Você com certeza já ouviu dizer que a mente manda no corpo, e não o contrário. A ciência agora está descobrindo que este ditado é muito verdadeiro. O cientista italiano Fabrizio Benedetti, da Universidade de Turim, está testando isso. Ele tem dado “oxigênio placebo” para alpinistas em montanhas na Colômbia, no Alasca e em seu laboratório nos Alpes. E descobriu que o oxigênio falso dá efeito, como o real.
Na experiência, o efeito só funciona se a pessoa já usou o oxigênio suplementar algumas vezes antes dele ser trocado pela versão placebo – óbvio, sem saberem da troca. Assim, o corpo espera receber o oxigênio e responde como se tivesse recebido. Mesmo sem oxigênio de verdade no cilindro, existe um aumento de performance nos testes de laboratório que simulam caminhada em altitude. Até agora, nem Benedetti sabe exatamente como o corpo faz isso.
O que é efeito placebo?
O efeito placebo é quando o paciente acredita que está sendo tratado e tem os efeitos positivos deste tratamento, ainda que seja uma substância inócua, como uma pílula de açúcar. De tosse a dores e depressão, o placebo tem mostrado melhorar sintomas. Agora, cientistas tentam entender o quanto e como isso pode ser aplicado no esporte. Existem inúmeros relatos de como a força de vontade é importante para vencer no esporte. Os estudos mais recentes sugerem que o efeito placebo também tem um impacto enorme na performance.
Em um dos estudos, ciclistas profissionais receberam uma bebida que poderia ser descafeinada, conter pouca ou muita cafeína, antes de um contrarrelógio. Alguns deles receberam placebos. Os atletas que acharam que receberam uma pequena dose tiveram resultados 1.5% melhores do que a média, enquanto os que acharam ter recebido uma alta dose tiveram um aumento de potência de 3% em um percurso de 10km. Pode não parecer muito, mas na elite é a diferença entre ganhar ou perder uma medalha olímpica.
Os estudos tentam entender como uma pílula inócua pode ter um efeito tão grande. A explicação mais simples é o psicológico: ao receber o placebo, a pessoa pode simplesmente dar o melhor de si, com mais intensidade.
Benedetti diz que os resultados não são conclusivos, mas de modo geral, apontam para 2% a 3% de aumento na performance, sem paralelo em outros índices, como taxa de batimentos cardíacos mais alta, limiar de lactato mais lato ou mais ventilação, o que seria esperado se o atleta estivesse se esforçando mais. É como se o placebo tivesse um efeito direto na eficiência do organismo.
Como placebos podem ajudar no esporte?
Uma das hipóteses é que o placebo ajuda a relaxar. Se o atleta acredita que a substância vai melhorar a performance, ele relaxa e foca por se sentir mais seguro.
Outra hipótese é que o placebo tenha influência em caminhos neurais ligados à dor e à endurance, ajudando a lidar com as sensações de exaustão e fadiga física que limitam o desempenho. Até porque o cérebro tem um truque: ele sabiamente guarda um pouco de energia para uma emergência.
Sendo assim, o placebo poderia enganar esse mecanismo, ajudando a dar um impulso com essa “reserva mental”, que não teríamos acesso voluntariamente.
Placebo e contexto social
Para Benedetti, parte da explicação da eficácia dos placebos no esporte está em fatores sociais. Ainda que seja uma pílula de açúcar, existe o ritual terapêutico, as expectativas, a confiança na pessoa que administra o tratamento, o que é dito sobre o remédio. É bem provável que o placebo interaja com caminhos neurais que existem há milhares de anos, relacionados aos nossos laços sociais.
O cientista acredita que a pesquisa pode ter um impacto em como encaramos o doping. Se é possível que o cérebro adaptado a algum tipo de substância faça o corpo ter o mesmo resultado com o placebo, o atleta pode fazer doping, mas usar um placebo antes da prova. Além disso, se é possível ter o mesmo desempenho com um placebo, por que usar drogas em vez de tentar buscar seu potencial sem isso? Se o placebo tem este poder, basta acreditar.