Coronavírus: 11 dúvidas sobre treino e viagens na quarentena

Por Redação

treino e viagens na quarentena
Imagem Shutterstock

Afinal, pode sair para o treino de corrida? E a academia, está na hora de dar uma pausa? Com a crise de Covid-19 se espalhando em ritmo exponencial no Brasil, estas dúvidas sobre treino e viagens na quarentena são importantes e urgentes. A pandemia deve levar meses para ser controlada pelo mundo todo, e isso implica em uma mudança de hábitos, como lavar as mãos com mais frequência e evitar cumprimentar com beijando ou tocando o outro. Nos períodos críticos que os países estão enfrentando, a quarentena e o isolamento podem ser necessários em muitos países, como fizeram Itália, Espanha e França, seguindo o exemplo da China. Ao mesmo tempo, é importante manter a sanidade mental e o máximo de normalidade na rotina. 

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Conversamos com o imunologista Fernando Bizarria, à frente da clínica Multiclinic em Caçapava (SP) e o Centro de Especialidades São Francisco Vida, em Jacareí (SP), atendendo também pelo SUS. “Em comparação a outros países mais desenvolvidos, aqui no Brasil não tem estrutura nenhuma para receber uma emergência desse porte”, afirma. Por isso, ele aposta que vale a pena ser um pouco mais conservador e adaptar os treinos outdoor para evitar uma situação mais crítica.  

Um atleta pode estar mais sujeito ao vírus? É recomendado pegar mais leve agora?

Enquanto e emergência sanitária não estiver controlada (ou seja, enquanto o número de novos casos não estabilizar e começar a cair), é melhor evitar atividades que exijam demais do corpo. “Atividade física em grau moderado é imunoestimuladora; ou seja, aumenta a imunidade. Pode manter treino e viagens na quarentena, mas a atividade muito forte, desgastante, pode ser imunosupressora”, explica o médico. Atletas profissionais, por exemplo, apesar de terem bons indicadores de saúde, estão mais sujeitos a baixas de imunidade por conta das altas exigências do esporte ao organismo. Se você tinha treinos extenuantes planejados para as próximas semanas, pode ser uma boa ideia adiá-los e focar em manter seu condicionamento. Nesse momento, o acompanhamento nutricional e esportivo ajuda a manter o equilíbrio e evita uma queda na imunidade.

Posso praticar atividades sozinho, como correr numa trilha vazia e isolada ou pedalar sozinho?

“Isso varia muito do local onde a pessoa está. Nos estados de São Paulo e do Rio de Janeiro, não é mais a orientação”, explica Fernando. Obviamente que a possibilidade de transmissão fazendo uma atividade sozinho num lugar arejado é menor, mas ainda existe se houver outros casos próximos, mesmo que não diagnosticados. Além disso, uma pessoa infectada mas sem sintomas pode ajudar na disseminação. Para quem está numa região mais populosa ou quem mora em centro urbano e para chegar ao parque precisa pegar metrô, elevador, tocar em maçanetas, corrimãos de escada, está sujeito ao vírus. Então, avalie se você está numa região sem casos, escolha horários e locais mais vazios e tome sempre o cuidado de pelo menos de um a dois metros de outras pessoas. 

Posso ir para a praia? E surfar num lugar sem crowd?

Treino e viagens na quarentena em si não são um problema, mas as aglomerações sim. “Uma praia cheia é um contato muito grande. No momento de pandemia, a orientação é evitar ao máximo a exposição. Sair só para comprar o necessário: alimentos, produtos de higiene pessoal. Uma atividade física num local com mais pessoas e que pode ser adiada não é recomendado”, explica Fernando. Se tiver acesso a uma praia vazia, redobre os cuidados com superfícies compartilhadas: cadeira de praia, canga. O coronavírus se transmite por superfícies e pode sobreviver de horas a dias ao ar livre. 

Como ficam os treinos em grupo?

Mesmo antes de recomendações oficiais das autoridades de saúde, assessorias esportivas e academias já estão cancelando aulas coletivas e até mesmo fechando as portas. “A recomendação é evitar atividades em grupo, evitando a exposição para não ter disseminação. Vale lembrar que o problema não é só pegar o vírus, é transmitir – esse é o pior risco dos treino e viagens na quarentena. Então se você corre na rua com seu namorado, e vocês estão contaminados, são dois disseminando o vírus”, diz o imunologista. Dentro de casa é outra história: parceiros e familiares que dividem a mesma casa podem treinar juntos se ninguém tem sintomas e nem suspeita de contágio. 

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Limpar os aparelhos da academia com álcool antes de usar é suficiente para impedir a contaminação?

Não. Além do contágio por superfícies, o vírus sobrevive no ar. Então um ambiente fechado e sem filtragem do ar – caso da maior parte das academias – é de alto potencial de disseminação. “Nos estados de SP e RJ as academias já estão fechadas”, diz o médico. Em zonas onde não há casos diagnosticados, pode estar havendo transmissão comunitária entre pessoas assintomáticas. Ou seja, as pessoas estão se contaminando e transmitindo o vírus, mas podem não estar sendo testadas. “Continuar a ir à academia na situação atual significa que você pode estar criando um ambiente de transmissão com sua atitude”, alerta. Se você tiver acesso a um ambiente de treino arejado, com circulação mais restrita, álcool gel, esterilização e limpar os equipamentos diminuem bastante o risco de transmissão. “O ideal mesmo é adaptar para um treino em casa, como um treino funcional. Não é alarmismo: a doença já chegou e é um momento de muita atenção. As medidas precisam ser tomadas agora, porque isolamento é preventivo”, explica Fernando. 

Posso treinar com outra pessoa, respeitando um metro de distância entre nós? 

Na Itália, os primeiros decretos de segurança não atividades físicas ao ar livre, desde que mantido um metro de distância de outra pessoa. Mas com o agravamento da situação, tanto a Itália quanto outros países estão recomendando não sair a não ser que estritamente necessário. Aqui, não há restrições oficiais, mas se sair, prefira ir sozinho a ir em dupla. A situação de contágios já é alarmante em grandes centros e pode rapidamente mudar para pior em outros estados e no interior. O isolamento também tem função preventiva.   

É preciso reforçar a limpeza da casa e de equipamentos de treino? 

O coronavírus sobrevive em superfícies por horas e até dias. Portanto, reforçar a limpeza de casa é uma ótima prevenção. “Foque principalmente onde tocamos o tempo todo: porta, maçanetas, porta da geladeira, janelas, interruptores. Todos os lugares que tocamos com frequência deve ser limpo com álcool ou desinfetante”, explica o imunologista. Um estudo do Rocky Mountain Laboratories em Hamilton, no Estado de Montana, aponta que o vírus pode sobreviver em gotículas por até três horas após ser expelido no ar por uma tosse. A mesma pesquisa indica que os coronavírus podem ser neutralizados em um minuto ao se desinfectar superfícies com álcool 62-71%, água oxigenada 0,5% ou água sanitária contendo 0,1% de hipoclorito de sódio. A lavagem de roupas de cama, toalhas e roupas pode seguir uma rotina normal: detergente líquido ou sabão em pó tem capacidade de neutralizar o vírus também. 

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Posso viajar para lugares mais isolados, como ir para a montanha?  

“Se a pessoa sai de um grande centro e vai para um lugar isolado sem estrutura e recursos, ela pode levar o vírus para lá e causar um estrago muito grande na população local. Neste momento, o risco destas viagens é principalmente para essas populações locais, porque você vai ter algum contato local com uma população despreparada do ponto de vista de hospitais e estrutura médica”, explica Fernando. Se você tem a possibilidade de passar um período maior em isolamento voluntário em um lugar como um sítio, deve tomar alguns cuidados. Evite transporte público, use álcool gel e luvas nas interações como paradas para comer ou abastecer o carro. Se tossir ou espirrar, cubra a boca com um lenço descartável ou o braço, e evite contato: abraço, beijo, aperto de mão. Não compartilhe objetos, não pegar objetos dos outros, como celular, chaves. 

Quem tem férias chegando precisa desmarcar? 

“É melhor adiar planos para os próximos 2 ou 3 meses, pelo menos até a estabilização da pandemia”, orienta Fernando. Além do alto risco de transmissão do coronavírus, é totalmente imprevisível saber se serviços de infraestrutura turística estarão abertos ou fechados. Fronteiras também podem fechar, assim como podem ser implementadas restrições de locomoção dentro de países ou regiões, dificultando a logística de treino e viagens na quarentena.

Qual o efeito prático de reforçar a imunidade?

“Seguir as orientações de melhora na imunidade, como qualidade do sono e da alimentação, tem efeitos muito práticos. São cuidados perceptíveis no eixo-neuro endócrino imunológico da pessoa: isso significa que ela combate mais rápido uma ameaça como o coronavírus, e as chances são maiores dos sintomas serem menos agressivos e passarem mais rápido”, diz o imunologista. Alimentação saudável ajuda muito: frutas, verduras, legumes, e suplementos naturais como cúrcuma e própolis são ótimos, de acordo com o médico.

Existe algum remédio contraindicado?

De forma geral, o ideal é não se automedicar. Mas a OMS alerta em especial contra o uso de ibuprofeno – bastante usado por atletas para combater inflamações. O porta-voz Christian Lendmeier informou em uma coletiva de imprensa que a organização recomenda paracetamol e não ibuprofeno. Em diversos hospitais, surgiu uma suspeita que ele agrave os sintomas respiratórios do paciente de Covid-19. Enquanto as pesquisas não mostram evidências mais definitivas, o melhor é evitar o uso de remédios anti-inflamatórios não-esteroides como o ibuprofeno ou o buscopan em caso de suspeita de contágio. 

 







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