Me chamo Helena Coelho e para quem ainda não me conhece, sou atleta de gravel e embaixadora da Swift Carbon BR, fui embaixadora do Rocky Mountain Games (2022/2023) e hoje me dedico às provas de longa distância. Desde 2023 iniciei a busca pelo “troféu do paralelepípedo dourado”, ele consiste em uma premiação exclusiva para aqueles que completam a série de Super Randonné: 200 km, 300 km, 400 km e 600 km, em percursos que mesclam muita altimetria, terra e asfalto.
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Em um passado não muito distante, uns dois anos atrás, quando pensava em pedais tão longos com tamanha magnitude, achava que meu corpo não daria conta no tempo proposto, média de 15km/h. Não se iludam, com tanta altimetria e terra, uma média que parece simples vira um verdadeiro contrarrelógio.
Sem grandes ambições, comecei essa jornada em 2023 quando resolvi comemorar meu aniversário em um pedal misto de 300 km com 5.000m, foi quando a etapa de Guararema caiu exatamente no meu aniversário. Ouvi de várias pessoas, amigos próximos, que eu deveria começar com o pedal de 100 km misto, e acho realmente válido para quem não tem experiência começar por ele, mas eu tinha muita experiência na terra e queria me desafiar. Eu completei, extrapolamos o tempo em uns 50 minutos, mas ali eu virei uma chave na minha vida. Terminei mancando, mas muito feliz.
Ainda em 2023 quis continuar a série e me arrisquei nos 400 km misto de Salesópolis. Foi uma grande experiência, vários erros, problemas mecânicos e a inexperiência de lidar com sono me tiraram da prova e me renderam boas risadas depois.
Em 2023 eu fiz a prova com o Luis Araújo (para quem faz provas de longa distância, conhece ele por “ultra peba”). Em 2024 começaria um novo capítulo: dessa vez uma carreira solo.
Mais uma vez, comemorei meu aniversário nos 300 km (misto) de Guararema, tudo parecia “igual”, mas era diferente: muito mais forte, determinada e teimosa, eu queria completar no tempo. Pegamos muita chuva e lama, o que torna o percurso ainda mais desafiador, eu errei na alimentação nos kms finais, não conseguia mais comer, me senti um pouco em confusão mental por falta de comida e excesso de exercício. Meu tempo limite era de 20h, mensagens de amigos me fizeram ter forças que eu não sabia que existiam, eu cheguei no último minuto. Meus amigos estavam lá pra me abraçar e me dar parabéns, foi o melhor presente de aniversário que eu poderia receber.
Em março, eu me desafiaria a algo ainda maior: 400 km, 27 horas de prova. Meu corpo e equipamento não só teriam que enfrentar mais de 6.300m de subida, mas também teria que lidar com meu maior medo: enfrentar o sono e virar a noite sozinha. Eu tinha um sonho, ver o sol nascer pedalando e viver isso em cima de uma bicicleta após mais de 20h pedalando foi a coisa mais emocionante que eu vivi. Dessa vez, acertei alimentação, paradas, tempo, controle do sono, tudo alinhado: 100%. Pronto, agora “só” faltava completar 200 km e 600 km.
Como sou muito consistente e treino paradas rápidas e objetivas, provas maiores me dão mais vantagem porque tenho mais tempo para gerir. Completar um 200 km no tempo seria desafiador, mais do que os 300 km.
Minha primeira tentativa eu já contei por aqui, comecei com uma das rotas de 200 km misto mais difíceis do Brasil, o percurso do Sítio do Pica Pau Amarelo, saindo de Monteiro Lobato, foram 200 km com 4.300m. Estourei o tempo em 15 minutos, tive problemas com a iluminação de noite e lidei com muitas inquietações na cabeça. Não era meu dia.
Agora em junho voltei para fazer o 200 km misto, dessa vez em Mairiporã, foram 3.900m de ganho de elevação, cerca de 40% de terra. Alinhei e preparei tudo nos dias anteriores, cuidei muito bem do meu sono e descanso, revisei tudo que errei nas outras etapas e fui pronta para dar tudo de mim.
Fiz a prova toda com base na percepção de esforço, entendendo o que meu corpo aguentaria no intervalo de horas proposto, minha meta era fazer sub 12h. Não perder tempo em paradas, não mexer no celular, exceto o estritamente necessário, não esperar ninguém e seguir, ainda que devagar.
Saímos para provas dessa sozinhas, mas nunca estamos sozinhas, pedalei com vários amigos, o João, que conheci na prova, me puxou por algum tempo num ritmo muito forte. O Rodrigo me alcançou várias vezes e fomos juntos em alguns bons kms.
Terminamos a prova juntos, nos últimos quilômetros ele me falava “pode ir tranquila, já deu certo”, mas aquilo parecia tão distante e eu sabia o que estava por vir: uma subida de 950m que demoramos quase 15 minutos empurrando. Dei tudo de mim, até o final, chegamos com 40-50 minutos antes de estourar o tempo. Ali eu teria virado outra chave: agora eu consigo completar e ser mais rápida do que eu penso que posso ser.
Que venham os 600 km mistos!
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*Helena Coelho é ciclista e idealizadora da página Mulheres de Gravel.