No início de setembro, o paratleta Raphael Nishimura, que neste ano foi destaque no Prêmio Outsider da revista Go Outside, escalou pela primeira vez os paredões de calcário de Arcos, uma das mais formosas formações de Minas Gerais. Tudo isto aconteceu depois que Rapha realizou uma cirurgia seríssima para amenizar sua distonia muscular, síndrome que compromete os movimentos e músculos, mas que nunca impediu em nada o atleta de estar na pedra. De volta à ativa, ele conta sobre suas novas impressões e fase de escalada.
Por Raphael Nishimura
Toda vez que conto sobre uma viagem nova escrevo como o lugar é incrível. Mas a verdade é que Arcos é muito, muito incrível. Mesmo. A viagem até lá começou na sexta-feira (dia 30 de agosto). Foram 500 quilômetros ao lado de bons amigos: nosso “bonde” da escalada, como nós apelidamos. A região da cidade de Arcos, em Minas Gerais, possui um dos maiores afloramentos de calcário do mundo. Existem ainda muitos setores ainda nunca desbravados e outros setores que jamais receberam uma via. Infelizmente, parte do motivo é a intensidade da mineração. Durante a viagem, escalamos um setor protegido, chamado Rastro de São Pedro, que possui 91 vias esportivas e outras móveis ou mistas. Vale muito à pena conhecer.
Agora sobre a escalada: sofremos um pouco no começo, pois o pé escorrega muito. Mas em compensação a mão sofre bem menos, já que as agarras são mais polidas. Escalar em Arcos foi muito especial, porque descobri que estou com uma movimentação melhor após a cirurgia e consigo usar mais as pernas ou dosar a força na via. É verdade que no indoor ainda estou no mesmo nível de antes da cirurgia, mas na rocha as coisas são bem diferentes. E para melhor! No primeiro dia escalei cinco vias e consegui fazer duas cadenas (um 5º e um 6º grau). Mas o diferente é que agora consegui parar na via para descansar, o que antes da cirurgia era impossível. Antes, eu não podia escalar dois dias seguidos na rocha, porque era muito cansativo. Mas, desta vez, escalei e consegui escalar melhor ainda e em vias ainda mais altas (média de 20 metros)
Este dia marcou a minha vida na escalada, a segunda via que eu escolhi era um 6º negativo (Passeio das Patacas), com agarras grandes. Eu nunca havia escalado em negativo. Eu recebi os betas do Aloysio e fui subindo sacando as costuras da via e para "ajudar". Todas as costuras eu retirava com a mão direita, a mão que eu não tenho muita coordenação motora, era um sacrifício retirá-las! Para a minha surpresa saiu mais duas cadenas.
Parece repetitivo, mas eu aprendi muito nessa escalada: novas movimentações, melhoras na técnica, superação de grau na via, melhora no condicionamento físico, além de aprender a usar as áreas de escalando. Ou seja: só coisas boas. Viajar é sempre bom, com amigos e escalada então. Foi incrível.
Rapha volta com tudo para a pedra e manda, pela
primeira vez, escaladas em Arcos (MG)