Os cães são nossos melhores amigos há milhares de anos e por algumas razões. Eles não apenas arrasam nos quesitos companheirismo e amor, como também podem nos ensinar lições valiosas.
Já viu um cão recusar um treino? O educador físico Willian Oliveira, 47, campeão sul-americano e embaixador do canicross no Rocky Mountain Games, garante que não, e seus seis dogs — sempre com tanque cheio de energia — o ensinaram a ter mais disciplina nas práticas.
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Já o engenheiro de TI Lucas Bertolini, 31, parceiro do Popeye nas etapas do RMG, diz que falar em lealdade do seu cãompanheiro chega a ser uma redundância. Seu cachorro o ensinou a ter mais raça nas provas e vencer os desafios que aparecem pelo caminho. Mas, se os cães parecem não guardar rancor e estão sempre felizes, uma boa criação também requer a compreensão da sua natureza.
De acordo com Marcio Cerqueira, adestrador pós-graduado em comportamento animal, os cachorros precisam ser respeitados como indivíduos. “Ligar-se a um cão é como promover uma amizade com outra pessoa”, diz Marcio. “Não pode ser forçado, mas pode ser encorajado de muitas formas e várias maneiras”, reforça.
Segundo ele, procurar interesses comuns e atividades preferidas, compartilhar momentos de silêncio, envolver-se em afeto mutuamente aceitável, brincar com jogos interativos e ser sempre gentil são ótimas pedidas para quem quer tirar o melhor desta relação.
Muitas vezes, os cães também nos lembram que as coisas mais simples da vida são as que trazem mais prazer. Uma boa caminhada no parque já pode fazer o dia dos dentuços e o nosso também. Por isso, o valor da atividade e da brincadeira na manutenção do bem-estar físico e mental dos cães não pode ser ignorado.
“O treinamento ao longo da vida do seu cão não apenas cria um cão mais inteligente, mas também ajuda a prevenir problemas como comportamento destrutivo, comportamentos incômodos, reatividade e ansiedade de separação, para citar alguns”, explica Marcio.
Nesse sentido, cachorros e seus tutores humanos compartilham algo comum: ambos precisam de movimento, e o canicross é certeiro para isso. A corrida em dupla, formada por um cão e uma pessoa, é uma modalidade que faz sucesso desde a primeira etapa do Rocky Mountain Games. Ela pode ser praticada por todos os tipos de raça e tamanho de cachorros, desde que o dentuço esteja saudável e a atividade respeite os seus limites. Nada muito diferente da corrida para pessoas.
Por ser uma atividade lúdica e natural – afinal, são animais que se reúnem em matilhas – o canicross proporciona saúde, socialização e bem-estar para o animal. Isso é o que garante o arquiteto e urbanista Jean Prado, 40, que participa do evento ao lado da guerreira Clarinha, uma cadela pinscher que faz sucesso entre os competidores. Durante a corrida ela se realiza: a língua para fora e o a expressão sorridente comprovam que é felicidade pura. Após o treino, o estado de relaxamento é tanto, que parece outra cachorra, voltando a ser a Clarinha tranquila de sempre”, comenta.
Se os cães são nossos melhores amigos há um bom tempo, eles também servem como professores e modelos em muitos aspectos das nossas vidas. Abaixo, separamos algumas lições valiosas que os atletas do canicross do Rocky Mountain Games têm para compartilhar.
Garra e força de vontade
Por Lucas Bertolini, 31 anos, dono do Popeye.
“Analisando minha relação com o Popeye, inserida no contexto da prática esportiva, vejo que ele foi muito além, me ensinou sobre a garra de vencer os desafios que lhe são impostos e a persistência para cumprir as provas que participa, tudo isso com o rabo abanando de alegria e felicidade por estarmos competindo lado a lado, me ensinando que com força de vontade e amor conseguimos superar todas as adversidades.”
Amigo fiel, irmão camarada
Por Carolina Carpi, 38, dona da Nala.
“Aprendi com a Nala que fidelidade a gente não pede, conquista. Quando ela chegou, a gente não tinha amizade, intimidade, mas no decorrer dos meses ela se tornou um cachorro fiel, do meu lado por onde eu vou. Se, por exemplo, estou passeando na praça e ela está lá se divertindo mas percebe que estou indo embora, larga os amigos e vem comigo. Então essa fidelidade, que eu não pedi, eu conquistei e ela também ganhou a minha. Às vezes, quando estamos fazendo trilhas, eu solto a Nala da coleira onde é seguro e ela dá uns piques na frente. Mas quando percebe que está muito longe senta e espera eu chegar, ou também volta. Existe esse cuidado mútuo entre nós.”
Seguindo em frente
Por Willian Oliveira, 47, dono do Bill, Snoopy, Luttrell, Xico, Tonha e Meg.
“Já aprendi algumas coisas com os meus cães. E uma delas foi seguir em frente. Em 2014, perdi uma cadelinha, Jade, de forma aguda e brutal. Ela foi atropelada. Meu cão mais velho que está comigo até hoje (Bill, 14 anos) tinha um vínculo muito forte com ela, faziam tudo juntos. No dia seguinte eu estava em casa, de luto, me perguntando por que eu tinha saído no dia anterior. Foi quando Bill bateu na porta da sala latindo, eu abri e lá estava ele me chamando para brincar. Sabe quando os cães abaixam a parte da frente do corpo e dão saltinhos para trás? Pois é, e ele não sossegou até que eu fosse. Brincamos por alguns minutos e era como se nada tivesse acontecido, porque para o Bill o que importava era o que estava acontecendo naquele momento.
Isso tornou-se um aprendizado importante para mim na pandemia. Eu trabalhava em uma grande rede de academias, mas a minha unidade fechou em março de 2020. Então, aquele emprego (que eu não gostava mais fazia um bom tempo) estava parado. Meus alunos não queriam treinar na praia enquanto a unidade ainda não abria. E eu tinha um baita medo de seguir, mas olhava para os meus cães e pensava que precisava agir. Comecei a dar aula de graça para uma atleta belga de canicross, que reside na Noruega, sem falar uma palavra em inglês. Logo vieram outros europeus, comecei um curso de inglês online até que a minha agenda lotou. Então aquele emprego que eu queria largar finalmente ficou para trás. Talvez muita gente possa achar essa história uma bobeira, mas eu só pensava como o Bill conseguiu seguir naturalmente em frente depois de perder uma grande amiga. Hoje trabalho 100% online com os meus clientes e tenho mais tempo para passear com Bill e os meus outros cinco cães.”
Sem tempo ruim
Por Jean Prado, 40, dono da Clarinha.
“Desde bem novinha a Clarinha começou a treinar com a gente e logo também a fazer algumas corridas, comigo ou com a minha esposa, Claudia. Por muito tempo, só treinos e corridas de rua (até 10 km), até que em 2021 fomos convidados a conhecer o canicross e, desde então, corremos seguindo as regras do esporte. Corrida é o que ela mais ama fazer: basta ficar uns dias sem treinar que já a percebemos mais “rebelde” em um primeiro momento, como se estivesse protestando e depois, parecendo meio “deprimida”, triste no sofá ou olhando para fora. Mas quando ela percebe que eu visto uma bermuda para corrida ou a chamo pra correr, imediatamente ela se transforma, a agitação e ansiedade a dominam e só se acalma novamente depois de alguns metros correndo.
Nesses anos de convivência, e, principalmente correndo com ela, aprendi que devemos sempre enfrentar nossos desafios, não importa se você é um pinscher de 3 kg e do seu lado vai largar uma pitbull com quase 20 kg; se a previsão do tempo é de frio de 5°C ou se você percebe que só tem subidas, descidas e barrancos no meio da trilha. Se você está lá pra correr, nada disso vai te tirar o foco ou fazer com que você se diverta menos. Aprendi também que é importante ter objetivo e ser focado quando é necessário, mas manter a descontração sempre que possível.”
As melhores maneiras de se relacionar com seu cão em casa
Aqui vão algumas ideias divertidas para se relacionar com seu cão. Tenha em mente que cada animal de estimação (e pessoa) terá suas próprias preferências, então é importante encontrar algo que vocês gostem de fazer juntos.
Parkour indoor
O parkour é um esporte divertido, de baixo impacto e não competitivo, no qual um cão navega por obstáculos físicos. É semelhante aos esportes de agilidade, mas menos estruturado. “O parkour ensina os cães a interagir com objetos em seu ambiente, caminhar sobre eles, colocar duas patas sobre, entrar, pular, subir em vários objetos. Ao ensinar as habilidades, reforços como guloseimas, elogios, brinquedos ou acariciamentos são usados para recompensar o cão por tentar”, pontua Marcio.
Escolha brinquedos enriquecedores
Há muita variedade quando se trata de produtos de enriquecimento de cães, de mastigações naturais, quebra-cabeças a brinquedos alimentares. “Aprender o que seu cão gosta ou não, é fundamental”, diz Marcio. “Kongs são ótimos porque você pode enchê-los com manteiga de amendoim, ração do seu cão, pequenas guloseimas, comida de cachorro enlatada, podendo depois congelá-los para uso posterior.”
Ensine engajamento através dos comportamentos naturais
Uma maneira de promover os instintos naturais de perseguição do seu cão é usar um stick, que é igual a uma varinha de brinquedo de gato gigante que você pode comprar ou fazer em casa para cães. Este pode ser simplesmente um jogo divertido de balançar o stick com um brinquedo no final e deixar seu cão pegá-lo. Para torná-lo mais avançado, adicione regras ao jogo, como ensinar seu cão a “largar” quando solicitado e, em seguida, “carregar” quando solicitado. “Isso pode ajudar seu cão com o controle de impulsos, enquanto constrói um relacionamento divertido entre vocês”, destaca o adestrador.
Coloque o nariz do seu cão para trabalhar
“Este é um dos meus jogos favoritos para implementar com meus cães em casa e em abrigos, porque é muito fácil e aproveita as habilidades naturais em sua busca por comida”, diz Marcio. Existem várias abordagens. “A maneira típica de iniciante é configurar de duas a quatro caixas em uma sala, colocar petisco de alto valor em cada uma, e, em seguida, soltar seu cão e dizer: ‘procura!’ O cão busca os petiscos que você colocou nas caixas e começa a desfrutar de usar seu cérebro e sentidos naturais para resolver problemas. Inicialmente, as caixas servem como identificadores visuais para os cães explorarem e localizarem alimentos e petiscos.” Quando seu cão atinge esse nível, você pode torná-lo mais desafiador. “Se você tinha quatro caixas com petisco, diminua para três das quatro caixas que agora têm guloseimas saborosas. Eventualmente, você pode tirar as caixas completamente e estrategicamente colocar suas guloseimas de alto valor espalhadas pela casa, atrás de móveis ou algum cômodo específico.”
Aproveite o poder do toque
Que cão não apreciaria uma massagem suave? Embora a pesquisa sobre massagem para cães seja escassa, alguns veterinários acreditam que está associada a benefícios como alívio do estresse e redução da pressão arterial. Use as pontas dos dedos para criar movimentos suaves e circulares. “Peça ao seu cão que relaxe e massageie-o suavemente. A maioria dos cães adora ter o dorso ou o peito massageados”. Você pode encontrar outros pontos favoritos em seu cão em particular, como a garupa, cabeça ou orelhas. Veja como seu cão relaxa enquanto você massageia. Você vai relaxar também.”
Pratique o treinamento básico
Cerqueira recomenda escolher um comportamento simples para ensinar ao seu cão, em seguida, trabalhar com ele cinco a seis minutos por dia usando métodos positivos para construir um relacionamento mais forte. “À medida que ambos aprendem, vocês desenvolverão confiança e compreensão mútuas e, finalmente, fortalecerão seu vínculo”, diz ele. As recompensas reforçam o comportamento. Se usar guloseimas como recompensas, elas não precisam ser de tamanho gigante. “Eu corto minhas recompensas para que fiquem do tamanho de uma moeda de 5 centavos. Quero recompensar muito o meu cão, mas não deixá-lo engordar.”
Se joga:
Canicross no Rocky Mountain Games
Quando: 1 e 2 de abril em Campos do Jordão (SP) | 20 e 21 de maio em Atibaia (SP) | 26 de agosto em Juquitiba (SP)