Dieta saudável? Hahahaha

Por Gordy Megroz

COMO ATLETAS, as norte-americanas Renée Tomlin, de 28 anos, e Kirsten Kasper, de 25, são incrivelmente parecidas. Parceiras na equipe de corrida em pista e cross-country da Universidade de Georgetown, em Washington, elas suportam a mesma rotina brutal de treinos. Dois anos e meio atrás, ambas começaram a competir em triathlons olímpicos. Mudaram-se para San Diego, na Califórnia, para treinarem juntas, e no ano passado as duas foram convocadas para a equipe de triathlon dos EUA. Desde então vêm obtendo resultados surpreendentes – Renée conquistou uma vitória na Copa Mundial na Hungria e Kirsten ganhou algumas medalhas ao longo do ano passado. Mas existe uma grande diferença entre elas: a dieta.

Kirsten se alimenta com as comidas que seriam de se esperar para um atleta profissional: aveia, iogurte, carnes brancas, vegetais e quinoa. “Nos lanchinhos, como bolachas de arroz”, conta ela. Já Renée não é tão regrada. Muitas das comidas que fazem parte de seu treinamento podem ser encontradas na geladeira de estudantes universitários: cachorro quente, donuts, cerveja e milk-shakes. “Batatinhas são um ótimo alimento para recuperação”, diz.

A sabedoria convencional nos leva a acreditar que Renée poderia melhorar sua performance esportiva se simplesmente mudasse o que ela ingere. Mas pesquisas recentes estão mostrando que os alimentos afetam cada pessoa de um jeito diferente, e isso depende de inúmeros fatores – incluindo nossos genes. Os resultados têm levado ao surgimento de uma série de novas empresas especializadas em dietas personalizadas, incluindo as norte-americanas DNAFit, a Nutrigenomix e a Vitagene. Uma das mais intrigantes dentre elas é a Day Two, uma empresa lançada no ano passado em parceria com o imunologista Eran Elinav e o cientista da computação Eran Segal. Os pesquisadores, ambos do Instituto de Ciência Weizmann em Israel, são os primeiros a basear a dieta de seus clientes a partir das bactérias intestinais de cada indivíduo.

Entre 2013 e 2015, Elinav e Segal monitoraram mil pessoas ao longo de uma semana e observaram como seus níveis de glicose no sangue – a quantidade de açúcar retirada dos alimentos e transportada pela corrente sanguínea para fornecer energia às células – foram afetados pelo que elas comiam. Se os níveis de açúcar no sangue de uma pessoa estiverem muito baixos ou muito altos, elas não conseguem um bom desempenho físico, independentemente de estarem trabalhando sentados diante do computador ou correndo uma prova de 10K.

Elinav e Segal observaram tendências que batiam com suposições prévias – mais carboidratos em uma refeição geralmente aumentam os níveis de açúcar no sangue do paciente, e mais gorduras os reduzem. Porém também descobriram uma significativa variabilidade de uma pessoa para outra. “Alguns indivíduos podem comer uma tigela de sorvete ou um pedaço de pizza e ter respostas muito pequenas da glicose no sangue”, explica Segal. “Também descobrimos que alimentos como o arroz, nessas mesmas pessoas, pode aumentar consideravelmente os níveis de glicose no sangue”. Além disso, Elinav e Segal conseguiram identificar 137 biomarcadores que parecem determinar como um indivíduo pode responder a alimentos específicos, incluindo o colesterol, a atividade física e, principalmente, a flora bacteriana intestinal.

Como parte de sua pesquisa, a dupla desenvolveu um algoritmo para prever quais alimentos causam os maiores picos de açúcar em um indivíduo. Os clientes da Day Two enviam uma pequena amostra de fezes, que é analisada para determinar que micróbios contém. “Descobrimos que a análise do microbioma prevê muito bem quais alimentos irão causar respostas de glicose”, explica Segal. Com base nisso, a empresa gera um aplicativo de nutrição personalizado que recomenda refeições específicas para ajudar o cliente a manter os níveis normais de açúcar. O serviço custa US$ 399 por seis meses.

Nem todo mundo concorda que a correlação entre as criaturinhas no seu estômago e o que você deveria estar comendo para obter o melhor desempenho possível seja tão simples e direta. “Não consigo pensar em qualquer outra situação na qual a complexidade do microbioma possa prever uma resposta fisiológica relativamente básica como a elevação da glicose no sangue”, diz David Jenkins, professor de ciências da nutrição da Universidade de Toronto, no Canadá. David acredita é preciso mais pesquisas em uma série de valores gastrointestinais, e não somente a microflora.

Ainda assim, se esses métodos se provarem válidos, um algoritmo de nutrição pode ter enormes implicações para o modo como os atletas lidam com a nutrição esportiva, e isso inclui de esportistas de fim-de-semana a craques profissionais.

“Esse tipo de informação permitiria que nós adaptássemos as refeições de forma customizada para cada atleta”, explica Pratik Patel, diretor de nutrição esportiva da Universidade de Oregon. “Nós saberíamos quais alimentos um esportista pode ingerir para manter os níveis de energia elevados e quais alimentos devem ser evitados para evitar um pico e em seguida uma queda.”

Isso pode significar descobrir que, por exemplo, géis esportivos de carboidrato não são bons para muita gente. Para algumas pessoas, diz Pratik, esses produtos podem não causar uma resposta suficiente do açúcar no sangue. Para outros, a resposta pode ser intensa demais. “Essa informação pode permitir que as pessoas comam apenas arroz em vez de usar um produto esportivo como padrão”, explica. “Também pode levar empresas a criarem produtos com diferentes tipos de carboidrato para atender às necessidades individuais.”

Ainda é muito cedo para determinar a eficácia da abordagem baseada no microbioma da Day Two. Mas alguns atletas já estão adaptando suas dietas de acordo com a resposta de açúcar do sangue. Mais de 25 equipes esportivas profissionais nos EUA usam o Inside Tracker, um teste sanguíneo que analisa até 40 biomarcadores, incluindo níveis de glicose no sangue e deficiências vitamínicas, e que faz recomendações nutricionais com base em grande parte nesses resultados.

Por enquanto, a maioria dos especialistas em desempenho esportivo – incluindo a Exos, a companhia de Phoenix, nos EUA, que trabalha com jogadores profissionais de futebol e de futebol americano, entre outros – continua recomendando para a maioria de seus atletas a proporção clássica de 2:1 para carboidrato e proteína.

Isso não quer dizer que o movimento na direção da personalização da dieta não deixe atletas como Kirsten Kasper animados. “Se isso mostrar que o que devo comer para obter meu melhor desempenho é sorvete, seria fantástico”, diz. “Eu adoro sorvete!”







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