Em sua quarta edição, a prova Brasil Ride, que rola em outubro na Bahia, entra para o calendário internacional da UCI e firma-se como uma das mais eletrizantes ultramaratonas de mountain bike do mundo Por Bruno Romano
PARA QUEM AMA MOUNTAIN BIKE, poder passar uma semana em uma das mais lindas regiões da Bahia pedalando ao lado de outros devotos do esporte soa como um sonho. E é mesmo – apesar de, muitas vezes, esse sonho ser bem casca grossa. Criada em 2010, a ultramaratona Brasil Ride figura hoje como uma das mais eletrizantes provas de longa distância da modalidade no planeta. Seguindo os moldes da sul-africana Cape Epic, a competição mescla esforço físico, com etapas diárias que podem chegar a 139 quilômetros, e paisagens maravilhosas, no caso a Chapada Diamantina. Entre os dias 20 e 26 de outubro, em percursos duríssimos ao redor das cidades de Mucugê e Rio de Contas, cerca de 400 atletas enfrentarão estradões de terra e antigas trilhas de garimpeiros que se tornaram perfeitas para o pedal. Para as 200 duplas esperadas para a edição 2013, mais uma vez o maior desafio será enfrentar tantos dias repletos de trechos longos e técnicos, em meio a um clima muito quente.
O trajeto de 2013 se mantém espalhado ao longo de sete dias, com três etapas idênticas a 2012 – consideradas a “cara da prova” pela organização. Além do prólogo, que abre a competição, dois dias chamam a atenção: a etapa de cross-country (XCO) individual com tomada de tempo e a travessia de 139 quilômetros entre Mucugê e Rio de Contas, com passagem por um trecho bastante acidentado, que ganhou o apelido dos competidores de “Vietnã”. Para Mario Roma, esse será o dia que “separa os homens dos meninos”.
PELA PRIMEIRA VEZ DESDE A ESTREIA em 2010, a Brasil Ride integrará a temporada de ultramaratonas oficiais da União Ciclística Internacional (UCI), a organização que rege o esporte em nível mundial. Transformou-se, assim, em uma grande oportunidade para mountain bikers nacionais mostrarem seu talento. Caso de Alexandre Sousa, morador do Vale do Capão, na Chapada Diamantina, e da dupla Sherman de Paiva e Henrique Avancini, da equipe Caloi. “Este ano vai mudar completamente a maneira como todos encararão a prova, porque agora o evento faz parte do calendário internacional”, conta Henrique, que figura entre os maiores nome do MTB brasileiro e que conquistou, em abril, uma histórica vitória na alemã Bundesliga de Munsingen, uma das mais tradicionais e importantes provas do mundo. “Na Brasil Ride, é preciso saber dosar o fôlego. Focar em vencer uma etapa não é o problema. A questão é ser inteligente e conseguir pensar em longo prazo.”
VAI LÁ
> Brasil Ride
Inscrições 2013 (lista de espera) e 2014 (reserva):
br@brasilride.com.br
Inscrições para a prova de maratona (percurso igual à sétima etapa da Brasil Ride):
brasilride.com.br/site/maratonaxcm
webventure.com.br
> Ride Trip
Canta Galo Eco Aventura
Tel. (75) 3344-1097
cantagaloecoaventura@gmail.com
NA TENTATIVA DE ATRAIR ainda mais ciclistas amadores, a Brasil Ride, em parceria com a agência de turismo Canta Galo Eco Aventura, organiza o Ride Trip, uma alternativa para inserir os amantes do mountain bike em uma área inóspita da chapada. “É uma forma de vivenciar a competição de forma descontraída e sem exigir tanto do corpo. Os participantes pedalam pelos trechos mais bonitos da prova, com quilometragens menos pesadas, largam em uma etapa no pelotão do fundo e acompanham de perto toda a ação dos bikers de elite”, explica Adroaldo Vasconcelos, o Jubileu, proprietário da Canta Galo. A estrutura conta com bases e carros de apoio, alimentação e hidratação, além de acompanhamento de mecânico e guia biker com experiência na região.
Como será cada etapa da prova
> 1ª etapa (20 de outubro)
Prólogo (contrarrelógio), em Mucugê
Distância: 24,2 quilômetros
Desnível positivo: 384 metros
Tempo de corte: 3 horas
> 2ª etapa (21 de outubro)
Maratona (travessia), de Mucugê a Rio de Contas
Distância: 139 quilômetros
Desnível positivo: 3.096 metros
Tempo de corte: 10 horas (até o quarto PC) e 11h30 (até a chegada)
> 3ª etapa (22 de outubro)
Circuito cross-country (individual), em Rio de Contas
Distância: 34,6 quilômetros (cinco voltas de cerca de sete quilômetros)
Desnível positivo: 915 metros (183 metros por volta)
Tempo de corte: Não há (vale a tomada de tempo)
> 4ª etapa (23 de outubro)
Maratona (circuito), largando e chegando em Rio de Contas
Distância: 76,2 quilômetros
Desnível positivo: 2.075 metros
Tempo de corte: 9 horas
> 5ª etapa (24 de outubro)
Maratona (circuito), largando e chegando em Rio de Contas
Distância: 92,3 quilômetros
Desnível positivo: 2.147 metros
Tempo de corte: 9 horas
> 6ª etapa (25 de outubro)
Maratona (travessia), de Rio de Contas a Mucugê
Distância: 136 quilômetros
Desnível positivo: 2.698 metros
Tempo de corte: 10 horas (até o quarto PC) e 11h30 (até a chegada)
> 7ª etapa (26 de outubro)
Maratona (circuito), largando e chegando em Mucugê
Distância: 61,8 quilômetros
Desnível positivo: 926 metros
Tempo de corte: 6h30
Fotos por Alexandre Cappi
TERRA ARDENDO: A equipe Ice Racing, do norte-americano
Paul Romero (acima) e do brasileiro Heleno Borges, na Brasil Ride
A disputa deste ano se revelará ainda mais difícil, com quatro etapas renovadas, distância total de cerca de 570 quilômetros e um novo recorde: 12.240 metros de subidas acumuladas (1.267 metros a mais que em 2012). Grande parte delas está guardada para o final da competição. “Para os amadores, será superação até o fim. Já para os atletas profissionais, devido ao grande desnível da sexta etapa, a disputa promete ser definida só no último dia”, explica Mario Roma, empresário e diretor do evento. “Também deixamos a Brasil Ride mais dinâmica, refazendo o percurso de algumas etapas.”
Outros experientes atletas do país também estão confirmados, como Adriana Nascimento, nove vezes campeã nacional de mountain bike, e Abraão Azevedo, dono do título mundial máster de 2011, que fará dupla com o holandês Bart Brentjens, primeiro atleta a levar o ouro olímpico no MTB, em Atlanta 96. “Depois de ouvir boas histórias de alguns companheiros, me interessei pela Brasil Ride e competi no ano passado. Acredito que, em um país do tamanho do Brasil, com a natureza mais linda que já vi no mundo, o mountain bike é o esporte ideal para se explorar lugares mágicos como a Chapada Diamantina”, conta Bart.
O holandês já esteve na Cape Epic e curte a diferença entre os dois eventos. “A Brasil Ride nos dá a vantagem de poder conhecer melhor os outros ciclistas. Na Cape Epic, há mais atletas, então muitas vezes você nem vê a maioria deles durante a semana”, compara. “A organização com dois pontos de largada e chegada é perfeita. A partir daí, saímos para trilhas incríveis, como na etapa de contrarrelógio, que tem um percurso extremamente técnico e desafiante”, completa.
Entre um pedal e outro, os ciclistas que vêm de fora costumam interagir com as comunidades locais, em iniciativas da organização. Também não é raro encontrar um deles tomando banho de cachoeira após cada etapa. Como a Brasil Ride fecha a temporada internacional de competições da UCI, alguns inclusive esticam a estada no Brasil para passar férias. Além de Bart Brentjens, a Brasil Ride 2013 atrairá atletas gringos consagrados, como suíço Christoph Sauser, atual bicampeão mundial de cross-country, e os portugueses Luís Leão Pinto e Tiago Ferreira, vencedores da ultramaratona em 2012. “Para este ano, minha preparação passa por um volume alto de treino, entre cinco e sete horas diárias, além de treinamento específico de força e velocidade. Também faço estágios de 25 dias em altitude, o que me traz vários benefícios metabólicos”, conta Luís. Acostumados a competir individualmente, na Brasil Ride os mountain bikers têm de superar mais um desafio ao “encaixar” um bom pedal em dupla. Pelas regras, os participantes não podem se separar por uma distância maior que dois minutos.
NA FOGUEIRA: Nesta foto e acima, o pelotão de mountain bikers na chapada; abaixo,
o cascalho branco da Chapada
“Existirão bons e maus momentos, e isso implica um grande entendimento entre a dupla. Por isso, bom senso e respeito são fundamentais”, conta Luís. O brasileiro Henrique Avancini concorda. “Correr em dupla muda muita coisa. Você não precisa se preocupar apenas com a sua sensação na prova, mas com a do seu companheiro também. No meu caso, tenho um ótimo relacionamento com o Sherman, o que ajuda muito. Sou mais explosivo, já ele é mais constante, porém somos parecidos na parte técnica”, acrescenta o atleta, que vai lutar pelas camisas amarela (líder geral) e branca (melhor das Américas). Também estarão em disputa as camisas laranja para a dupla feminina, a verde para duplas mistas, além de azul para a categoria máster (acima de 40 anos) e rosa para grand máster (mais de 50 anos). Já na categoria corporativa (outra novidade da prova neste ano), é possível competir em três pessoas, se revezando nas etapas.
Os atletas inscritos contam com estrutura para dormir em tendas individuais no acampamento coletivo e itinerante da Brasil Ride, além de assistência mecânica, alimentação e uma mala para transportar os equipamentos durante a semana. Para 2013, houve tanta procura que as inscrições estão na lista de espera. A organização já está recebendo reservas para 2014 (ver quadro abaixo).
“Em 2013 vamos incluir visitações a pontos turísticos da chapada, como os Poços Azul e Encantado e o Buracão. Também estamos recebendo acompanhantes de atletas da Brasil Ride, organizando roteiros pelo parque nacional”, completa Jubileu. Um pacote do Ride Trip tem valor médio de R$ 1.900 por pessoa, com vagas limitadas – inscrições disponíveis até o dia 14 de outubro.
Em 2013, a Brasil Ride contará também com uma prova de maratona cross-country, no último dia do evento. É possível fazer inscrição à parte e pedalar no mesmo circuito dos atletas profissionais. O trajeto fechará a edição deste ano e também será válido como a final do campeonato baiano de MTB. “Com iniciativas assim, queremos fomentar ainda mais a cena local e dar oportunidades para outros mountain bikers, neste que é o grande intuito da competição: mais do que uma prova, ser uma experiência inesquecível, uma etapa da vida de cada um”, diz Mario.
SOL A PINO: O atleta Antonio Silva, da equipe Casca Grossa, encara uma das duríssimas
montanhas da Brasil Ride
Pobres panturrilhas