A psicóloga norte-americana Tracy Dennis-Tiwary, autora do livro “Future Tense: Why Anxiety is Good For You” (“Tensão à Vista: Por Que a Ansiedade é Boa para Você”, em tradução livre) faz uma defesa da ansiedade e busca reverter o consenso em torno da emoção de que se trata de algo particularmente negativo e prejudicial em um artigo publicado na BBC Future.
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Ela sugere que a ansiedade seja usada como uma forma de se manter ativo e com energia para realizar tarefas necessárias.
Segundo Dennis-Tiwary, mesmo quando passou por uma situação muito difícil, quando seu filho teve que fazer uma cirurgia no coração logo após ter nascido, a ansiedade e a incerteza sobre o futuro, em vez de deixá-la desesperada, fizeram com que ela buscasse fazer tudo que estava ao seu alcance para que o desfecho fosse o melhor possível.
“Acredito que a ansiedade pode ser uma ferramenta para nos ajudar a lidar com os desafios que a vida nos lança”, afirma ela no artigo.
Apesar de isso soar como uma premissa de difícil aceitação para quem sofre com formas mais graves de ansiedade, que em alguns casos deixam as pessoas totalmente incapacitadas em momentos de maior crise, a autora tenta reverter a forma como pensamos sobre a ansiedade para ver o seu lado positivo, e quem sabe extrair o melhor dele.
Para ela, atualmente estamos vivendo na era da ansiedade, citando que as buscas pela palavra no Google Trends aumentou mais de 300% desde 2004.
Além disso, 31% da população dos EUA experimentará um transtorno de ansiedade em algum ponto de suas vidas, variando de transtorno de ansiedade generalizada a transtorno de pânico e de ansiedade social.
Para Dennis-Tiwary, a palavra ansiedade também parece estar ocupando em nossa linguagem o espaço que era ocupado por outros termos, como estresse, para indicar todo tipo de sensação, desde o completo pavor até uma antecipação agradável de uma situação.
De qualquer forma, ela reconhece que os transtornos de ansiedade são mais comuns do que diagnósticos de depressão e vício, sendo que centenas de milhões de pessoas em todo o mundo serão diagnosticadas com transtorno de ansiedade em sua vida, com as taxas continuando a aumentar entre os mais jovens. O seu maior questionamento é: se existem dezenas de terapias validadas, 30 medicamentos ansiolíticos diferentes, centenas de excelentes livros de autoajuda e milhares de estudos científicos rigorosos, por que essas soluções falharam tão miseravelmente em ajudar a reduzir a escala do problema?
Nova abordagem
Em seu livro, Future Tense, ela aponta o dedo para os profissionais de saúde mental (incluindo ela mesma) por terem enganado as pessoas de forma involuntária sobre a ansiedade no passado, provocando um mal-entendido que prejudicou as pessoas.
Por conta disso, ela propõe uma nova abordagem para entender e viver com a ansiedade no século 21 e tirar vantagem dos efeitos da emoção. Isso porque as emoções, diz ela, são ferramentas de sobrevivência, forjadas e refinadas ao longo de centenas de milhares de anos de evolução para proteger e garantir que os humanos possam prosperar.
Embora a doença tenha adquirido uma má reputação, como força destrutiva, ela afirma que a emoção é informação sobre o futuro incerto: algo ruim pode acontecer, mas algo bom ainda pode acontecer também.
“Ansiedade é esperar que seu teste Covid dê positivo ou negativo, ou antecipar aquela conversa difícil com seu chefe que pode dar certo ou pode dar completamente errado. A ansiedade não é, no entanto, informação sobre ameaças certas e presentes – isso é medo, como ver uma barbatana de tubarão sair da água a poucos metros de onde você está nadando. O medo nos prepara principalmente para lutar, fugir ou congelar, enquanto a ansiedade é um construtor de civilização. Ela nos prepara para persistir, permanecer vigilantes e agir de forma a evitar desastres futuros, mas também pode tornar realidades em possibilidades positivas”, afirma ela.
“Quando estamos ansiosos, não apenas somos mais criativos e inovadores, mas nossos cérebros respondem com maior foco e eficiência quando enfrentamos o imprevisível. A ansiedade é, portanto, mais do que o ‘circuito do medo’ do cérebro. A ansiedade também ativa nossos impulsos por recompensa e conexão social, impelindo-nos a trabalhar pelo que nos importa, nos conectar com os outros e ser mais produtivos. É por isso que, da perspectiva da teoria evolutiva, a ansiedade não é destrutiva. A ansiedade incorpora a lógica da sobrevivência.”
O problema, segundo ela, é que essa teoria nunca evolui a ponto de ser adotada pelos profissionais de saúde, que em vez de tratar a doença como uma potencial aliada ainda, a tratam como um inimigo perigoso.
“Embora os transtornos de ansiedade possam ser paralisantes, o uso generalizado do termo ansiedade para significar um mal-estar geral é problemático porque significa que aceitamos duas falácias principais: (a) sentir ansiedade é perigoso e destrutivo; e (b) a solução para sua dor é preveni-la ou erradicá-la. É uma forma de pensar que nos levou a perceber as ansiedades cotidianas como disfunções a serem consertadas. No entanto, são apenas os transtornos de ansiedade – quando a ansiedade extrema e nossas tentativas de lidar com ela interferem em nossas vidas diárias – que são reconhecidas como condições de saúde mental. A emoção da ansiedade, ao contrário, deve ser considerada saudável e normal – e até benéfica”, propõe ela.