Cuca fresca

Quando a norte-americana Blair Braverman começou a pilotar trenós puxados por cães no Alasca, há 10 anos, ela sonhava com um passeio “limpo”, onde ela não tivesse que enfrentar nenhum problema. Mas eles continuavam aparecendo: o trenó quebrava em dois com os 14 huskies atrelados a ele, ou as cordas se emaranhavam, os cachorros caíam em um rio, ou uma tempestade se aproximava de repente. Com o tempo, Blair aprendeu que seu esporte é, por natureza, uma escola de gerenciamento do caos.

Hoje em dia, são poucas as vezes em que Blair sente que está em apuros ao sair com os cães, mas não porque não há mais problemas, e sim porque ela aprendeu a controlar suas emoções frente aos perrengues encontrados. “Basicamente, parei de enxergar problemas – mesmo problemas perigosos – como desastres e comecei a encará-los como uma parte de estar na natureza selvagem”, diz Blair. “Quando se passa muito tempo na natureza, mais cedo ou mais tarde é necessário lidar com crises, mesmo estando muito bem preparado. Quando as coisas fogem do controle, confie em você mesmo para encarar a situação. Estas são algumas lições que aprendi para manter a cabeça fria nas horas mais difíceis”:

  1. Há sempre solução. Diga isso em voz alta até acreditar. Se você disser a si mesmo que está encurralado, então estará. Mas você não está. Existe uma solução – provavelmente existem mais de uma. É apenas uma questão de encontrar a melhor delas.

2. Você não precisa de algo que não tem. Você está perdido na floresta, está chovendo muito, e você não tem um abrigo? Diga a si mesmo “Eu não preciso disso”. Claro que isso não é totalmente verdade, mas pode te ajudar a encarar a realidade de uma maneira mais eficiente. Liste o que você tem de disponível, sejam equipamentos ou habilidades. Só isso importa neste momento. É isto que vai te ajudar a sair dali.

3…Mas sempre leve o básico com você. O que é “básico” vai depender do clima, mas para sair com o trenó de cachorros eu tento sempre levar algo quente, algo impermeável, comida, fósforos, lacres de plástico e corda. Já perdi a conta de quantas vezes consertei (temporariamente) o trenó com lacres plásticos e improvisei polias com a corda, e agora nem penso em sair de casa sem eles. Também é importante adaptar o seu kit básico de acordo com a situação. Depois de uma época encontrando muitos lobos no caminho, comecei a levar comigo uma buzina de ar comprimido, para conseguir espantar os lobos e os meus cães em caso de briga (ou de sexo intra-espécies).

4. Conheça seus ponto fortes. Gosto de separar os problemas em dois tipos: os em “câmera lenta” e os “rápidos”. Basicamente, a diferença entre eles é a quantidade de tempo que você tem para resolvê-los. Se você está caindo de um penhasco, é um problema rápido. Você tem segundos para reagir e provavelmente vai reagir por instinto. Se você está perdido no meio de uma montanha, é um problema em câmera lenta. Você tem tempo para pensar no que fazer. A maioria das pessoas costuma ser melhor em um destes tipos de problema. Se você é melhor com problemas rápidos, aprenda a agir rapidamente ao invés de ficar paralisado pelas opções. Eu sou melhor com problemas lentos, então meu primeiro objetivo em um momento de crise é pausar a situação tempo suficiente para respirar fundo e pensar.

5. Aceite o desconforto temporário. A melhor solução nem sempre é confortável. Mas se você está perigosamente frio, é melhor se trocar e colocar roupas térmicas do que permanecer dentro do seu saco de dormir, por mais que doa sair dele em primeiro lugar. Se a maré está subindo, é melhor enfrentar a água agora do que ter que nadar – ou se afogar – depois.

6. Suas coisas não vão te salvar. Quanto mais dinheiro as pessoas gastam com equipamentos, mais acham que podem confiar nele, o que é um erro enorme. Confie nos seus sentidos primeiro, e no seu equipo em segundo. Se você não tem habilidade suficiente para ir para a montanha com um casaco de lã e um isqueiro, não ficará mais seguro com uma jaqueta de plumas e um fogareiro de ponta. Pense no seu equipamento chique como uma fonte de conforto e conveniência, não segurança.

7. Aprenda com o que não aconteceu. Em casa, pense na experiência que você acabou de viver. Pergunte o que você poderia ter feito para prevenir problemas e como poderia ter lidado com eles de maneira mais eficiente. Pense em soluções possíveis para situações semelhantes. O que você teria feito se estivesse chovendo? Ou se tivesse perdido sua mochila ou quebrado a perna? O objetivo não é se auto-flagelar, mas sim tornar as coisas mais suaves para uma próxima vez.







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