Cadelinha presa em penhasco mobiliza resgate de 13 horas no Colorado

Por Redação

Foto: Reprodução / Mesa County Search and Rescue.

Tanner Bean passou pela borda de um penhasco e desceu em rapel por uma encosta de rochas soltas, enquanto outros membros da equipe de Busca e Resgate do Condado de Mesa, no Colorado (EUA), observavam sua descida.

Após descer 90 metros, Bean chegou a uma saliência não muito maior que uma mesa de jantar, projetando-se de um precipício íngreme a centenas de metros do fundo do vale. Foi ali que Bean encontrou a cadela Tiny.

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“Ela olhou para mim como quem diz ‘meu Deus, meu Deus, um humano!’”, disse Bean à revista Outside. “Ela começou a abanar o rabo e a correr de um lado para o outro. Parecia tão animada.”

Bean, de 40 anos, ficou eufórico, mas também preocupado com a reação da cadela. “Eu pensei: ‘Não, não, não, por favor, não caia desse penhasco, agora não!’”, acrescentou Bean.

Foram necessárias seis horas para que Bean e seus colegas de resgate chegassem até Tiny, presa na beira do penhasco, em uma região remota do estado, a vários quilômetros da comunidade de Collbran.

O grupo partiu cedo na manhã do dia 2 de janeiro, após receber um chamado de emergência do dono de Tiny, um caçador local. No dia anterior, Tiny, uma cadela de caça de nove quilos, estava rastreando um leão-da-montanha por uma série de picos quando desceu a face do penhasco e ficou presa na saliência. Ela não conseguia subir de volta devido às rochas soltas, e tentar descer ainda mais poderia ser fatal.

Integrante da equipe de socorristas acompanha o resgate usando uma lente especial. Foto: Reprodução / Mesa County Search and Rescue.

Os oficiais da equipe de resgate disseram que Tiny usava um rastreador GPS em sua coleira, o que ajudou a indicar sua localização aproximada no terreno perigoso. O dono da cadela conseguia vê-la do vale abaixo. A noite caiu, e ele percebeu que Tiny teria que passar a noite no penhasco. Na manhã seguinte, ele chamou os socorristas.

A equipe de Busca e Resgate do Condado de Mesa, baseada em Grand Junction, cobre uma grande área do oeste do Colorado, incluindo trilhas populares para caminhadas e ciclismo nos arredores de Fruita, o Monumento Nacional do Colorado e um trecho do rio Colorado muito frequentado por praticantes de rafting. Durante a primavera e o verão, a equipe recebe diversos chamados de trilheiros, ciclistas e remadores em apuros.

“A maioria dos nossos chamados são para resgatar trilheiros perdidos ou ocorrências em águas rápidas”, disse Nick Ingalls, de 30 anos, um dos membros da equipe. “Mas recebemos, talvez, dois ou três chamados para resgatar cães por ano.”

Naquela manhã, 15 membros da equipe de Busca e Resgate (SAR) se encontraram em uma trilha próxima a Collbran. Devido ao terreno desafiador, o grupo se dividiu em duas equipes para encontrar a melhor rota até o topo do penhasco. A caminhada demorou muito mais do que o esperado, pois os socorristas tiveram que atravessar neve que chegava até os joelhos e navegar por desfiladeiros e canais estreitos.

“Estávamos caminhando por essas cristas que pareciam feitas de Sucrilhos,” disse Bean. “Você dava alguns passos para cima e então deslizava para baixo de novo.”

Um socorrista segura Tiny enquanto eles descem um penhasco. Foto: Reprodução / Mesa County Search and Rescue.

Já era quase 16h quando Bean e Ingalls finalmente localizaram os penhascos acima de onde Tiny estava presa. A vários quilômetros dali, outros membros da equipe montaram uma lente de observação para acompanhar a operação. Depois de fixar os pontos de ancoragem, Bean desceu o penhasco, encontrou Tiny, prendeu-a em um arnês especial para cães e a ergueu em segurança.

Ingalls contou que a animação de Tiny logo passou assim que chegou ao topo da montanha. As almofadas das patas dela estavam feridas e sangrando, e ela parecia exausta. “Ela agiu muito parecido com um paciente humano que ficou exposto ao tempo,” disse ele. “Muito feliz no início, mas depois que a adrenalina passou, ela simplesmente se deitou.”

Eles deram água para Tiny, mas ninguém da equipe de resgate havia levado comida para cães. Ingalls percebeu que tinha um único ponto de sinal de celular e enviou uma mensagem para um amigo veterinário perguntando se o alimento que tinham nas mochilas era seguro para cães. No fim, abriram uma lata de ravióli com molho de carne e deram um pouco para Tiny. Ela devorou a comida.

“Nunca vi um cachorro tão feliz por comer comida de humano,” disse Ingalls.

A cadela Tiny segue os socorristas na neve. Foto: Reprodução / Mesa County Search and Rescue.

Mas a missão de resgate ainda não tinha terminado — o time ainda precisava levar Tiny de volta aos veículos. No início, ela caminhou ao lado dos socorristas, mas logo se sentou de cansaço. Então Bean, Ingalls e os outros membros da equipe se revezaram carregando a cadela de nove quilos enquanto desciam penhascos em rapel, atravessavam a vegetação densa e caminhavam na neve. Depois de várias horas, o dono de Tiny os encontrou na trilha com seus cavalos, e eles terminaram a jornada a cavalo. Foram necessárias quatro horas para retornarem aos veículos.

Já estava escuro quando Bean e Ingalls finalmente chegaram de volta aos carros e concluíram o resgate. No total, a missão durou 13 horas — um dia exaustivo de caminhadas longas, escaladas técnicas e busca por rotas na natureza selvagem. Resgates de humanos perdidos normalmente levam uma fração desse tempo — e desta vez, o esforço foi para salvar uma cadela de nove quilos. Mas quando conversei com Bean e Ingalls por vídeo no final de janeiro, nenhum dos dois reclamou da operação.

Bean me disse que passaria por tudo isso de novo para salvar Tiny, sem hesitar. Ingalls concordou.

“Acho que sempre tentamos ter empatia e nos colocar no lugar deles,” disse Ingalls. “Seja um humano ou um cachorro, eles estão passando pelo pior dia de suas vidas, e nós temos a chance de ajudá-los.”