Por Maximo Kausch
Meu projeto da "caça" às montanhas andinas com mais de 6000 metros vai a todo vapor. Acabei de bater um recorde importante: tornei-me a pessoa a chegar a mais cumes de montanhas de altitudes extremas do mundo, e desci o Coropuna (6425m) ontem contabilizando 59 cumes acima de 6000 metros nos Andes. Essa já é uma grande conquista no esporte, mas acima de tudo significa mais mapas e rotas para que outros montanhistas (brasileiros, espero eu) consigam chegar cada vez mais longe. Porém, para finalizar meu projeto de escalar todas essas montanhas da região andina, ainda tenho pelo menos mais 57 cumes pela frente.
Na hora, especialmente nessa última montanha, bater esse recorde era a última coisa a passar pela minha cabeça. Eu só pensava em como descer dali, pois estava com neve até a cintura. Para isso, tive que fazer cume no Coropuna Norte, que deve ter duas ou três ascensões, para então poder descer a crista oeste dele. Caso contrário, teria que passar a noite lá. Aquela sensação de "Uau, bati um recorde mundial" só veio mesmo no dia seguinte, quando estava descendo a montanha e olhei para trás.
Nesta última etapa do meu projeto, escalei o Chachani (6057 m), o Ampato (6311 m), o Coropuna (6425 m) e o Coropuna Norte (6407 m). Nestes dois últimos, peguei neve até a cintura e foi muito difícil me locomover com tanta neve. Cada passo era um sacrifício. Não tinha como eu desistir do Coropuna Norte, pois a única rota que estava desprovida de tanta neve era a própria crista oeste da montanha por onde eu ia descer. Isso quer dizer que eu teria necessariamente que fazer esse cume para poder dormir ainda naquele dia.
Apesar do sacrifício, foi uma ótima experiência. Pouco se sabe sobre esse gigante complexo de três cumes principais. Comigo estavam os brasileiros Denni Morais, Marcelo Barreto, Verônica Mambrini e Yoshimi Nagatani. Porém infelizmente eles não conseguiram fazer o cume comigo. Fomos com uma camionete 4×4 alugada para lugares realmente remotos.
No Ampato, escolhi a crista oeste da montanha e acabei saindo do acampamento no dia 8 de agosto à noite e atingindo o cume no dia 9 de manhã. Do lugar que acampei temporariamente, foram 1700 metros de desnível até o cume. Não encontrei nenhum sinal de exploração humana no caminho, pois a rota mais frequentada é pelo outro lado da montanha. No fim os pequenos degraus que eu enxergava na crista eram torres de 30 ou 40 metros de altura. Tive que escalar alguns bons trechos de rocha com muita exposição. No último trecho peguei neve até a cintura e cheguei bem cansado ao cume. No entanto era apenas uma parcela do caminho, pois eu ainda tive que descer até meu acampamento, a 4600 metros, e continuar até o carro localizado a nove quilômetros dali, onde meus amigos me esperavam. Foi um total de 28 quilômetros e um cume de 6300 metros em 21 horas. Um perrengue que eu não conseguiria ultrapassar se não tivesse uma galera como aquela me dando apoio. Estávamos a 33 quilômetros de estradas de terra precárias até um pequeno povoado no meio dos Andes chamado Huamco, que deve ter uns 200 habitantes.
Já no Chachani foi bem diferente. Trata-se de uma montanha bem explorada, onde existem até trilhas! O Denni Morais e o Marcelo Barreto também atingiram o cume. Foi uma bela experiência e uma saída de rotina daquelas montanhas inexploradas que conheço tão bem. O Chachani fica perto de Arequipa, no Peru, e há um caminho de 4×4 bem marcado até o cume. Assim foi minha semana no Peru. Agora vamos ver o que o vento me trará daqui para frente.
Maximo Kausch é alpinista e guia de montanha. Nascido na Argentina, mas criado no Brasil, já escalou montanhas míticas, como o Cho Oyu (8.201metros, no Tibete), o Ama Dablam (6.815 metros, no Nepal), o Lhotse (8.516 metros, no Nepal) e o Gasherbrum II (8.035 metros, no Paquistão). É um dos criadores do site Alta Montanha (altamontanha.com), do site Gente de Montanha (gentedemontanha.com) e colunista do site da Go Outside.
ELE DE NOVO: Maximo no cume do Capurata, um novo "6000 metros" encontrado por ele