Não é fácil chegar, mas vale cada segundo sacolejante em aviões, vans e barcos. Encravada na parte central da Patagônia chilena, a região de Aysén é um paraíso de florestas, geleiras, fiordes e paisagens épicas que não ficam nada a dever às grandes atrações austrais do país como o Parque Nacional de Torres del Paine. Mas poucos sabem disso, e eis aí o grande tesouro patagônico: quilômetros e quilômetros de emocionante beleza natural praticamente só para você (o departamento possui somente 91 mil habitantes, quase todos concentrados na capital, Coyhaique).

QUE BELEZA: A geleira suspensa no Parque Nacional de Queulat, na região de Aysén (Fotos: Divulgação Puyuhuapi Lodge & Spa)

Logo abaixo da Região de Los Lagos, Aysén se distingue do resto da Patagônia pela mata úmida repleta de liquens, musgos e folhas escuras de um verde mágico. Diferentemente de boa parte do Chile, lá existe água em abundância, na forma de lagos, cachoeiras, glaciares e especialmente geleiras – há até uma “suspensa”, esplendorosa, localizada do Parque Nacional de Queulat.

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Mas se Aysén possui tantos atributos por que é um dos destinos menos visitados do país? Muito por desinformação. E, talvez, por seu difícil acesso e por não ser considerada a “verdadeira” Patagônia das imensas geleiras e grandes montanhas nevadas. Sorte nossa.

O turismo, no entanto, tem crescido nos últimos tempos, atraindo viajantes aficionados por esportes outdoor, em especial caiaque, escalada e bike. É ali que fica um dos poucos trechos asfaltados da mítica Carretera Austral, a rodovia de 1.240 quilômetros que corta o sul do país e que até hoje não é toda pavimentada devido às complicadas características geográficas de seu entorno. Motoqueiros e suas Harley-Davidson já descobriram o rolê, mas ainda restam milhares de quilômetros (sem asfalto) à disposição de quem ama cicloviagens.

SENHOR DOS ANÉIS: O Bosque Encantado, que pode ser explorado em trekkings memoráveis

Dê graças aos céus que Aysén ainda é uma joia rara do turismo chileno, daquelas para serem descobertas sem pressa, apreciando cada curva da Carretera, de onde surgem lagos de um azul escuro profundo e dramáticos morros cobertos de neve. Entre um passeio e outro, não esqueça de fazer pausas demoradas para comer cordeiro assado ou salmão defumado, iguarias da região geralmente preparadas por gaúchos simpáticos em restaurantes de madeira quentinhos que dão uma trégua dos ventos fortíssimos de lá.

Não sabe para onde ir em suas próximas férias? Confie em nós: arrume as malas e parta sorridente para desbravar Aysén e seus encantos.

Principais atrações

Carretera austral. Considerado um dos percursos de cicloviagem mais incríveis do planeta, esta rodovia de 1.240 quilômetros corta o Chile de Puerto Montt, no início da Patagônia, até Villa O’Higgins, no extremo sul do país. Apenas 330 quilômetros são de asfalto – o restante da Carretera é um sobe e desce de cascalhos, com curvas que beiram lagos e o mar. Suas obras se iniciaram no fim do século 19 e até hoje não foram completamente concluídas, especialmente pelo clima instável da região.

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Se você quiser encarar o trecho da rodovia que corta Aysén, espere por ventos fortíssimos e congelantes, além de sol, chuva, calor e frio no mesmo dia. Mas aí está uma das melhores recompensas de quem curte aventuras em duas rodas: poucas estradas no mundo são cercadas de tanta beleza natural e de tão pouca gente. Para explorar Aysén de bike, o melhor é ir de avião de Santiago até Balmaceda e ir rumo ao norte do estado. Leve roupas tecnológicas que esquentam bem sem pesar na mala e secam rápido (um excelente corta-vendo é essencial).

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Geleira suspensa de Queulat. Parece miragem, mas lá está ela: localizada a 150 metros do chão, entre dois paredões rochosos, a geleira suspensa (ventisquero colgante, em espanhol) é uma das principais estrelas do Parque Nacional de Queulat. Criada em 1982, essa área de proteção ambiental é composta de rios, cachoeiras e lagos de degelo, em sua maioria alimentados pela geleira. O glaciar de 80 quilômetros quadrados diminuiu muito desde sua descoberta, em 1875, pelo capitão Enrique Simpson. Mas ainda se mantém como uma grande atração chilena – e certamente uma das mais bonitas que você verá na vida. A enorme massa de gelo nasce a mais de 2.000 metros do nível do mar e dela saem cachoeiras caudalosas.

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Após um trekking de uns 15 minutos desde a guarita principal do parque, chega-se a uma lagoa azul-clara da onde se pode admirar o ventisquero. Com sorte, você ouvirá estrondosos sons, semelhantes a trovões, de blocos de gelo se soltando do glaciar e despencando na lagoa. Leve um binóculo para admirar Queulat nos mínimos detalhes. Além do ventisquero, é possível fazer caiaque, escalada e observar os pássaros dentro do parque.

Bosque encantado. As árvores tortas cobertas por musgos e a vegetação densa de um verde vibrante dão um ar encantado de “senhor dos anéis” a esse trecho de floresta patagônica de Aysén. Localizado em um dos pontos de maior altitude da Carretera Austral, o Bosque Encantado é um trekking de dificuldade média e cinco horas de duração que, ao final, brinda os visitantes com um trecho bem íngreme que desemboca na lagoa de degelo Los Gnomos, localizada ao lado de uma enorme geleira. Durante a caminhada, é preciso cruzar o rio Cascadas e enfrentar subidas desafiadoras. É um ziguezague extraordinário cheio de surpresas como os liquens gigantes típicos da região.

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SPA DA ALMA: Um dos quartos do aconchegante e exclusivo hotal Puyuhuapi Lodge & Spa

Coyhaique. A capital da região de Aysén é parada obrigatória para quem chega de carro ou avião para conhecer esse pedaço da Patagônia. Mas nada que canse o visitante, pelo contrário: o vilarejo conta com apenas 42 mil habitantes e possui uma atmosfera bem aconchegante, em especial pelas casas de madeira e extensas planícies ao redor delas. Passe algumas horas circulando pelas ruas, comprando luvas ou temperos locais típicos (como o merkén, feito a partir de pimentões e pimentas defumadas). Puxe conversa com os gaúchos, gente que tem orgulho de sua terra e adora um dedo de prosa. Saboreie um cordeiro suculento no restaurante Ruibarbo. Para quem curte trekking e escalada, pertinho da cidade está o morro Mackay, com seu imponente paredão rochoso.

Vilarejo de Puyuhuapi. A222 quilômetros de Coyhaique, o singelo vilarejo tem apenas 550 habitantes, mas esbanja charme e originalidade. Um boa variedade de hostels e hoteis com preço camarada fazem da cidadezinha um ponto de encontro de moçada no alto verão. Na primavera e no outono, os preços são mais camaradas, enquanto no inverno pode ser quase impossível chegar até ali. Colonizada por alemães, que aportaram na região nos anos de 1930, Puyuhuapi é repleta de casinhas de madeira. Além de trekking nas montanhas vizinhas, rolês de bike memoráveis e boa comida, a vila ainda oferece um “brinde”: a cerveja artesanal Hopperdietzel, uma delícia vendida em três versões, perfeita para se tomar com um salmão defumado.

IMERSÃO: Uma das deliciosas piscinas térmicas da região

Onde ficar

Escondido em meio aos fiordes de Aysén, o Puyuhuapi Lodge & Spa é simples e ao mesmo sofisticado, na medida certa. Para chegar lá, além do deslocamento de carro até o povoado de Puyuhuapi, é preciso fazer uma curta viagem de barco que dura dez minutos. Encravado em uma encosta só para si, o lodge tem 29 quartos elegantemente decorados, mas que não contam com TV ou conexão de internet – e por um ótimo motivo. Ali a regra é se desconectar e curtir as diversas fontes termais do hotel. Há um spa, todo alimentado pelas fontes, e piscinas naturais ao ar livre, com água a temperaturas que vão do super gelado ao muito quente.

O lodge oferece passeios para Queulat, o Bosque Encantado, rolês de caiaque e outros trekkings. As refeições são deliciosas e mostram um pouco da cozinha local. Por três noites, com passeios e refeições incluídas, o hotel cobra US$ 1.500. puyuhuapilodge.com e claudia@puyuhuapilodge.com

Como chegar

A viagem é longa e cansativa, mas presenteia quem decide percorrê-la com paisagens de tirar o fôlego vistas da janela de carros ou a bordo de uma magrela. O jeito menos trabalhoso de chegar a Aysén é tomar um voo até Santiago (vôos diários pela Tam, Lan e Gol). Depois pegue um voo de Santiago a Balmaceda. O Puyuhuapi Lodge & Spa oferece traslado do aeroporto de Balmaceda até o hotel, em uma viagem que cerca de 4h30 de duração, com paradas para almoço em Coyahaique. Para quem vai se hospedar em um hostel em Puyuhuapi, há vários ônibus públicos que fazem esse trajeto – peça informação e mapas para os prestativos funcionários do quiosque de turismo chileno, localizado perto da esteira das babagens.

MERGULHO: A piscina interna do Puyuhuapi Lodge & Spa

O que comer

A região de Aysén é uma grande criadora de salmão, de um tipo bem mais natural, gostoso e menos rosado dos que os vistos por aqui no Brasil. A versão defumada do peixe é levinha, geralmente servida no café da manhã ou saladas. No jantar, peça um salmão assado com batatas. O cordeiro é outra iguaria patagônica e um dos melhores locais onde saboreá-lo é, sem dúvida, o restaurante Ricer, em Coyhaique. Nele, o cordeiro vem cortado em generosos pedaços servido em chapa quente. Não saia de Aysén sem levar uma generosa porção do merkén, um tempero chileno feito a base de pimentões e pimentas de cor avermelhada ótimo para acompanhar carnes ou comer com azeite e pão.

 

*A jornalista Erika Sallum viajou a convite da Tam Linhas Aéreas e do Puyuhuapi Lodge & Spa. Matéria publicada originalmente na Go Outside 114, de dezembro de 2014