Estudos recentes apontam a viagem como uma forma de aumentar sua longevidade. Como se precisássemos de mais uma desculpa para pegar a estrada.
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Se não fosse pelas viagens, Margie Goldsmith, de 80 anos, diz que já teria morrido pelo menos três vezes. Há dez anos, a autora e escritora de viagens passou por uma cirurgia arriscada para tratar um câncer de pâncreas. Dois anos depois, o câncer voltou. Alguns anos mais tarde, Goldsmith foi diagnosticada com câncer de pulmão. Ela sobreviveu a tudo isso, e tem certeza de que foi porque é uma viajante do mundo há 50 anos.
Se você está cético, será perdoado. Afinal, viajar pelo mundo raramente é uma receita para quem está doente ou debilitado. Mas pesquisas recentes sugerem que viajar e fazer turismo podem ter impactos poderosos na saúde e até na longevidade.
Viagem e longevidade: Como as viagens ajudam a desacelerar o envelhecimento
De acordo com um artigo publicado recentemente por Fengli Hu, doutoranda na Edith Cowen University, em Perth, Austrália, viajar pode ser uma ferramenta poderosa para desacelerar o processo de envelhecimento. A principal teoria de Hu é relativamente simples: muitas práticas recomendadas por médicos e especialistas em saúde mental — como engajamento social, apreciação da natureza, caminhadas e aprendizado de coisas novas — são intrínsecas às viagens.
O diferencial da pesquisa de Hu, porém, é criar uma base para pensar nas viagens em termos de entropia. Viajar, segundo ela, é uma maneira de manter um “estado de baixa entropia” — ou seja, um estado de saúde ideal e funcionamento corporal eficiente. Desde a publicação do artigo, dezenas de veículos de mídia cobriram seu trabalho.
Em uma chamada de vídeo com a Outside USA, Hu disse que não esperava tanta atenção, especialmente porque sua pesquisa é apenas teórica neste momento. Ela acabou de começar a configurar os experimentos relacionados, que devem ser concluídos em 2025. Mas o interesse faz sentido.
“Muitas pessoas estão procurando uma maneira de se manter jovens e saudáveis, e viajar pode ser uma forma acessível de melhorar a saúde física e mental, além de desacelerar o envelhecimento”, diz ela. É acessível, segundo Hu, porque não é necessário viajar para lugares caros e remotos para aproveitar os benefícios.
A teoria da entropia vem da física; refere-se à tendência natural dos sistemas de passar de um estado de organização e ordem para um de caos e desordem. A entropia também foi usada como uma estrutura para pensar sobre envelhecimento e doenças. Quando você é jovem e saudável, seus sistemas internos funcionam de maneira suave. Isso é ordem. À medida que envelhecemos, mutações e disfunções celulares se proliferam. Isso é desordem — um estado de alta entropia.
A entropia quase sempre segue uma direção, diz Hu, “mas pode ser mitigada ou desacelerada com certas medidas.” Ser turista, segundo ela, pode ser uma delas.
Viajar — ou seja, fazer viagens relaxantes e focadas em lazer — tem o poder de reduzir o estresse, encoraja o exercício e obriga você a conhecer e socializar com novas pessoas. Tudo isso mantém sua mente ativa e otimiza o desempenho e a eficiência do corpo. Como resultado, Hu acredita que pode ajudar a evitar o declínio físico e mental e, potencialmente, prolongar a vida.
Como viajar alivia o estresse
Goldsmith começou a viajar aos 32 anos, após um divórcio complicado. Ela precisava de algo para tirá-la da depressão e sempre quis ir às Galápagos. Então, foi.
“Dizem que você pode mexer um músculo e mudar um pensamento”, afirma Goldsmith. “Bem, parece que você também pode mudar sua localização e mudar um pensamento.”
A mudança foi revigorante. Desde então, Goldsmith viajou para 149 países. As viagens a tornaram uma pessoa mais generosa e compassiva, diz ela. Também a tornaram mais resiliente.
“Olho para pessoas da minha idade, e elas parecem minha avó”, diz ela. “Elas estão curvadas pela artrite e não se movem. Isso nunca será eu. Viajar te dá uma vida mais ativa, uma vida maior. Isso vai te manter jovem.”
Estudos experimentais parecem apoiar tanto a experiência de Goldsmith quanto a pesquisa de Hu. Um dos mais conhecidos é o Estudo dos Executivos de Helsinque, um experimento de 50 anos com mais de 1.200 participantes finlandeses que preencheram questionários sobre estilo de vida e hábitos entre as décadas de 1960 e 2010. Em um seguimento publicado em 2017, Timo Strandberg, médico e PhD, encontrou uma forte correlação entre tempo de férias e longevidade.
Participantes do grupo de intervenção — mais de 600 homens que seguiram um rigoroso regime de saúde e nutrição nos primeiros anos do estudo — tiveram 37% mais chances de morrer antes dos 75 anos se tirassem menos de três semanas de férias por ano. Aqueles que tiraram mais de três semanas viveram mais. Por quê?
“Esses homens que tiraram menos férias eram mais vulneráveis psicologicamente ao estresse”, disse Strandberg em uma chamada de vídeo com a Outside USA. Esse estresse incluía obrigações familiares e de trabalho, além da pressão adicional para manter um regime estruturado de saúde e fitness. Tirar mais férias parecia beneficiar os participantes, provavelmente ajudando a controlar o estresse, diz Strandberg.
Surpreendentemente, a quantidade de tempo de férias que os participantes tiraram pareceu não ter correlação com a longevidade no grupo de controle — aqueles que não receberam uma rotina de saúde e exercícios para seguir. A conclusão? Impor a si mesmo regras e rotinas extras pode ser estressante, independentemente da intenção. E quanto mais estresse, obrigações e regimes prescritos você tiver na sua vida, mais essenciais as férias podem se tornar. (Fanáticos por exercícios, estamos falando com vocês.)
O caso para férias mais frequentes
O estresse, de qualquer tipo, pode ter efeitos negativos cumulativos.
“Uma teoria é que o estresse agudo — que pode ser bom e saudável para evitar perigos — pode se transformar em estresse crônico”, disse Strandberg. “Isso se manifesta biologicamente em diferentes marcadores no corpo.” Uma férias pode agir como um reset, reduzindo sua carga total de estresse a níveis saudáveis.
Strandberg recomenda várias viagens curtas ao longo do ano, de quatro a cinco dias, em vez de uma única viagem longa de três semanas. Assim, você mantém o estresse sob controle continuamente.
A curadora de viagens Kiki Keating, de 62 anos, é uma defensora de viagens frequentes. Recentemente, ela caminhou 145 km pela costa portuguesa e viaja anualmente com sua mãe de 86 anos. O planejamento dessas viagens, ela acredita, proporciona propósito e resiliência.
Goldsmith compartilha dessa visão. Após uma perigosa cirurgia no pâncreas, foi o sonho de viajar que a manteve motivada. Ao se recuperar, a primeira coisa que fez foi viajar.
Viagens mantêm a mente ativa
Mas você não precisa estar em idade avançada para se beneficiar de viagens frequentes. Keating também observou como isso impacta a maneira como seus filhos adultos enfrentam desafios e lidam com o estresse.
“Viajar ajuda você a ficar mais relaxado ao se adaptar a algo novo”, diz Keating. “Quando você vai a um lugar com uma cultura nova e uma língua que não fala, pode parecer difícil no começo. Mas, depois de um ou dois dias, você pensa: ‘Ah, eu pego esse metrô, sigo essa linha vermelha e vou até a linha azul, sei como dizer olá, e aqui é onde eu gosto de comer.’ Você se lembra de que pode aprender coisas novas e se adaptar, e isso te dá confiança.” Hoje, ela diz, seus filhos — todos viajaram com ela quando eram mais jovens — são bons em lidar com adversidades. Essa é uma ferramenta que eles usarão pelo resto da vida para minimizar o estresse, e isso pode trazer grandes benefícios em termos de bem-estar.
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Não se trata apenas de estresse. Um pequeno estudo de 2018, conduzido por Craig Anderson, bolsista de pós-doutorado da UC Berkeley, nos EUA, mostra que experimentar sentimentos de admiração pode melhorar a saúde mental. Outras pesquisas, incluindo um estudo de 2023 que acompanhou mais de 6.700 idosos, indicam que viajar também pode amenizar o declínio cognitivo. A estimulação mental — como aprender novos idiomas e visitar museus — demonstrou reduzir o risco de demência em até 47%.
Stephanie Pearson, escritora de viagens, destaca que não é preciso ir longe para colher os benefícios: “A curiosidade é o que realmente importa.”