Encontrados após 16 anos

Alex Lowe e Conrad Anker em 1995. (Foto: Chris Noble/Alex Lowe Charitable Foundation)

Conrad Anker, seu parceiro de escaladas, e Jenni Lowe-Anker, a viúva, falam sobre a descoberta dramática, mais de 16 anos após Alex e o escalador David Bridges terem desaparecido sob uma avalanche no Himalaia

Por Grayson Schaffer

No dia 5 de outubro de 1999, uma avalanche na parte mais alta do monte Shishapangma, no Nepal (8.012 metros), arrancou a face sul da montanha, matando os escaladores norte-americanos Alex Lowe, de 40 anos, um dos melhores montanhistas de sua geração, e David Bridges, 29, cinegrafista que acompanhava a expedição.

Alex, David e Conrad Anker, o melhor amigo e parceiro de escaladas de Alex, estavam estudando a região para tentar esquiar desde o topo da montanha por um corredor, um objetivo que teria feito de seu grupo o pioneiro entre norte-americanos a esquiar um pico de 8.000 metros.

Quando a avalanche atacou, Conrad correu para a esquerda, enquanto Alex e David correram para baixo e para a direita. Conrad foi parcialmente soterrado, quebrou uma costela e teve sua cabeça aberta por pedaços de gelo que voaram em sua direção. Mas ele ainda podia andar. Mais abaixo, outros esquiadores que estavam na expedição conseguiram desviar da avalanche. Ao lado de Conrad, passaram os dois dias seguintes procurando Alex e David. Porém não acharam sequer uma luva.

“Da minha perspectiva, só vi uma imensa nuvem branca. Quando ela assentou, não havia nada lá”, disse Conrad por telefone, ao voltar de uma temporada no Nepal junto com Jenni, no dia 29 de abril.

Conrad começou a ajudar Jenni, a viúva de Alex, a criar seus três filhos, Max, Isaac e Sam, em Montana. Os dois, dividindo o luto por Alex, logo se apaixonaram e se casaram em 2001. A história foi o assunto de um livro escrito por Jenni Lowe-Anker e mostrada no documentário Meru, que estreou no ano passado.

Agora a morte de Alex Lowe parece ter um desfecho definitivo. Na semana passada, no dia 27 de abril, 16 anos, seis meses e 22 dias após terem desaparecido, os corpos de Alex e David foram encontrados pelos alpinistas Ueli Steck, 39, e David Goettler, 37. Os dois estão tentando escalar uma nova rota na face sul do Shishapangma neste outono.

“Acho apropriado que os corpos tenham sido encontrados por escaladores profissionais”, disse Conrad. “Não foi um pastor, não foi alguém fazendo uma trilha. David e Ueli são o mesmo tipo de gente que eu e Alex.”

“Nunca tinha entendido que o degelo seria tão rápido”, disse Jenni. “Pensei que não veríamos os corpos enquanto eu estivesse viva.”

O monte Shishapangma, no Nepal (Foto: mountainsoftravelphotos.com)
O monte Shishapangma, no Nepal (Foto: mountainsoftravelphotos.com)

Conrad e Jenni passaram a maior parte do outono (primavera, no hemisfério sul) na região do Khumbu, no Nepal, trabalhando no Khumbu Climbing Center (KCC), um projeto da fundação de caridade Alex Lowe. Quando estavam se preparando para voltar para casa, o telefone tocou. Era David Goettler querendo confirmar a identidade dos dois corpos encontrados parcialmente derretendo.

“Ele disse que tinha achado dois corpos”, disse Conrad. “Eles estavam próximos um do outro, com mochilas da The North Face vermelha e azul. Botas amarelas. Todo o tipo de equipamentos que tínhamos naquela época. E eram praticamente os únicos dois escaladores que estavam lá.” Conrad ainda não viu fotos, e ainda não foram feitos testes conclusivos, mas ele já está convencido. “Temos quase certeza que são eles.”

Diferentemente do que acontece com alguns corpos  encontrados nas alturas do Everest, os  de Alex e David estão em um lugar onde poderão ser resgatados (o corpo de Scott Fischer, uma das vítimas da tempestade de 1996 que deu origem a No Ar Rarefeito, continua na montanha de acordo com o desejo de sua família).

Conrad, Jenni e os três garotos, agora crescidos, estão planejando ir até o Tibete durante as monções de verão, no meio do ano. Eles recuperarão os corpos (ainda não entraram em contato com a família de David Bridges) e provavelmente os levarão até Nyalam, no Tibete, a cidade mais próxima, para uma cerimônia. “A coisa certa a fazer é cuidar dos corpos de acordo com as tradições locais. Eles ainda estão presos no gelo”, disse Conrad.

“É claro que não é uma coisa pela qual anseio. Ver o corpo de alguém que amei e com quem me importei. Mas há uma sensação de que agora podemos deixá-lo descansar, não é só que ele desapareceu”, disse Jenni.