas, montanhistas e escaladores ucranianos que se alistaram para defender seu país e morreram em combate.

Fonte: Climbing.