Os recordes de derretimento do gelo marinho na Antártica nos últimos anos podem ser um sinal de que a região entrou em uma “nova era” de cobertura reduzida impulsionada pelo aquecimento global, aponta uma pesquisa liderada por cientistas australianos.

O estudo descreve uma “quebra” na relação entre a camada de gelo marinho e a atmosfera sobre a Antártica. Ele sugere que a região pode ter “entrado em um novo regime no qual as relações anteriormente importantes não mais dominam a variabilidade do gelo marinho”.

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“Embora por muitos anos o gelo marinho da Antártica cresceu apesar do aumento das temperaturas globais, parece que agora estamos vendo o declínio inevitável, há muito projetado por modelos climáticos”, constatou o estudo.

Cientistas afirmam que a mudança terá provavelmente repercussões de longo alcance, tanto para os ecossistemas locais, quanto para o sistema climático global.

“Nos últimos sete verões, houve três mínimas recordes”, disse o autor principal do estudo, Dr. Ariaan Purich, da Universidade Monash e do programa Securing Antarctica’s Environmental Future.

A camada de gelo marinho da Antártica aumentou ao longo de várias décadas, atingindo o pico em 2014, antes de passar para um estado de baixa em meados de 2016.

Um recorde mínimo estabelecido em fevereiro de 2022 foi quebrado em fevereiro deste ano, quando se observou que a camada da Antártida cobria 1,77 milhão de km² – 36% a menos do que a cobertura mínima de 1979-2022.

“Em 2022 e novamente neste verão, os ventos hemisféricos [ligados a uma fase positiva do modo anular do sul] sugeriam que deveria ter havido mais gelo marinho do que o habitual, e ainda assim tivemos dois verões de recordes negativos”, disse Purich. “O gelo marinho parece não estar respondendo à atmosfera da mesma forma que costumava… sugerindo que algo mais está em jogo”.

Os pesquisadores identificaram que o aquecimento subsuperficial do Oceano Austral estava intimamente ligado à perda da camada.

“Descobrimos que o oceano – particularmente a 100-200 metros abaixo da superfície – começou a se aquecer muito visivelmente um ano ou dois antes de vermos essa mudança no sistema de gelo marinho, e tem permanecido quente desde então”, disse o co-autor do estudo, Dr. Edward Doddridge. “A perda de gelo marinho coincidiu com áreas onde o aquecimento foi maior”.

Os pesquisadores não descartam inteiramente a possibilidade de que a tendência dos últimos anos seja o resultado da variabilidade natural no sistema de gelo marinho da Antártida, dado que o registro via satélite do continente só começou em 1979.

“Embora a variabilidade possa estar contribuindo em parte para o aquecimento atual do oceano subsuperficial, também sabemos que o aumento dos gases de efeito estufa e das temperaturas crescentes estão contribuindo”, disse Purich. “A coisa realmente impactante é que esse declínio continua.”

A diminuição da camada provavelmente afetará espécies antárticas como o krill, espécie fundamental na cadeia alimentar do Oceano Austral, bem como animais que vivem no gelo, como as focas-de-weddell e as focas-de-gelo. Acredita-se que milhares de filhotes de pinguim-imperador tenham morrido no verão passado devido à quebra do gelo marinho geralmente estável em um momento em que os filhotes ainda não haviam desenvolvido suas penas impermeáveis.

O gelo marinho da Antártica também desempenha um papel fundamental em uma corrente oceânica profunda conhecida como circulação da inversão do oceano Austral. “Isso influencia como o oceano absorve calor e carbono”, disse Purich.

O estudo foi publicado na revista Communications Earth & Environment.







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