Elas correram a Maratona de Chicago sem treinar: ‘uma das piores dores que já senti’

Por Ryleigh Nucilli, para a Outside USA

Elas correram a Maratona de Chicago sem treinar
Imagem: Reprodução/TikTok

Fiquei fascinada quando uma amiga me mandou um TikTok de duas mulheres dos Estados Unidos correndo a Maratona de Chicago de 2024 – como o texto sobreposto ao vídeo explica – “sem treino, sem café da manhã, sem sono, sem fones de ouvido, sem bateria e sem noção.”

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Fiquei assistindo por mais de cinco minutos, vendo Jaryn Garner e Paula Hughes avançarem quilômetro após quilômetro, com as pernas cada vez mais cansadas, mas ainda sorrindo, rindo e fazendo piadas na segunda metade da maratona.

@pjpaula044 my legs are still humming 😂 #chicagomarathon #chicago #marathon #pov #firsttiktok #runner #athlete #nike #@Jaryn Garner ♬ original sound – pjpaula04

O grande destaque da Maratona de Chicago deste ano foi o novo e impressionante recorde feminino de Ruth Chepngetich, com 2:09:56. Mas o TikTok também é muito bom, e eu me vi querendo saber mais sobre o motivo pelo qual foi criado.

Entrei em contato com Garner, uma das mentes por trás do vídeo (ela é quem segura a câmera e está usando um gorro), para saber mais sobre a história por trás e para fazer a pergunta sempre presente na internet: o que vocês afirmam no vídeo é verdade? E, se for, como se sentiram depois?

Como é correr uma maratona com treinamento mínimo

OUTSIDE USA: Como foi, de fato, correr uma das maratonas mais famosas do país completamente despreparada? Como isso aconteceu e como foi a preparação?

GARNER: Não houve inspiração real. A empresa para a qual trabalho (TOGETHXR, uma marca de estilo de vida fundada pelas atletas profissionais Alex Morgan, Chloe Kim, Simone Manuel e Sue Bird) tinha quatro vagas para a Maratona de Chicago e perguntou se alguém estava interessado cerca de seis semanas antes. Ninguém se animou com a ideia, então Paula [Hughes, a outra mulher que aparece correndo no vídeo] me procurou e disse: “Então, vamos correr a maratona?”… Eu realmente achei que fosse uma piada até faltarem cerca de um mês, e só pensava: uau, nós realmente vamos fazer isso.

Começamos a receber todos os e-mails de informações, e a Nike começou a nos enviar coisas para a maratona, e foi aí que a ficha caiu. Na preparação, tivemos um técnico da Nike nos dando algumas dicas (que tentamos seguir o melhor que pudemos) e começamos a correr uma ou duas vezes por semana, mas nada que passasse de três ou quatro quilômetros. Então, definitivamente, não era o suficiente.

Sua aptidão física parece… alta! Vocês não parecem simplesmente ter levantado do sofá e ido correr uma maratona. Qual é a sua rotina de exercícios, além da maratona? Vocês gostam de corridas longas? Conte-me um pouco de sua história.

Nenhuma de nós é corredora. Ambas somos ex-atletas de universidades de divisão 1. Paula foi do time de remo na Universidade de Syracuse, e eu joguei basquete na Universidade de Virgínia e terminei minha carreira na Universidade St. Joseph’s. Dito isso, ambas odiamos corridas de longa distância, então, embora não sejamos sedentárias, a ideia de correr até mesmo um quilômetro é hilária para nós duas.

A legenda do vídeo (“minhas pernas ainda estão vibrando”) indica alguma dor pós-corrida. Você pode descrever como foram o dia e a semana após a maratona para o seu corpo?

No momento em que cruzamos a linha de chegada, voltamos para uma tenda que a Nike nos ofereceu para comemorar e nos recuperamos por cerca de 20 minutos e tiramos fotos. Depois de levantar, sair da tenda e ir para o carro, senti provavelmente uma das piores dores que já tive na parte inferior do corpo. Andando devagar como uma tartaruga, cada passo doía, dos pés até os quadris. Eu nunca tinha sentido algo assim. No dia seguinte, eu mal conseguia andar e, na verdade, me arrastei um pouco para me mover.

A pior parte, para mim, foram os pés. Só voltei a andar sem dor após nove dias, e minhas pernas se recuperaram completamente em cerca de cinco dias.

Tá, mas é necessário treinar antes de uma maratona

Por mais divertida que tenha sido minha conversa com Garner, seria irresponsável não mencionar os perigos muito reais de correr 42 km sem um treinamento que desenvolva gradualmente o sistema circulatório, respiratório, muscular e a resistência mental.

Se você ler os comentários no vídeo viral, verá muitos apontando o perigo da rabdomiólise, uma condição em que o tecido muscular entra na corrente sanguínea após um esforço excessivo, entre outros problemas de saúde.

Para uma perspectiva sobre o assunto, entrei em contato com minha amiga Kaylyn Christopher, ex-corredora All-American pela Universidade de West Virginia, qualificada para a Maratona de Boston e atualmente técnica de cross-country masculino e feminino na Universidade Fairmont State. Ela já havia visto o vídeo e comentou que achava que “foi um ato corajoso!”

No entanto, Christopher observa que maratonas geralmente exigem uma preparação intencional. Além de acumular quilômetros para garantir que o corpo esteja fisicamente pronto, há outros fatores a considerar, como nutrição e hidratação. A maioria dos corredores passa bastante tempo ajustando seu sistema durante os treinos.

“Você carrega uma garrafa na mão? Está preenchida com água ou talvez eletrólitos? Ou você pratica pegar copos nos postos de água? Carrega cápsulas de sal? E os géis? Eles funcionam bem com seu sistema digestivo?” diz Christopher. “Essas são questões que os maratonistas procuram responder através de tentativas e erros durante o treinamento.”

Com seus próprios atletas, ela diz que a falta de treino leva a uma maior ocorrência de problemas como síndrome da banda iliotibial e canelite.

A própria Garner mencionou o mesmo em nossa conversa. Perguntei o que ela diria para aqueles inspirados a imitar sua façanha. Ela me disse que deseja ser consciente das questões de saúde. Ao mesmo tempo, ela diz que os comentários mostraram como “ajudamos a fazer com que as pessoas se sentissem melhor sobre sua maratona que se aproxima, inspiramos algumas a se inscreverem para uma maratona ou apenas a começar a se exercitar, e isso provavelmente tem sido mais recompensador do que ganhar a medalha no final.”