Parece simples: as pessoas dormem porque estão cansadas. Por isso, quanto mais cansado, mais você dorme. Porém, de acordo com um novo estudo, a ligação entre treino, fadiga e cochilo em atletas não é tão direta. E o que explica isso são os cochilos. Isso mesmo: as sonecas.
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Um novo estudo da Loughborough University em parceria com o Instituto Inglês de Esporte sobre o tema foi publicado no Jornal Europeu de Ciências do Esporte. Três grupos de 10 pessoas (16 homens e 14 mulheres) foram convidados a tirar cochilos no laboratório. Os participantes eram atletas de elite, com cerca de 17 horas de treino por semana, não-atletas, e atletas sub-elite, que faziam 9 horas de treino por semana. O objetivo era saber mais sobre latência do sono: quão rápido os participantes conseguiriam dormir?
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Sem surpresas: atletas de elite dormiram rápido, não-atletas foram os com mais dificuldade e os sub-elite estavam em algum ponto no meio. Qualquer ponto abaixo de 8 minutos é considerado “alta latência de sono”. Só dois dos não-atletas chegaram a este limiar, em comparação aos 6 da sub-elite e 8 da elite.
Mas o pulo do gato é que os pesquisadores também levantaram quanto cada pessoa dormiu na noite anterior, e quanto se sentiam cansadas às 14h, 14h30 e 15h, logo após a oportunidade de cochilo. O sono é medido por uma escala de 9 pontos chamada Escala de Sonolência de Karolinska. Neste caso, não houve diferenças entre os grupos. Os atletas tinham dormido tanto quanto os não-atletas e relataram o mesmo grau de sonolência. Ou seja, os atletas não estavam mais cansados, só conseguiam dormir mais rápido mesmo.
Cochilo: habilidade que se pode treinar
É o conceito de “adormecibilidade” – a capacidade de cair no sono rápido e fácil. A ideia vem dos anos 1990. Pegar no sono logo uma habilidade que algumas pessoas têm mais desenvolvida do que outras. É possível de atletas de elite tenham uma capacidade maior de controlar a excitação mental que atrapalha o sono, ou simplesmente nem tenham esse problema.
Por viajarem muito, atletas também podem ter desenvolvido uma habilidade maior de dormir em ambientes estranhos. Os cientistas repetiram a experiência para ver se, num ambiente já mais conhecido, os resultados mudariam, mas não foi o caso. Todos pegaram no sono mais rápido, mas mantendo as proporções da primeira experiência.
Tipos de cochilos
Ao fuçar nas referências do estudo, você cai numa discussão interessante e longa: existem pessoas que tiram cochilo e as que não conseguem. Um artigo de 2018 da Universidade da Califórnia sugeriu que existem 5 tipos de cochilo, que podiam ser resumidas no acrônimo DREAM:
Desreguladora: para compensar mudanças no turno de trabalho, doenças ou exercícios
Restauradora: depois de pouco sono ou sono de má qualidade
Emocional: porque você está estressado ou deprimido
Apetitosa: por prazer, porque é um hábito gostoso e que faz você se sentir bem
Mindful: para aumentar o foco e a mente alerta
Caro que estas categorias se sobrepõe. Além disso, outros artigos simplesmente dividem os cochilos entre os por prazer e por descanso.
Minha intuição diz que atletas tiram cochilo mais fácil por motivos desreguladores ou restaurativos. Eles estão cansados de verdade porque forçam o corpo até o limite nos treinos e não conseguem compensar o suficiente no sono noturno. Os resultados do novo estudo defender que na verdade os cochilos são por prazer, já que eles não estão extremamente cansados, mas no fim ajuda na performance. Em outras palavras, eles têm baixa sonolência, mas alta “adormecibilidade”.
É curioso que pesquisas anteriores mostraram que os adeptos de cochilos por prazer costumam ter um sono de melhor qualidade e com a mesma quantidade do que pessoas que não conseguem tirar cochilos. Seria de esperar que fosse o contrário: ao dormir mal, a pessoa teria mais necessidade de compensar, mas na prática não é assim.
Nenhum dos estudos dá a receita mágica que todos queríamos: como conseguir cair no sono instantaneamente, a qualquer hora e qualquer lugar. Mas eles sugerem uma mudança em como vemos a cochilo: não são um sinal de que você não está se cuidando ou com sono atrasado. Pode ser só um sinal justamente de que tudo está bem, seu corpo está descansado, e você tem sorte suficiente de ter meia hora no meio da tarde. Todo mundo deveria ter mais dias assim.