Bikes podem salvar o transporte na pandemia

Por Redação

transporte na pandemia
Imagem: Fabricio Macedo/Pixabay

No dia 8 de março, um dos sinais de que o coronavírus já era uma realidade em Nova York, foi o tweet do prefeito da cidade, Bill de Blasio: “Escaladas de trabalho flexíveis permitem às pessoas chegar um pouco mais cedo ou mais tarde no trabalho e fugir da hora do rush. Planeje um tempo extra para seus deslocamentos. Se o trem estiver lotado, espere pelo próximo. Pedale ou vá a pé para o trabalho se puder.” Uma clara mensagem ao papel de da bike como transporte na pandemia.

Na hora foi até meio engraçado porque no pico não adianta muito esperar o próximo trem. Mas agora, isolamento social é uma realidade, no mundo inteiro. E o conselho de ir a pé ou de bicicleta deve ser realmente levado a sério. Poucos dias depois, o departamento de trânsito de Nova York notou um aumento de 50% nos deslocamentos de bike nas pontes do rio East, comparado à mesma época do ano anterior. O tempo bom e uma hora de luz a mais ajudaram, mas muita gente citou o coronavírus como motivo de escolher a bike. “Me sinto melhor usando bike, são menos pessoas tocando meu guidão do que as barras de apoio do metrô”, disse um ciclista ao jornal New York Post.

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Não é a primeira vez na história que as pessoas vêem uma resposta na bicicleta diante de uma crise. As bicicletas deram um pouco de normalidade à muita gente na crise do furacão Sandy em 2012, quando houve racionamento de gás e metrô interditado. No blackout de Nova York de 2003 também, usando totalmente o sistema de bikes de aluguel. Em Londres, Paris, São Paulo, Colômbia: cada cidade tem seus dias épicos em que as bicicletas aliviaram o sistema de transporte quando ele não podia dar conta. Quando a merda bate no ventilador, a bicicleta é um poderoso plano de contingência. 

Bicicleta: salvação em emergências

Para muita gente, bicicletas são como extintores de incêndio ou kits de primeiros socorros: ficam num canto esquecido da casa para quando se precisa. Quando tudo está bem, existe uma noção equivocada de que bicicleta não é um meio de transporte prático. Os argumentos são sempre os mesmos: quando tem tempo ruim não dá para ir de bike, é coisa para jovens em forma, para quem não precisa carregar muita coisa, etc.  

Nada disso é verdade (principalmente quando falamos de transporte na pandemia). O tempo ruim não impede que as pessoas a usem em Copenhagen, os holandeses fazem até mudanças de bicicleta, elas são imbatíveis para muitos tipos de entregas em grandes cidades e é possível fazer de tudo com elas: desde chegar em uma reunião de bike elétrica até levar seus filhos na escola em cadeirinhas. Mesmo assim, a noção de que bike é uma ferramenta de lazer ou de fitness persiste e marca profundamente a forma de pensar em infraestrutura cicloviária: como um luxo, não uma necessidade. 

Dependência do carro: um problema nas crises

Aliás, essa é a maior ironia: quem critica as ciclovias e ruas orientadas para o transporte ativo alega que elas atrapalham em situações de emergência. É um mito que já foi derrubado incontáveis vezes. Essa culpa, na verdade, é do carro individual. Em Nova York, é tão comum ver ambulâncias e outros carros de emergência presos no trânsito que as pessoas nem se dão conta mais. Você nunca vai ver um caminhão dos bombeiros travado atrás de uma bicicleta, mas facilmente atrás de um caminhão de entregas sim. 

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Em uma crise vemos como esse pensamento é retrógrado. Só a caminhada pode ser mas confiável que a bicicleta. Claro, pedalar na chuva molha, na neblina pode ser difícil, mas só você vai entender a vitória de conseguir chegar ao trabalho pedalando num dia de greve geral de transportes ou de conseguir fazer suas compras sem depender do transporte público lotado (ou suspenso por quarentena) no meio de uma pandemia. Situações assim mostram como o transporte público é vulnerável e quanto o transporte individual de carro é limitado em dar uma resposta a todos. E nem estamos falando do apocalipse zumbi, só dos desafios que grandes cidades enfrentam de tempos em tempos. 

A bike deve ser uma parte do sistema

Não queremos dizer que a bicicleta substitui totalmente o transporte público em uma cidade grande, nem sugerir que em caso de calamidade, é melhor ser resgatado por uma bicicleta de carga em vez de uma ambulância. Mas a bicicleta precisa fazer parte de qualquer sistema de transporte público urbano em todas as circunstâncias, porque quando outro elemento está frágil, a bike aumenta a resiliência da rede de transportes como um todo.

Madrid suspendeu temporariamente seu sistema de bike sharing, e a Espanha e a Itália baniram o ciclismo mesmo como lazer por causa da epidemia de coronavírus, embora ainda permitam pedalar como meio de transporte para os deslocamentos essenciais. 

Militantes em Nova York estão indo na direção contrária e pedindo medidas de reforço para os deslocamentos de bike. Enquanto isso, a cidade fechou parcialmente bares e restaurantes, permitindo apenas o delivery. Isso coloca mais pressão ainda nos entregadores, que já estavam lutando contra restrições impostas pelo prefeito De Blasio a bikes elétricas. São esses entregadores que vão sustentar agora muitos pequenos negócios, durante a crise. Em reconhecimento à importância deles no sistema, o departamento de trânsito de NY suspendeu às restrições à bikes elétricas. 

Uma pandemia nos faz repensar as fragilidades do sistema de saúde, da economia e devemos dar mais espaço à bike nestas questões. Mesmo que seja negligenciada no dia a dia, quando chega a crise ela está lá cumprindo seu papel. 







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