Cada vez mais pessoas se inscrevem para correr ultramaratonas – mesmo em meio a noticias que alertam sobre os perigos, dificuldades e o extremo cansaço físico típicos da modalidade. E quando falamos em cansaço físico, e extremo, é preciso levar essas palavras a sério: participar de uma corrida desse tipo exige passar noites em claro e cronometrar detalhadamente o tempo para comer, descansar e até para as necessidades fisiológicas. Não é raro que ultramaratonistas não parem de correr para fazer xixi, por exemplo.
John Stocker é um desses corredores, citados pelo The Guardian. Ele cruzou a linha de chegada da ultramaratona de Knettishall Heathe, em Suffolk, no dia 5 de junho depois de três dias e meio sem dormir, depois de correr mais de 337 milhas (o equivalente a 542 km).
“A única razão de eu fazer esses ultramaratonas é mostrar aos meus filhos que eles devem tentar alcançar o máximo que puderem, e não ouvir de ninguém que não podem fazer algo. Isso é o que me faz continuar”, afirmou.
Um relatório divulgado em maio mostrou um aumento de “ultrarunning” cresceu de 345% na participação global em corridas extremas nos últimos 10 anos, com milhares de eventos ocorrendo anualmente. Enquanto isso, a participação nas corridas de e 5Ks, que eram campeãs absolutas de participação, diminuiu desde 2015. Já a participação em maratonas se manteve estável.
O boom das ultras
“Foi uma explosão. Quando vim para o ultrarunning há cerca de 14 anos, fiz uma pesquisa no Google e encontrei cerca de 60 corridas. Agora estimamos que haja provavelmente cerca de 10 mil ”, disse Steve Diedrich, fundador do site Run Ultra.
Adharanand Finn, autor do livro de The Rise of the Ultra Runners, completou: “Com a maior procura, dizer às pessoas que você correu (apenas) uma maratona já não é mais tão impressionante. Essas corridas tão épicas e enormes, e é fácil ser seduzido por isso”, opina o escritor e ultramaratonista.
Para se ter um exemplo da grandiosidade das provas, podemos citar a Marathon des Sables, com duração de seis dias e 251 km através do Saara, e a Montane Spine Race, cobrindo 431 km de distância.
Em Suffolk, os participantes tiveram que correr uma rota de 4,167 milhas (7km) a cada hora, até que não pudessem mais continuar. Se os corredores terminarem a volta mais cedo, eles podem fazer uma pequena pausa para dormir, comer e usar o banheiro antes de voltar para a linha de partida.
“É como o Dia da Marmota. Porque você volta para a tenda e tem alguns minutos e, de repente, é o seu próximo loop, tudo começa de novo ”, disse Stocker. “Eu ainda tenho pesadelos agora deles soprando o apito repetidamente”, contou Stocker.
Mesmo diante de toda a dificuldade, ele bateu, ao lado de Matthew Blackburn, o recorde mundial do evento, que pertencia a Karel Sabbe, um dentista belga que correu 312,5 milhas (502 km) em 75 horas em outubro. Agora, a dupla irá para o Tennessee para participar do ultra campeonato mundial de quintal e competir contra os melhores em campo.
Riscos e tragédia recente
“Ao longo da história da modalidade houve problemas com inundações, exposição ao frio, exposição ao calor, uma variedade de tudo, dependendo do local, mas as mortes ainda são muito raras. Correr ultramaratonas significa, sim, alguns perigos”, diz Diedrich. Entretanto, em seus 35 anos de história, ele conta que duas pessoas morreram participando da Maratona Des Sables.
As corridas não são isentas de riscos. A comunidade ainda está se recuperando da morte de 21 corredores em uma ultramaratona na China no mês passado, depois que ventos fortes e uma chuva congelante atingiram o percurso e os participantes. O país suspendeu todas as corridas de longa distância e está em andamento uma investigação sobre a tragédia.