Astroturismo, turismo astronômico ou “turismo dark sky”: essa é uma tendência de viagem que tem tudo a ver com os fãs da vida outdoor. Viajar para observar as estrelas é uma experiência única com a natureza, mas depende de uma boa visibilidade do céu – o que nem sempre é possível devido à poluição luminosa, um problema que vai muito além do turismo.
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Na maior parte do Brasil, ver estrelas é uma missão quase impossível. As luzes artificiais das cidades dificultam a observação, ofuscando o brilho de qualquer astro no céu.
“Em São Paulo, por exemplo, nós praticamente não temos céu. O que vemos hoje são os Starlinks (constelações de satélites), que são mais brilhantes, e meia dúzia de estrelas. A gente não conhece a observação astronômica”, diz Silvia Carneiro, arquiteta e especialista em iluminação.
E, segundo ela, os seres humanos não foram os únicos afetados por essa poluição luminosa das cidades e que perderam a capacidade de “navegar pelas estrelas” daqui da Terra. Muitos pássaros, por exemplo, deixam de fazer a sua migração já que não conseguem enxergar os astros com nitidez.
“Muitos animais migram de acordo com a posição das estrelas. As aves, por exemplo, têm, além de sistema visual, uma glândula pineal que funciona mais ou menos como uma bússola. Elas acompanham as estrelas para seguir o calor e fazer seus movimentos migratórios, indo para o hemisfério norte quando é verão por lá e voltando para o sul quando as temperaturas aumentam aqui”, explica.
Silvia faz parte do Comitê Internacional da International Dark-Sky Association (IDA) no Brasil. A associação de “céu escuro” surgiu nos Estados Unidos na década de 1980, questionando a poluição luminosa que afetava os observatórios astronômicos, mas logo se tornou um núcleo para disseminar todos os desdobramentos desse problema na natureza.
Lugares “de céu escuro” e o astroturismo
Além de informar, aconselhar e realizar eventos educativos sobre a poluição luminosa, a IDA criou ainda os certificados de Dark Sky Places para lugares como cidades, parques, hotéis e reservas que têm “céu escuro” e são perfeitos para a observação das estrelas.
Para conseguir o selo de Dark Sky Place, o responsável pelo local deve apresentar um plano de iluminação, comprovando que não haverá poluição luminosa na área; oferecer uma atividade educacional aos visitantes, como uma palestra explicativa sobre astroturismo ou a natureza local, e um relatório anual dos programas da propriedade.
Com a criação dos certificados de “locais de céu escuro”, a IDA impulsiona o astroturismo ou turismo dark sky, aquele direcionado para a observação das estrelas, e ainda conscientiza o público quanto aos problemas da poluição luminosa.
O Brasil não conta com nenhum Dark Sky Place certificado e, na opinião de Silvia Carneiro, um dos motivos é a falta de informação sobre poluição luminosa no país.
“O Brasil está muito atrasado em relação a esses conhecimentos e tipos de estudo. Na Flórida (EUA), por exemplo, desde 1985 existe uma legislação específica para iluminação costeira. Aqui não existe uma regulamentação nacional, somente na zona Tamar”, conta.
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O Projeto Tamar usa uma iluminação específica para a proteção das tartarugas marinhas. Isso porque quando os filhotes saem dos ninhos nas praias de desova, eles vão em direção ao mar e são atraídos por luzes artificiais em praias onde ocorre fotopoluição.
“Eles então desviam do mar, podendo morrer por exaustão e/ou desidratação. Uma única lâmpada em uma praia de desova pode desviar e matar inúmeros filhotes”, explica o projeto conservacionista em documento.
Onde (tentar) fazer astroturismo no Brasil
Mesmo sem nenhum Dark Place certificado por aqui, algumas cidades brasileiras permitem uma boa observação das estrelas. O ideal é ir até lugares a pelo menos 50 km de distância dos grandes centros urbanos e longe do litoral.
Algumas cidades indicadas para fazer astroturismo no Brasil são: São Francisco Xavier (SP), Cunha (SP), Santo Antônio do Pinhal (SP), Alto Paraíso de Goiás (GO), Anápolis (GO), Nova Friburgo (RJ), Visconde de Mauá (RJ), São Thomé das Letras (MG), Alto Caparaó (MG), Itabira (MG), Lençóis (BA), Arcoverde (PE) e Paranaguá (PR).