Por Mario Mele
Para traçar o “singletrack dos sonhos”, vasculhamos os arquivos da International Mountain Bicycling Association (IMBA), uma entidade sem fins lucrativos que colabora com o crescimento desse esporte de maneira sustentável, e reunimos as melhores dicas sobre como seria a trilha de mountain bike perfeita.
> Sustentável: O escoamento de água é um dos itens para uma trilha de mountain bike ser “sustentável”. Em termos gerais, declives pouco acentuados previnem erosões. Mas os melhores trajetos levam em conta a “regra da metade”, na qual qualquer grau de inclinação durante o percurso não deve exceder a metade do ângulo da linha de queda da encosta onde a trilha foi construída. Por exemplo, se for uma encosta com 20º de inclinação, a trilha deverá ter declives e aclives com, no máximo, 10º. Trilhas perfeitas passam intactas pelas épocas chuvosas e devem prezar pela diversão e manutenção do ambiente.
> Doses de recompensa: É impossível uma trilha de mountain bike que agrade a todos os ciclistas. Para resolver este problema, o ideal é haver pequenas “recompensas”, coisas que despertariam o interesse em qualquer pessoa, e não somente num mountain biker. Pode ser um mirante logo depois de uma subida, uma cachoeira para mergulhar ou um bosque nativo. Depois de construída, uma boa trilha é equipada com bancos em lugares estratégicos, como em uma sombra de árvore, para agradar quem rodou por ali e merece um descanso.
> Confiável: Uma boa trilha é como nosso melhor amigo, em quem podemos confiar plenamente. Na prática, quer dizer que o percurso segue uma linha harmoniosa e consistente. A pilotagem tem que ser livre de tensão e medo durante a maior parte do tempo. Como uma música que não trai o ritmo, uma trilha deve ser capaz de informar ao mountain biker: “Aqui, sim, você pode socar a bota!”.
> Nos mínimos detalhes: Mountain bike não pode ser uma armadilha. Isso significa que trilhas perfeitas não têm raízes atravessadas nem tocos pouco visíveis pelo caminho. Na teoria, um pneu de bicicleta não precisa de um caminho maior do que 20 cm de largura para passar com tranquilidade. Mas, segundo especialistas, o ideal é que essa medida seja de uns 80 cm. Com uma trilha ampla, os ciclistas não se concentram em andar nas bordas, o que aceleraria o processo de erosão. Além disso, o espaço maior favorece ultrapassagem e, consequentemente, o fluxo.
> Saia do óbvio: No mountain bike vale a máxima de que “a variedade é o tempero da vida”. Uma boa trilha não se mantém em longos e monótonos estradões, mas privilegia singletracks que cortam bosques ou passam por uma crista, por exemplo. Por isso, ser criativo é fundamental a seus construtores. As mais caprichadas trilhas também têm curvas rápidas e emparedadas e sequências de pequenos saltos que favorecem a inércia do pedal e rendem largos sorrisos.
> Desafios: Todos nós devemos nos desafiar, e o MTB é uma boa hora para isso. A não ser que você esteja em sua primeira experiência na terra, trilhas fáceis se tornam rapidamente desinteressantes. Nível médio ou avançado nesse esporte não significa apenas encarar subidas. A superação de constantes desafios técnicos é o que deixa o rolê mais interessante. Claro, o obstáculo tem que estar visível para os pilotos: pode ser um drop de uma pedra alta ou uma passagem estreita sobre uma ponte de madeira (o que exige equilíbrio extra). Uma rampa que atice nossos instintos de voar é outra opção. Desafios aumentam nossas capacidades como piloto e nos dão a chance de curtir verdadeiramente esse esporte.
> Fechando com chave de ouro: Não importa se é uma trilha de 10 ou 50 km, ela precisa terminar com um ponto forte – aqueles três minutos de pura felicidade sobre a bike, antes de você voltar para o estacionamento ou tirar o capacete e abrir uma cerveja. Seja um downhill veloz ou uma sessão fluida em singletrack, ter prazer no final vai apagar da memória os longos trechos de subida que queimaram suas pernas. Ao finalizar um pedal com as veias carregadas de dopamina e adrenalina, você só se lembrará das partes boas.