Na terra do fogo e do gelo

A bióloga brasileira Andrea Schmidt, apaixonada por mergulho, escreve a seguir sobre sua viagem explorando as belezas aquáticas da Islândia. Ela também é fotógrafa de natureza (saiba mais aqui)


Veja a seguir fotos da viagem de Andrea

Por Andrea Schmidt

Islândia, o país do gelo e fogo, lugar onde você encontra paisagens surpreendentes, como vulcões, glaciares e lagoas. Certamente um destino de esportes de aventura que vão de trekking a escalada no gelo. E este país cercado pelo mar ainda tem outra vantagem: grandes picos para a prática de mergulho.

A nação figura entre os lugares mais gelados do mundo para se mergulhar. E com razão. A água costuma estar em torno dos 2 graus Celsius e, do lado de fora, os ventos são frequentes e fortes. Mas quem já viu fotos do mergulho em Silfra sabe que vale a pena enfrentar o frio para ver de perto um visual único.

Silfra é uma fenda de água doce entre as placas tectônicas da América do Norte e da Eurásia. Foi formada conforme as placas separavam-se lentamente. É um fenômeno único no planeta, onde além da incrível paisagem entre os dois continentes é possível encostar uma mão em cada placa tectônica à medida que a fenda afunila.

Está localizada no Lago Þingvallavatn, no Parque Nacional Þingvellir, a mais ou menos 50 minutos de Reykjavik, capital do país, e faz parte do tour para o Golden Circle. Depois do mergulho, você faz o percurso de carro até cachoeiras e os famosos gêisers.



O mergulho é de dificuldade baixa. Uma leve correnteza te leva sempre em frente, não precisando nadar forte em nenhum momento. A visibilidade chega a mais de 100 metros, e a água é tão cristalina que a sensação é de se estar flutuando.

A bela paisagem é composta basicamente de rochas e areia, sem a presença de nenhuma forma de vida ou vegetação. Em alguns momentos chega a ser surreal mergulhar entre dois paredões rochosos enormes com a tonalidade da água de um azul intenso que no final do mergulho mescla-se com verde, formando um cenário até então nunca visto por mim antes.

Algumas vezes durante o percurso pela fenda a profundidade subia de 20 para 5 metros, e tínhamos que nos arrastar entre as pedras para passar, até que voltava aos 20 metros de novo. E, quase no final do mergulho, o caminho nos levou até uma lagoa, de água azul e verde, chamada por alguns de a verdadeira lagoa azul da Islândia.

Depois de enfrentar 35 minutos em uma água de 2 graus Celsius, o frio que estava fora era imperceptível, até porque não imaginávamos o que vinha pela frente: um caminho de aproximadamente 100 metros da lagoa até o carro que estava parado do outro lado da estrada.

The "deadwalk" foi como o instrutor chamou esse caminho, e eu entendi perfeitamente o motivo. Caminhar 100 metros com 20 quilos de equipamento nas costas não foi fácil, ainda mais com os fortes ventos que quase me arrastavam. Mas eu sobrevivi com ajuda do instrutor quase no final do caminho, quando não estava mais aguentando.

Os mergulhos são feitos com roupa seca e luvas grosas de 7 mm. O diving center que eu contratei para me levar era excepcional e, no intervalo entre os dois mergulhos, eles trocaram o meu capuz e minhas luvas por outros secos, o que ajudou muito a controlar o frio no intervalo de superfície. E também forneceram roupas quentes, meias de tecido grosso para usar por baixo da roupa seca e chocolate quente ao final dos mergulhos. Resumindo, a única coisa que eu precisei levar foi uma troca de roupa quente para usar na volta para o albergue.



Como objetivo principal da viagem à Islândia, eu tinha grandes expectativas quanto a esse mergulho, mas surpreendentemente a experiência superou o que eu imaginava. Nenhuma foto ou vídeo consegue passar a verdadeira emoção de mergulhar nas águas azuis de Silfra, até o frio se torna uma parte importante depois, com ótimas historias para contar.

Os instrutores do Dive Center Iceland Dive Team são muito atenciosos e divertidos, o que tornou o dia ainda mais agradável. E, para fechar com chave de ouro, ao final dos mergulhos compramos uma camiseta com os dizeres “Coldisjust a stateofmind”, ou “O frio é psicológico”.