Como este escalador cego venceu um dos paredões de rocha mais icônicos dos EUA

Por Redação

Jesse Dufton se tornou o primeiro escalador cego a guiar a El Matador, uma via de 150 metros na Torre do Diabo, em Wyoming. Foto: Alastair Lee / @britrockfilms / Climbing Magazine.

O escalador cego Jesse Dufton acaba de realizar uma incrível façanha, guiando sua ascensão na face de rocha mais icônica do estado do Wyoming, nos EUA.

Jesse, de 38 anos, conseguiu escalar a El Matador, uma rota tradicional de 150 metros na Torre do Diabo, tornando-se a primeira pessoa cega a guiar nessa formação desafiadora.

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Considerado o melhor escalador cego do mundo, Dufton é conhecido por sua abordagem purista em relação aos equipamentos. Ele já completou mais de 1.500 rotas tradicionais pelas Ilhas Britânicas e continua a desafiar os limites do que é possível.

Aos 4 anos, Jesse foi diagnosticado com uma doença genética rara que rompe as células das retinas. Aos 20 anos, já não conseguia ler, e quando tinha 30 anos, a sua visão era reduzida para uma percepção de luz com cerca de 1% ou 2% do campo de visão. Apesar disso, seu amor pela escalada, que começou aos 11 anos, nunca diminuiu.

Além de suas conquistas em rotas tradicionais, Dufton também já alcançou marcas impressionantes no esporte, como encadear vias de grau 5.11d (7a no Brasil) e realizar primeiras ascensões em estilo alpino na Groenlândia.

No ano passado, também tornou-se a primeira pessoa cega a fazer a primeira ascensão de uma rota de várias cordadas no Marrocos.

Dufton conheceu a Torre do Diabo depois de assistir a uma palestra da escaladora francesa Catherine Destivelle, que escalou a El Matador solo em 1992. Inspirado pela formação rochosa e pelas colunas verticais semelhantes a outras que ele já havia escalado no Reino Unido, Dufton decidiu enfrentar esse desafio.

Dufton utiliza um “guia visual”, sua esposa Molly, que normalmente faz a segurança e indica possíveis agarras enquanto ele escala. No entanto, na El Matador, Dufton precisou contar mais com suas habilidades, pois Molly não podia ver as agarras.

Guiando cinco das seis cordadas da El Matador, Dufton enfrentou desafios significativos, especialmente na segunda cordada, considerada a mais difícil.

A natureza baseada em fricção da escalada dificultou encontrar apoios para os pés, mas Dufton perseverou, utilizando movimentos estáticos e controlados.

A icônica Torre do Diabo. Foto: Alastair Lee / @britrockfilms / Climbing Magazine.

Apesar das dificuldades e quedas, Dufton completou a escalada, enfrentando momentos de tensão, como a queda de uma costura e o desafio de navegar por seções cegas. Sua determinação e habilidades garantiram a ele um lugar na história da escalada.

A ascensão de Dufton na El Matador foi documentada pelo cineasta Alastair Lee, e o filme será exibido como parte da Brit Rock Film Tour de 2024, destacando a incrível façanha.

Matéria originalmente publicada na Climbing Magazine.