Para elas, treinar para uma meia maratona foi a melhor preparação para a felicidade conjugal.
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O dia do casamento das norte-americanas Shelbie Turner e Kara McElvaine teve uma atmosfera decididamente festiva. Houve muitas palmas, bastante música e familiares orgulhosos de perto e de longe.
Também foi bem suado e contou com mais de 15.000 participantes. Isso porque o casamento delas não foi exatamente tradicional. Ele aconteceu durante a Meia Maratona da Filadélfia, nos Estados Unidos, em novembro do ano passado.
“Não queríamos ser o centro das atenções, mas queríamos uma vibração de celebração”, diz Turner, de 31 anos, que é pós-doutoranda na Faculdade de Medicina da Universidade de Cornell. “Foi tão legal estar na cidade naquele dia, onde todo mundo estava celebrando suas próprias conquistas – pudemos aproveitar isso, mas sem que todos os olhos estivessem sobre nós.”
Ter a meia maratona como celebração de casamento atendeu a muitos outros critérios para o casal, que mora no sul de Nova Jersey. Elas se conheceram em um programa de doutorado na Oregon State University em 2017 e começaram a namorar alguns anos depois. Elas não estavam interessadas em gastar tempo ou dinheiro com um casamento tradicional. E, como um casal queer, já estavam considerando “desconstruir tudo” em relação às normas convencionais de casamento.
Além disso, elas já haviam se inscrito para a corrida em janeiro, antes mesmo de ficarem noivas, um marco que foi adiado porque não conseguiam decidir como celebrar o casamento. Mesmo após o noivado, no final daquele mês, ficaram divididas: consideraram fugir para casar, mas desistiram porque queriam incluir suas famílias. Cogitaram um casamento tradicional, mas odiavam a ideia de gastar todo o pouco tempo livre que tinham juntas experimentando bolos e decidindo o arranjo das mesas. Em algum momento dessas conversas, uma delas mencionou que não teriam tempo para planejar um casamento de qualquer forma, já que passariam os fins de semana treinando para a meia maratona na qual estavam inscritas.
Uma ideia surgiu: por que não usar a corrida como casamento? A família de McElvaine já estava planejando comparecer para torcer, e elas confirmaram que a família de Turner poderia ir também. Em março, o plano estava traçado. “Eu sou totalmente a favor da eficiência, então isso parecia ótimo”, diz McElvaine, de 33 anos, que trabalha em uma organização sem fins lucrativos voltada para a educação enquanto termina seu doutorado.
“Percebi rapidamente que seria muito mais fácil para mim treinar para uma meia maratona do que, tipo, escolher flores”, diz Turner. “Foi como matar dois coelhos com uma cajadada só.”
Além disso, treinar para uma corrida juntas parecia um teste que as prepararia mais adequadamente para os desafios do casamento do que planejar uma cerimônia tradicional. “Elas entenderam que o casamento não é como um conto de fadas – é mais como uma maratona”, diz Joan Mannino, amiga do casal, que ficou tão inspirada pelo plano que enviou um e-mail ao jornal The Philadelphia Inquirer sugerindo que cobrissem a história. “O compromisso, a disciplina, o apoio mútuo, os altos e baixos.”
O único (potencial) problema: McElvaine nunca havia corrido mais do que 5 km antes. Turner brinca que, enquanto a maioria dos casais planeja o casamento com base no que gostam ou no que os representa como casal, ela e McElvaine mal se identificavam como corredoras antes dessa corrida. “A gente não começou dizendo, ‘O que ambas gostam? Vamos fazer algo com base nisso’”, diz Turner. “Foi mais como, ‘Como podemos transformar isso em um processo de alcançar algo que queremos, incorporando o casamento?’”
Do sofá ao altar
Turner começou a correr enquanto fazia graduação na Virginia Tech, em Blacksburg, Virgínia, principalmente porque todos os seus amigos corriam. “Era o que todo mundo fazia”, diz. “Se todos os meus amigos iam correr 5 km, eu não queria ficar de fora.” Ela já havia corrido várias outras meias maratonas antes do dia do casamento. McElvaine, por outro lado, diz que é “mais do tipo ioga.” A corrida representava sua maior distância já percorrida, superando seu recorde anterior em quase 5 km.
“Eu não era corredora por muito tempo – era algo que me assustava”, diz McElvaine. Mas, há alguns anos, ela decidiu que queria se sentir confortável o suficiente para participar de pequenas corridas locais “sem que isso fosse um grande evento.” Depois de assistir Turner correr algumas provas maiores, McElvaine quis um objetivo mais desafiador, e o casal se inscreveu na Meia Maratona da Filadélfia juntas, antes mesmo de pensarem em casamento.
Quando decidiram que a corrida seria o casamento, de repente os treinos passaram a ter uma importância maior. Para se preparar, elas consultaram uma nutricionista esportiva e leram o livro Slow AF Run Club, de Martinus Evans. No que se refere à corrida, começaram do zero em julho passado. “Literalmente fizemos o programa ‘do sofá à meia maratona’”, diz Turner. McElvaine lembra-se de um treino em um dia quente, quando questionou a escolha delas. “Eu fiquei nervosa, achando que não conseguiria fazer isso”, diz.
“Ela teve um momento de ‘Meu Deus, já contamos para todo mundo que é isso que vamos fazer’”, conta Turner. “E eu disse, sem muita simpatia, que não tínhamos outra opção!”
Os treinos de McElvaine melhoraram à medida que o clima esfriava, e correr juntas acabou se tornando uma espécie de terapia pré-marital.
“Ter esses longões de sábado como parte daquele momento de nossas vidas nos deu muito tempo para conversar e estarmos juntas”, diz McElvaine. “A corrida em si era algo totalmente novo para mim, então as dores e os incômodos físicos, como ‘Meu joelho deveria fazer isso?’, estavam acontecendo. Mas também estávamos planejando o longo prazo de nossas vidas de uma forma que parecia muito significativa.”
La vêm as noivas
No dia da corrida, as noivas usaram suas roupas regulares de treino, com a exceção de um boné de Turner que dizia “Eu aceito.” Era a única pista de que aquele momento significava algo mais do que apenas uma meia maratona para o casal, e elas dizem que a maioria dos outros corredores e espectadores não percebeu que estavam se casando.
“Muitos amigos disseram, ‘Vocês têm que usar algo especial!’”, conta Turner. “Mas o objetivo disso tudo era que não precisássemos usar algo especial!” (Elas contaram ao grupo que tinha bandeiras do Orgulho no final da corrida, o que, segundo elas, foi um momento especial.)
Durante a corrida, elas trocaram votos – um para cada milha –, que haviam colocado nos bolsos. Também ouviram uma playlist com músicas escolhidas por amigos e familiares. “Foi tão doce – aprendi coisas novas sobre algumas pessoas da minha vida”, diz Turner. “Por exemplo, eu não sabia que essa era a música de casamento dessa pessoa, ou que essa música tinha um significado especial para outra pessoa.”
As famílias se reuniram para torcer no sexto quilômetro, com cartazes como “Lá vêm as noivas”, “O amor vence” e “Corram logo para podermos comer bolo.” “Foi uma sensação incrível testemunhá-las não apenas cruzando a linha de chegada da corrida, mas também a linha de partida do ‘para sempre’ delas”, diz Emily Gordemer, irmã de McElvaine.
Elas completaram o percurso de 21 km em pouco mais de três horas, mas o tempo juntas no percurso foi mais importante do que o tempo oficial. Depois, elas se reuniram no Barnes Foundation Museum para um brunch e assinar a certidão de casamento. (Elas brincam que acabaram tendo que escolher algumas flores, afinal.) Foi um casamento quaker, que não requer a presença de um oficiante, e as avós delas assinaram como testemunhas.
Elas dizem que não houve exatamente um momento singular em que se sentiram casadas, mas “cruzar a linha de chegada foi, de certa forma, uma parte significativa disso”, diz McElvaine.
Correndo rumo ao futuro
As recém-casadas não têm corrido muito desde o casamento, mas esperam participar de mais provas juntas no futuro. (Embora McElvaine ainda não esteja pronta para se comprometer com mais 21 km tão cedo.)
Por enquanto, o casal está grato por sua corrida-casamento ter sido algo único e representativo. “Muitas pessoas da nossa idade querem se casar, mas não sabem como fazer isso – há tantos roteiros sobre como deveria ser”, diz Turner. “Acho que oferecemos um bom exemplo de que pode ser algo totalmente maluco. Fizemos do nosso jeito.”