As impressoras 3-D aos poucos começam a revolucionar o mundo dos equipamentos esportivos
Por Mina Hochberg
EM 2010, OS DESIGNERS da marca norte-americana de bikes Trek decidiram criar uma nova bicicleta de estrada para as tradicionais provas profissionais conhecidas como “Clássicas de Primavera”, como as renomadas Paris-Roubaix, na França, e o Tour de Flanders, na Bélgica. Uma característica-chave que visualizavam para esse modelo era um sistema de suspensão que permitisse ao tubo do selim funcionar independentemente do quadro, para absorver melhor o impacto e, assim, fazer o ciclistas chacoalharem menos nas ruas de paralelepípedos comuns nesse tipo de competição de elite. Em seu quartel-general em Waterloo, no Estado de Wisconsin, a equipe de desenvolvimento da marca esboçou um modelo tridimensional em um computador, e então usou uma impressora Objet500 Connex para imprimir – sim, imprimir – um protótipo. Realizaram, então, uma série de anotações e fizeram pequenos ajustes. Nos meses que se seguiram, mais protótipos foram impressos e testados, até que se chegou a um modelo final aprovado pelos especialistas, que depois foi moldado em carbono. Um processo que teria levado um ano usando os métodos tradicionais de fabricação desta vez durou poucos meses. O resultado foi a popular bike Domane 6 Series, lançada alguns meses atrás nos EUA e que foi a primeira a utilizar o inovador sistema de suspensão IsoSpeed da Trek. Ainda que isso soe como um sonho distante da ficção científica, a tecnologia de impressão 3D já existe há uma década. Mas apenas nos últimos anos é que começou a revolucionar o design e o desenvolvimento de produtos. Seja qual for a indústria – aeroespacial, medicina, automotiva –, são grandes as chances de que ela esteja utilizando a tecnologia de impressão 3-D em algum nível, da criação de moldes mais baratos até a produção de peças sob medida. As marcas de equipamentos são as principais adeptas. Além de sua nova suspensão, a Trek imprimiu guidões e selins. A gigante marca norte-americana de snowboard Burton imprime capacetes, máscaras e bindings (peças que fixam as botas aos esquis ou às pranchas de snowboard). A CamelBak, especializada em mochilas de hidratação, imprime cantis. E a fabricante de tênis New Balance chega a imprimir calçados inteiros. “Os avanços que fizemos no design de nossos modelos nos últimos cinco anos certamente se devem ao fato de podermos usar a impressão 3-D”, diz Scott Barbieri, relações-públicas da Burton. Em muitos aspectos, a impressão 3-D funciona exatamente como a 2-D. Guiada por uma planta digital, a impressora 3-D deposita camada sobre camada de um material bruto sobre uma superfície plana, da mesma forma que a impressora normal deposita pigmentos no papel. A diferença é que a máquina 3-D esguicha um tipo de plástico ou de metal em forma de pó ou de líquido. Camadas extremamente finas são fundidas a laser, ou coladas à medida em que esfriam, e o resultado é um objeto sólido e sem emendas. As impressoras ainda estão, em sua maioria, limitadas a materiais como resina plástica ou aço inoxidável, que não oferecem a qualidade e o desempenho da fibra de carbono, por exemplo. E não conseguem chegar nem perto de competir com os sistemas de produção em massa que permitem empresas como a Burton produzir um binding de snowboard a cada duas horas. Mas algumas marcas e consumidores geeks já estão fabricando produtos customizados (leia abaixo). Alguns designers independentes usaram essa tecnologia para criar acessórios como suportes para smartphone e tornozeleiras, e um ciclista amador na Alemanha imprimiu seu suporte para luz de bike após constatar que o que ele comprara em uma loja não funcionava bem. “Não estamos muito longe de ver pessoas podendo imprimir suas próprias luvas ou bolas de golfe”, diz Bruce Bradshaw, diretor de marketing da Stratasys, empresa de impressão 3-D sediada em Minnesota.
>>Sem papel
Alguns dos usos mais surpreendentes da tecnologia de impressão 3-D
Equipamentos amadores
Laboratórios de design e impressão como o I.materialise e o Shapeways permitem que pessoas comuns projetem, imprimam e vendam tudo, de um suporte para câmera GoPro para mergulhadores a abridores de lata para ciclistas colocarem sob o selim.
Bonecos em miniatura
Algumas empresas, como a Sony, a ShapeShot e a Omote 3D, podem escanear digitalmente seu corpo em um estúdio ou cabine fotográfica, e depois produzir uma miniatura de você.
Medicina esportiva
A empresa de bioengenharia Organovo já imprime tecidos corporais; no futuro, atletas poderão escanear articulações e ossos, e imprimir peças de reposição para lesões.
(Reportagem publicada originalmente na Go Outside de dezembro 2013/janeiro 2014)
FUTURISTA: O capacete Hifi, da Burton, foi desenvolvido em uma impressora 3D