O Rocky Mountain Games, maior festival de cultura e esportes de montanha do Brasil, ficou ainda mais democrático nesta temporada com a inclusão de uma nova modalidade na etapa de Campos do Jordão.
A e-MTB, categoria para as bikes equipadas com pedal assistido, reuniu diferentes tribos de ciclistas na Serra da Mantiqueira, de iniciantes a veteranos, encorajados a encarar as trilhas desafiadoras da região de uma maneira mais descontraída.
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A modalidade foi disputada na distância de 40 km e dividida em duas categorias: a Turbo Pro, com velocidade máxima assistida de até 32 km/h e sem limite de potência do motor, e a Super Light (SL), onde a velocidade máxima assistida não pôde ultrapassar 25 km/h e a potência do motor foi de 350 watts.
Antes mesmo da largada, o clima já era de pura diversão na arena montada na Praça Pinho Bravo. Nem a lama, nem os tortuosos trechos de single tracks técnicos prometidos pela organização pareciam abalar o ânimo dos competidores.
“Todo mundo que experimenta uma e-bike gosta, não tem jeito”, destacou Gabriel Isper, um dos nomes da elite do e-MTB brasileiro e que foi prestigiar a estreia da modalidade no seu quintal de casa.
Aos 31 anos, Isper é local de Campos e acumula grandes resultados em competições de BMX, downhill, XCO, enduro e até no ciclismo de estrada. Nos últimos anos, ele vem se dedicando intensamente ao universo das bikes elétricas, tornando-se um dos principais entusiastas da modalidade e o grande favorito da estreia da categoria no RMG 2024.
“Cada vez mais cai por terra o preconceito de que as e-bikes são bicicletas para quem, sei lá, é preguiçoso ou qualquer coisa do tipo. Muito pelo contrário, ela te dá um leque muito maior de possibilidades, um poder exploratório, não só pelo recurso de motor e bateria, mas por todos os componentes que a bike possui”, afirma Isper.
“É uma modalidade nova, um outro tipo de esporte que te permite subir em lugares onde você não conseguiria chegar com uma bike normal, mesmo que fosse muito, muito forte”, complementa o atleta, que confirmou o favoritismo e cruzou a linha de chegada em primeiro na categoria Turbo Pro.
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Horizontes expandidos
Assim como Isper, muitos ciclistas experientes, vindos de modalidades como downhill, XCO e enduro, estão usando as e-MTBs para aprimorar a técnica nas descidas ou aumentar a carga de quilometragem nos treinos. Com o pedal assistido, é possível cobrir mais terreno em um mesmo pedal ou repetir trechos técnicos em uma mesma sessão, sem se desgastar nas subidas.
Esse foi o caso de Andrea Aidar, 51 anos, que também prestigiou a estreia da categoria em Campos. Há pouco mais de dois anos, ela trocou o enduro pelas bikes elétricas e não largou mais.
“Quando a e-MTB apareceu no mercado eu fazia enduro com uma bike analógica e em muitos treinos tínhamos um motorista só para fazer o resgate. Ele dirigia morro acima com as bikes e largava a gente no começo da descida. Mas é claro, muitas vezes tivemos que pedalar nas ladeiras para então poder curtir as descidas”, relata a ciclista.
A virada de chave veio quando sua treinadora, Adriana Nascimento, que promovia a nova modalidade, a convidou para um treino de e-bike em Campos do Jordão, com duração de cinco horas. “Fiquei surpresa com a agilidade nas trilhas técnicas, o conforto nas subidas e, principalmente, com a forte exigência física — tanto cardio quanto muscular. Isso me motivou a treinar mais e com maior frequência, e me apaixonei”, diz Andrea. “É uma modalidade à parte dentro do ciclismo, o modo de pilotagem é diferente, mas evolução sempre é treino, eu acredito nisso”, reforça a ciclista.
Em muitos casos, a e-MTBs podem exigir até mais da parte física dos ciclistas, como sugeriu este estudo de 2019, publicado na National Library of Medicine. Os pesquisadores indicaram que, apesar de os ciclistas de e-MTB acreditarem que faziam menos esforço nas bikes com motor, suas frequências cardíacas médias chegaram a 94% se comparadas àqueles que usaram as bikes convencionais.
O estudo recrutou 33 ciclistas de montanha entre 18 e 65 anos, com idade média de 37,8 anos e diferentes níveis de experiência. Os participantes completaram duas voltas em um circuito de 8,8 km com 700 metros de ganho de elevação – uma volta foi em uma e-MTB de pedal assistido (com velocidade máxima de 32 km/h) e outra em uma mountain bike convencional, com modelos compatíveis.
Os ciclistas completaram o percurso, em média, 12 minutos e 40 segundos mais rápido nas e-MTBs, mas as frequências cardíacas foram semelhantes: 154,8 bpm na bike convencional e 144,9 bpm na eMTB. Isso colocou os participantes na mesma zona de “intensidade vigorosa” em ambas as bikes. Apesar da semelhança, ao serem questionados, a maioria dos ciclistas elétricos concordou com a afirmação: “a frequência cardíaca é consideravelmente menor ao andar em uma e-MTB comparada a uma mountain bike convencional”.
Resumindo, o estudo sugeriu que as e-MTBs oferecem um bom exercício sem que o ciclista perceba que está se exercitando tanto. Ele ainda propõe que as e-MTBs podem ser vantajosas para “indivíduos mais sedentários”, ajudando-os a “se engajar em atividades físicas regulares e a cumprir diretrizes de atividade física”.
Além disso, as e-MTBs também oferecem uma entrada mais acessível para o mountain bike, atraindo pessoas que antes se sentiam intimidadas pelas demandas físicas do esporte. Para os iniciantes, o motor assistido ajuda a reduzir a intensidade de subidas e trechos íngremes, permitindo que esses ciclistas experimentem a emoção do esporte sem a pressão do condicionamento físico extremo. Isso torna a experiência de MTB mais amigável e acolhedora, o que é especialmente importante para quem quer curtir a natureza e explorar trilhas com amigos de diferentes níveis de habilidade sem se preocupar tanto com o desgaste físico.
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De olho no calendário
Para Felipe Matias, de 43 anos, o clima descontraído da galera do e-MTB foi um dos pontos fortes do RMG em Campos. Se as e-bikes são o futuro, ela já está bem presente no dia a dia do atleta. “O Brasil tem um potencial enorme para explorar essa modalidade. As e-bikes são inclusivas, democráticas e muito divertidas. Tem espaço para todos. Muitos ciclistas estão retornando ao pedal por conta delas. Hoje também existem grupos exclusivos de e-bike com cada vez mais adeptos”, destacou Matias, que já adiantou que vai participar de todas as etapas do RMG em 2025: Atibaia, Juquitiba e Campos do Jordão, com a e-MTB confirmada em todas elas.
”Eventos como o RMG são extremamente importantes. A comunidade das e-bikes precisa de provas que proporcionem uma experiência perfeita. Um trajeto bem planejado, desafiador, divertido e pensado exatamente para as e-bikes faz toda a diferença. E foi assim na última etapa do RMG em Campos do Jordão”, pontua.
“Teve single tracks técnicos, trechos mais rolados e divertidos, tudo na medida certa. Eu tive um probleminha mecânico logo na largada, mas consegui resolver e acelerei fundo para tentar alcançar as outras bikes. Isso deixou a prova ainda mais desafiadora e divertida. Curti demais a vibe”, finalizou Matias.
Quem também elogiou o percurso após a prova em Campos foi Gabriel Isper, que lutará pelo bicampeonato em 2025. “Achei sensacional (a prova). A dosagem quilometragem versus altimetria foi perfeita para as bikes elétricas. Acertaram de mão cheia”, diz.
“Uma prova com muita quilometragem, altimetria, onde você tem que andar economizando bateria, tira a graça de você não poder usar toda a potência da bicicleta. E outro ponto que acertaram: as bike elétricas tem muito recurso de pneu, suspensão, geometria, canote retrátil, então é uma bicicleta muito voltada para a gravidade, para descidas técnicas. Então provas de e-bike tem que ser assim”, afirma Isper.
“E o RMG foi exatamente assim, com um percurso que teve mais de, sei lá, 70% ou 80% de single tracks, apenas alguns deslocamentos de subida com ruas de terra, o resto foi tudo de single tracks cascudos, trilhas bem técnicas e ainda mais que choveu. Então isso deixou a prova mais técnica, como uma prova de e-bike tem que ser. O feedback real é que foi a prova de e-bike mais legal que eu já participei”, arremata o atleta.