Ao chegar ao cume do Maciço Vinson, no último dia 4 de dezembro, o experiente guia de montanha Carlos Santalena, 36 anos, tornou-se o primeiro alpinista brasileiro a completar pela segunda vez os 7 Cumes, um conhecido desafio no montanhismo que consiste em escalar o maior pico de cada um dos sete continentes.
Localizado em um dos lugares mais remotos do mundo, o Monte Vinson é o ponto culminante do continente antártico, com 4.982 metros. Antes disso, Santalena passou pelo topo do Everest (Ásia, 8.850m), Aconcágua (América do Sul, 6.961m), Denali (América do Norte, 6194m), Kilimanjaro (África, 5.895m), Elbrus (Europa, 5.642m) e Pirâmide Carstensz (Oceania, 4.884m).
Formado em Educação Física, Carlos Santalena possui outros grandes feitos no alpinismo. Em 2011, aos 24 anos, ele foi o brasileiro mais jovem a chegar ao topo do Monte Everest. Aos 27, escalou pela primeira vez as sete maiores montanhas do mundo, sendo o mais jovem sul-americano a alcançar o desafio.
Atualmente, Santalena é o proprietário da Grade6, uma das principais empresas do país especializadas neste tipo de expedição.
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“Para mim, os 7 Cumes significam uma realização profissional. O meu grande sonho era escalar o Everest, estar em uma montanha acima de 8 mil metros, e acabei tendo essa oportunidade em 2011”, relembra Santalena, que depois disso já esteve no topo da maior montanha do mundo em outras duas ocasiões.
“A partir disso, desenvolvi o Projeto 7 Cumes que, muito além de escalar montanhas, envolve conhecer diferentes culturas, pessoas e tipos de ambientes”, complementa o guia de São Bento do Sapucaí (SP), um dos grandes polos do montanhismo no Brasil.
A escalada do Vinson
Diferente das outras montanhas dos 7 cumes, o Monte Vinson não possui condições de resgate, pois fica localizado em uma região bastante remota da Antártica. Por isso, além de uma complexa operação de logística, uma expedição ao pico exige ainda mais precaução e cuidados extras com a saúde.
“A escalada do Vinson não é extremamente técnica, mas é uma escalada em um ambiente totalmente inóspito e selvagem. Então, uma das premissas ali é manter a saúde, preservá-la o tempo todo, porque realmente se a gente precisar de ajuda demoraria pelo menos três ou quatro dias para fazer uma remoção ou ter algum tipo de resgate”, conta Santalena.
“Outra grande dificuldade nessa expedição é a previsão climática. Nas duas experiências que tive por lá elas não foram assertivas. É muito complexo conseguir uma previsão climática principalmente nos acampamentos mais altos, coisas que em outras montanhas atualmente já é possível. Mesmo tendo três meteorologistas destinados para isso”, destaca o montanhista.
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Jogo dos 7 Cumes
Para Santalena, que já alcançou 11 vezes o topo do Aconcágua, nove do Kilimanjaro e quatro do Elbrus, no “jogo dos 7 cumes” três montanhas são fundamentais: o Vinson, exatamente pelo frio, dificuldade de logística e resgate; o Denali, no Alasca, uma montanha totalmente imprevisível; e o Everest, que além de tudo exige uma grande capacidade física e emocional.
“Dos 7 cumes, na minha opinião, esses são os três mais complexos. Mas conhecer os sete cantos do planeta fazendo o que mais gosto não tem preço. Além disso, em cada um desses lugares, pude aprender diferentes formas de operação e entender diversas formas sobre ética no montanhismo”, diz Carlos, que nesta temporada guiou um senhor de 60 anos ao cume do Vinson.
“Foi extremamente prazeroso. Para mim, guiar essas pessoas é o grande objetivo da minha vida”, finaliza o montanhista, que não teve tempo para descansar e já partiu para uma nova empreitada no Aconcágua, em Mendoza, Argentina, a montanha mais alta do Planeta fora do continente asiático.