Como a primeira mulher a correr uma maratona impactou o Complexo da Maré

Por Jade Rezende

Como a primeira mulher a correr uma maratona impactou o Complexo da Maré
Carol Barcellos e algumas das corredoras do projeto Destemidas, no Complexo da Maré. Foto: Divulgação

Há 56 anos, a alemã Kathrine Switzer foi a primeira mulher da história a correr a Maratona de Boston oficialmente – um marco na história do esporte feminino que reverbera até os dias de hoje, inclusive no Complexo da Maré, conjunto de comunidades do Rio de Janeiro

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Kathrine Switzer foi a primeira mulher a correr a Maratona de Boston, em 1967. Na época, somente homens podiam participar da prova e a atleta burlou a inscrição e correu de capuz para se esconder. Quando um dos organizadores da corrida percebeu que a alemã estava no meio do pelotão, ele disparou atrás dela e gritou: “saia agora mesmo da minha corrida”. O namorado da corredora empurrou e derrubou o homem – uma cena totalmente registrada por jornalistas. Kathrine finalizou a prova em 4h20min e entrou para história como a primeira mulher a correr uma maratona oficialmente. Somente cinco anos depois, as mulheres foram permitidas a participar da maratona de Boston. 

No marco de 50 anos do feito, em 2017, a jornalista esportiva Carol Barcellos entrevistou Kathrine em Boston e, ao final do bate-papo, agradeceu a ex-atleta pela conversa. Foi quando a alemã disse: “ao invés de apenas me agradecer, você deveria fazer alguma coisa para devolver ao esporte tudo que ele já te deu”. Seis anos depois, o impacto do feito e do conselho de Kathrine ainda reverbera no esporte feminino: Emanuelle Conceição, a Manu, moradora do Complexo da Maré de 27 anos, está prestes a correr a Maratona de Los Angeles pelo Destemidas, projeto criado pela jornalista que trabalha autonomia e empoderamento para meninas e mulheres através da corrida na comunidade carioca.

Manu começou a correr com o Destemidas em 2019 e se apaixonou pela prática. “Eu descobri minha terapia, minha paixão, desbravar novas estradas é minha maior fonte de motivação. Quem diria que um dia eu ia amar tanto correr”, afirmou em suas redes sociais.

Emanuelle Conceição se preprando para o treino. Foto: Divulgação

Emanuelle e Carol Barcellos vão correr 21 km na prova – que é patrocinada pela ASICS – dia 19 de março em parceria com o ASICS Lume Club, plataforma feminina da marca na América Latina. Elas se juntam a um time time que também conta com Adriana Leal (médica pediatra e capitã brasileira do projeto global ASICS FrontRunner); Tiemi Hiratsuka (farmacêutica e ex-participante do reality show “No Limite”); Evânia Cabral (embaixadora ASICS, mãe, e advogada) e Rafa Arlotta (mãe e publicitária, que recentemente mudou sua vida do Rio de Janeiro para São Paulo).

A escolhida para liderar o time como capitã foi Dani Germano, jornalista, embaixadora da marca e responsável pelo canal Zerovinteum, que vai se desafiar nos 42,195 km pela primeira vez. Ela venceu a Síndrome Metabólica ao longo de sua vida e fará parte do ASICS Lume Club pela segunda vez, ela também participou do projeto no Rio de Janeiro em 2022.

O grupo vem se preparando para a prova com treinos especiais no Parque Bruno Covas, em São Paulo, espaço patrocinado pela ASICS que se tornou um ponto de encontro de corredores na capital paulista. Assim, como parte do projeto de incentivar a prática de corrida, alguns treinos também foram abertos ao público em geral.

As atividades são comandadas por Juliana Amaral, mãe e treinadora da assessoria de corrida Filhos do Vento. Já a mentoria fica a cargo de Adriana Silva, atleta ASICS há mais de 10 anos e com um histórico de sucesso na maratona, dois títulos nos Jogos Pan-Americanos, duas participações em Jogos Olímpicos, além de ser a atual recordista brasileira.

Carol Barcellos e Emanuelle Conceição, que começou a correr em 2019 e vai representar o projeto fora do Brasil pela primeira vez. Foto: Divulgação

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Tirando ideias do papel

Levar uma mulher da Maré para correr em Los Angeles é uma grande conquista do Destemidas, que este ano completa cinco anos de existência – mas Carol lembra que não foi sempre assim. Tirar projetos voluntários do papel demanda tempo, paciência e, às vezes, investimento próprio. “Só conseguimos começar a captar verbas depois de dois anos que o Destemidas já estava andando”, conta a idealizadora do projeto que hoje tem apoio do Ministério do Esporte. “Antes disso, foi muito tempo pedindo, indo atrás de parcerias, como ligar para a Marina da Glória e perguntar se eles poderiam ceder um local para treino”. 

A “matéria-prima” principal, porém, é a vontade de fazer dar certo. “É muito mais uma questão de desejo, porque você vai trabalhar e não vai receber – pelo menos no começo, é um trabalho, e não um emprego”, afirma Carol. Mas deparar-se com resultados faz tudo valer a pena. A jornalista diz que se orgulha de ver Manu se preparando para a Maratona de Los Angeles e tendo apoio de outras mulheres da Maré nos treinos. “Não tem nada mais forte e representativo ali dentro do que elas se ajudarem”, diz.

Manu afirma que teve a vida transformada com a corrida e a parceria do Destemidas com a ASICS. “A oportunidade que esse projeto está me dando é um divisor de águas, hoje eu consigo falar o quanto eu corro, saio da zona de conforto”, afirmou em suas redes sociais. “Coragem, afeto, luz, amizade, dedicação e uma boa dose de ousadia me fizeram crescer ao longo desse ciclo”, completa.







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