Como atrair mais mulheres para o triatlo, de acordo com elas mesmas

Por Sierra Winters, para a Triathlete/Outside USA

Mulheres no triatlo
Imagem: Freepik

As autoras de uma nova pesquisa sobre triatlo feminino afirmam que a participação feminina em uma prova quase dobra quando a organização investe 1,5% a mais para atender às suas necessidades. Leia o que elas descobriram.

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A SheRACES, em parceria com a Fund Her Tri UK, divulgou uma pesquisa sobre como o esporte pode se tornar mais inclusivo para mulheres no triatlo. A pesquisa, que contou com a participação de mais de 900 triatletas mulheres, reuniu dados sobre como as participantes percebem aspectos do dia da prova, incluindo viabilidade de tempos-limite; disponibilidade de produtos menstruais; presença de estações de lactação; acomodações culturais e religiosas; políticas de adiamento por gravidez; e casos de assédio físico e verbal.

O documento de 63 páginas mistura estatísticas e depoimentos e fornece diretrizes claras para ajudar organizadores de provas a tornarem seus eventos mais acessíveis para um público mais amplo de triatletas.

A SheRACES relata que a participação feminina no triatlo é estimada entre 25% e 40% globalmente, com números decrescentes à medida que as distâncias aumentam. No entanto, a organização também afirma que “o interesse em participar de eventos mais longos existe – as mulheres querem se inscrever em provas mais desafiadoras, mas precisam de confiança para fazê-lo”.

Sophie Power, fundadora da SheRACES, disse à revista Triathlete, da Outside USA, que a pesquisa visa oferecer aos organizadores de provas e conselhos administrativos dicas práticas e acionáveis para ir além do simples marketing direcionado às mulheres e atender ao que as atletas realmente querem e precisam em sua experiência no triatlo.

“As mulheres estão cansadas de serem apenas inspiradas por fotos”, diz Power, acrescentando que, em vez de apenas mostrar às triatletas o que elas poderiam ser, os organizadores devem capacitá-las a superar as barreiras que há tanto tempo existem no esporte.

Prioridades para mulheres no triatlo: segurança e suporte

44% das mulheres entrevistadas preferem ondas de largada exclusivas para mulheres, citando preocupações com a segurança durante a natação. 28% das participantes relataram ter experimentado assédio físico ou verbal durante uma prova, e várias mulheres relataram hospitalizações devido a pilotagem agressiva. Power afirma que isso mostra que a segurança deve ser uma prioridade máxima para os organizadores de provas, sugerindo que todos os atletas sejam instruídos explicitamente antes das competições para alinhar expectativas e incentivar as mulheres a denunciarem quaisquer problemas que enfrentem.

Outra descoberta da pesquisa foi a necessidade de políticas adequadas de adiamento para gestantes e mulheres no pós-parto; 79% das respondentes que engravidaram após se inscrever em uma prova não conseguiram adiar uma ou mais inscrições. Além disso, mulheres de origem muçulmana observaram que a falta de instalações adequadas para troca de roupas, exigências ambíguas em relação aos trajes de natação e a necessidade de expor o braço para tatuagens de prova foram fatores que as desencorajaram a participar de competições.

O que as provas de triatlo podem fazer para serem mais acolhedoras para as mulheres

As recomendações fornecidas pela pesquisa são simples. Por exemplo, Power estima que uma prova grande precisaria gastar, em média, apenas 100 dólares [cerca de 600 reais] para oferecer produtos menstruais em banheiros portáteis, e os produtos não utilizados poderiam ser doados para instituições de caridade após a competição.

Os autores também afirmam que informações detalhadas sobre o percurso podem ser uma adição simples aos sites das provas para ajudar as triatletas a se sentirem mais seguras e confiantes no dia da competição. O relatório da SheRACES recomenda o máximo de detalhes possível: “…mapas do percurso com descrições, tempos-limite indicando o ritmo necessário para cada trecho, quais ondas de largada estão disponíveis, a temperatura provável da água, quais instalações estarão disponíveis, a dinâmica do evento, que suporte será oferecido e respostas às perguntas comuns sobre ‘o que acontece se…?’. Garanta que aquelas que participam do evento pela primeira vez, ou que esperam ficar mais próximas do final do pelotão, se sintam apoiadas e confortáveis para se inscreverem.”

Por exemplo, a Race El Paso, que organiza o triatlo exclusivo para mulheres Mighty Mujer Triathlon, possui um site detalhado e vários vídeos para as participantes, incluindo uma análise do percurso, como demonstrado abaixo.

Nem todas as mudanças precisam ocorrer no local da prova. A pesquisa descobriu que linguagem inclusiva é importante para as mulheres, e os sites das provas, redes sociais e guias do evento podem ser facilmente ajustados para abordar atletas de todos os gêneros. Power também afirma que as provas devem aproveitar ao máximo suas embaixadoras femininas, utilizando suas imagens em materiais de marketing e permitindo que elas se conectem com triatletas iniciantes que possam estar hesitantes em se inscrever para sua primeira competição.

“A decisão comercialmente certa”

Esta não é a primeira vez que a SheRACES realiza uma pesquisa desse tipo. Os resultados de uma pesquisa da organização sem fins lucrativos em 2022, com mais de 2.000 corredoras, levaram ao lançamento de um programa de credenciamento. Power afirma que obter o credenciamento SheRACES não é difícil; exige que as provas assumam nove compromissos, como priorizar a diversidade nas imagens de marketing e proibir explicitamente o assédio.

Além disso, Power afirma que obter o credenciamento é um passo ético e “a decisão comercialmente certa”. Sua organização descobriu que a participação feminina em uma prova de triatlo quase dobra quando a competição gasta 1,5% a mais para atender às necessidades das mulheres e cumprir os requisitos de credenciamento.

Power destaca rapidamente que a pesquisa não deve ser considerada a palavra final sobre o que as mulheres querem e precisam em eventos de triatlo. Enviar uma pesquisa pós-prova é um dos requisitos para que uma competição se torne credenciada pela SheRACES.

“Uma das coisas mais importantes que as provas podem fazer é fazer as perguntas certas”, afirma Power, ressaltando que essas perguntas precisam ser abertas e qualitativas para permitir que as mulheres compartilhem suas histórias em vez de avaliarem eventos complexos, muitas vezes traumáticos, em uma escala de um a dez.

A SheRACES busca apoiar o crescimento das competições de triatlo e reconhece que nem todas as mudanças podem acontecer de imediato. Power nos disse que um dos principais indicadores de uma prova mais equitativa é a presença de mulheres na direção e organização do evento. Portanto, envolver mulheres na conversa em todos os níveis é necessário se o triatlo deseja se tornar um esporte mais diverso.

“Se você tornar a prova atrativa para nós”, diz Power, “nós compareceremos.”

Diretrizes da SheRACES para apoiar mulheres no triatlo

Mais detalhes podem ser encontrados no relatório 2024 SheRACES Triathlon Guidelines.

  • Atraia mais mulheres para a linha de largada com imagens diversas, um compromisso claro com a inclusão, logística abrangente que aborda as preocupações das mulheres, tempos-limite generosos e políticas justas de adiamento por gravidez.
  • Proporcione uma melhor experiência para as mulheres com instalações sanitárias adequadas, políticas flexíveis, equipamentos no tamanho feminino, ondas exclusivas para mulheres e um código de conduta para o comportamento no dia da prova.
  • Valorize igualmente a prova feminina atraindo atletas mulheres na mesma medida, oferecendo “espaço para competir”, garantindo cobertura igualitária da competição e oferecendo prêmios e celebrações pós-prova iguais.