A felicidade pode ser desenvolvida a partir desses 7 hábitos, diz estudo

Por Alexandre Versiani

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Foto: Ardea Studio / Shutterstock.

Por séculos, as pessoas acreditaram na popular (e falsa) teoria de que riqueza material e status eram sinônimo de felicidade. Agora, um estudo inédito da Universidade de Bristol, no Reino Unido, revelou que a felicidade é bem mais simples do que isso, e pode ser aprendida através de 7 hábitos.

De acordo com a pesquisa, a manutenção de práticas como meditação, exercício físico e até generosidade leva à felicidade duradoura. O estudo, divulgado pela revista científica Higher Education, também detalhou como esses hábitos contribuem significativamente para o nosso bem-estar geral.

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Nas últimas décadas, a definição da palavra “felicidade” tem sido objeto de uma intensa batalha na ciência psicológica. Alguns especialistas a classificam como eudaimônica, que está ligada ao propósito de vida e a realização pessoal, e hedônica, que lida com o prazer imediato e emoções positivas.

Em 2018, o pioneiro curso “Ciência da Felicidade”, da Universidade de Bristol, reuniu todos esses conceitos e comparou os últimos avanços nas áreas de psicologia e neurociência para descobrir o que realmente nos deixa contentes.

Para o estudo, foram selecionados 905 estudantes que haviam participado do curso, dos quais 228 aceitaram contribuir com respostas mais profundas para um acompanhamento a longo prazo.

Após as aulas, os graduandos relataram uma melhora de 10 a 15% no bem-estar geral. No entanto, apenas aqueles que continuaram aplicando os conceitos da Ciência da Felicidade ao longo dos dois anos seguintes conseguiram manter a felicidade duradoura quando pesquisados novamente.

Principal responsável pelo estudo, o psicólogo Bruce Hood afirmou que, quando se trata de felicidade, não existem soluções rápidas. “É como ir à academia – não podemos fazer só um treino e esperar ficar em forma para sempre. Assim como acontece com a saúde física, temos que trabalhar nossa saúde mental continuamente, caso contrário as melhorias também serão temporárias”, destacou o psicólogo, que também é professor na Universidade de Bristol.

“Nossa pesquisa mostra que fazer apenas uma aula ou um curso — seja na academia, seja em um retiro de meditação, seja em um estudo de felicidade baseado em evidências como o nosso — é apenas o começo: você deve se comprometer a usar regularmente o que aprendeu”, avaliou o pesquisador, que recentemente lançou o livro “The Science of Happiness: Seven Lessons for Living Well” (“A Ciência da Felicidade: Sete Lições para Viver Bem”, em tradução livre).

Apesar de ser algo difícil de ser mensurado, os estudos propostos por Hood e sua equipe se basearam em instrumentos cientificamente validados para calcular o nível de felicidade: a Escala Curta de Bem-Estar Mental de Warwick-Edinburgh foi usada para avaliar o bem-estar mental geral. Para ansiedade, foi utilizado o Questionário de Transtorno de Ansiedade Generalizada (GAD-7); enquanto a solidão foi avaliada usando a versão de 3 itens da Escala de Solidão da UCLA. O estudo também apontou que 51% dos estudantes que mantiveram hábitos como escrever cartas de gratidão, aumentar as conexões sociais e praticar bondade foram os que mais se beneficiaram do bem-estar mental a longo prazo.

“É como ir à academia – não podemos fazer só um treino e esperar ficar em forma para sempre. Assim como acontece com a saúde física, temos que trabalhar nossa saúde mental continuamente, caso contrário as melhorias também serão temporárias.”

“Muito do que ensinamos gira em torno de intervenções de psicologia positiva que desviam sua atenção de si mesmo, ajudando os outros, estando com amigos, agradecendo ou meditando”, escreveu Hood. “Isso é o oposto da atual doutrina do ‘autocuidado’, mas inúmeros estudos demonstraram que sair da nossa bolha ajuda a nos manter longe de ruminações negativas, que podem ser a base de tantos problemas de saúde mental”, complementou o pesquisador.

Felicidade é mato

Foto: Ardea Studio / Shutterstock.

No que ele chama de “truques da felicidade”, Hood destaca que exercícios físicos e caminhadas na natureza são peças-chave na busca pela satisfação plena. Ao longo dos últimos anos, vários outros estudos também já haviam comprovado a conexão entre a felicidade e atividades no outdoor.

Em 2019, por exemplo, cientistas da Universidade de Aarhus, na Dinamarca, publicaram um estudo sobre os efeitos das atividades ao ar livre na infância até a vida adulta. Os pesquisadores descobriram que crianças que vivem perto – e em contato com – a natureza têm uma incidência 55% menor de desenvolver problemas de saúde mental quando adultos. Recentemente, cientistas das Universidades de Yale e Oxford foram mais longe: analisaram dados de 1,2 milhão de norte-americanos e chegaram à conclusão de que o esporte proporciona mais felicidade a essas pessoas do que o dinheiro.

No último mês de março, o World Happiness Report, o relatório mundial da felicidade divulgado anualmente pela ONU, elegeu os países mais felizes do mundo, com a Finlândia conquistando o primeiro lugar do ranking pelo sétimo ano consecutivo. Segundo a organização, os países que ocupam as primeiras posições da lista têm algo em comum: uma natureza acessível e as maiores proporções de pessoas fisicamente ativas.

Além da Finlândia, no topo da lista estão outros quatro países nórdicos: Dinamarca (2º), Islândia (3º), Suécia (4º) e Noruega (7º). Nestes locais, o friluftsliv, que se traduz literalmente por “vida ao ar livre”, é um hábito que tem ganhado força nos últimos anos. O termo denota “um estilo de vida filosófico baseado nas experiências da liberdade na natureza”.

“No último mês de março, o World Happiness Report, o relatório mundial da felicidade divulgado anualmente pela ONU, elegeu os países mais felizes do mundo, com a Finlândia conquistando o primeiro lugar do ranking pelo sétimo ano consecutivo. Segundo a organização, os países que ocupam as primeiras posições da lista têm algo em comum: uma natureza acessível e as maiores proporções de pessoas fisicamente ativas.”

A Suécia, por exemplo, descobriu que quase um terço de seus residentes participa de alguma atividade outdoor pelo menos uma vez por semana. Já a Dinamarca abriga a cidade mais amistosa para bikes no mundo: Copenhague (embora não esteja sozinha: muitos dos países mais felizes do mundo têm cidades planejadas para ciclistas).

Músculo cansado, cérebro feliz

Caminhada, aeróbica ou treino de alta intensidade (HIIT, na sigla em inglês). Qual tipo de atividade nos deixa mais felizes? Todas. Mas, de acordo com os pesquisadores da Universidade de Turku, na Finlândia, há uma única resposta para esta pergunta: ao comparar a quantidade de endorfinas no corpo após uma aula aeróbica moderada e uma sessão de treino cardiovascular de uma hora, eles descobriram que os participantes do grupo de alta intensidade tiveram significativamente mais hormônios da felicidade no sangue. Em outro estudo, cientistas também conseguiram provar que esportes de resistência como corrida, bike e natação são mais eficazes no tratamento da depressão severa e de problemas psicológicos.

No entanto, até mesmo um treino rápido já é suficiente para levantar o astral. De acordo com uma equipe da Universidade de Ulster, na Irlanda, pelo menos 30 minutos de atividade física aeróbica, com cerca de 70 a 75% do seu esforço máximo, de quatro a cinco vezes por semana, oferece uma boa chance de combater os sintomas mais leves da depressão sem a necessidade de medicamentos. Outro estudo com mulheres no Irã, por exemplo, descobriu que um simples curso de oito semanas de Pilates teve um efeito positivo nos níveis de depressão e felicidade das participantes.

Na mais recente pesquisa sobre o tema da Universidade de Bristol, além dos exercícios físicos e contato com a natureza, outros hábitos regulares são importantes para alcançar a felicidade duradoura: praticar a gratidão, realizar atos de bondade, direcionar sua atenção para os aspectos positivos do dia, explorar técnicas de meditação, manter uma boa qualidade de sono e aumentar as conexões sociais. “Quando você faz coisas boas para outras pessoas, você está se envolvendo em algo significativo e se sente mais conectado com o mundo como um todo — ambos aumentam a felicidade”, destaca Hood.

Talvez, então, segundo os pesquisadores, o melhor caminho para a felicidade plena seja assumir desafios significativos e esforçar-se por uma melhoria constante de si mesmo. “Ao mesmo tempo, é importante lembrar o quanto você é sortudo por fazer o que ama e, quando possível, dar algo de volta à sua comunidade. Estilos de vida ativos promovem todas essas coisas — então continue se esforçando”, finaliza o cientista.

Truques da felicidade

Os 7 ensinamentos do curso Ciência da Felicidade que levam à felicidade duradoura

  • Praticar atos de bondade, como presentear outras pessoas;
  • Aumentar as conexões sociais, incluindo puxar conversas com pessoas que você não conhece;
  • Ter uma boa qualidade de sono;
  • Direcionar a atenção para os aspectos e eventos positivos do seu dia;
  • Praticar a gratidão, se esforçando mais para agradecer as pessoas;
  • Ser fisicamente ativo, caminhar na natureza;
  • Explorar o mindfulness e outras técnicas de meditação.