Pedro é ouro!

“O Brasil merece ouro! C—-lho!” Foi com esse desabafo que o brasileiro Pedro Barros concluiu sua participação nos X-Games 2013, que rolaram em Foz do Iguaçu no último fim de semana e reuniu os maiores nomes do esporte de ação do Brasil e do mundo.

Dez atletas da modalidade mostraram, na difícil área do Skate Park, o motivo de pertencer ao seleto grupo de convidados. Todos os skatistas da competição realizaram ótimas manobras, inclusive os eliminados na primeira fase da disputa.

O dinamarquês Rune Glifberg, por exemplo, foi melhorando sua participação na fase decisiva a cada apresentação. Em uma das linhas mais fluídas da final, ele completou um inédito frontside heelflip na parte funda da área, o que lhe rendeu uma medalha de prata. Já o brasileiro Pedro Barros deu show à parte: suas manobras foram as mais altas, suas linhas, as mais rápidas, e as manobras de bordas, as mais extensas. Pedro esbanjou talento e confirmou seu favoritismo ao conquistar a terceira medalha de ouro nos X-Games. Clique aqui para saber mais sobre esse e outros resultados em outras modalidades.

Abaixo postamos uma reportagem especial que fizemos sobre o brasileiro pouco antes dos jogos em Foz do Iguaçu.

Por Mario Mele


É OURO: O skatista Pedro Barros que confirmou seu favoritismo nos X-Games 2013
Foto: Red Bull Content Pool

Por Mario Mele


REVELAR TALENTOS ao grande público é um dos grandes méritos dos X Games, as Olimpíadas dos esportes radicais, que neste ano acontecem entre 18 e 21 de abril em Foz do Iguaçú. Com apenas 13 anos, o skatista californiano Ryan Scheckler foi medalha de ouro em 2003 e, pouco depois, já era um dos atletas mais bem-sucedidos de seu esporte. Passou a ser patrocinado por grandes marcas, e a fama lhe rendeu um reality show com transmissão mundial na TV. Com o brasileiro Pedro Barros, de 18 anos, não foi muito diferente. Aos 15 anos, ele derrotou na modalidade skate park dos X Games lendas como os norte-americanos Andy Macdonald e Bucky Lasek, e desde então transformou-se no grande nome do skate. E é por isso que, durante os X Games no Paraná, todas as atenções estarão voltadas para Pedro e sua luta pela terceira medalha de ouro na competição.

Com um estilo capaz de fazer até quem nunca andou de skate aplaudi-lo de pé, o catarinense é overall: coleciona campeonatos de bowl pelo mundo e passeia com tranquilidade por outras vertentes do skate, do street à megarrampa. Na skate park dos X Games, ele é o cara a ser batido, e o show está garantido, qualquer que seja sua colocação. A seguir, Pedro fala sobre adversários, ídolos, sonhos e como é ser uma referência unânime em seu esporte com tão pouca idade.


Competição e ídolos

“Meus ídolos serão sempre meus ídolos, independentemente de eu ganhar deles ou não. Superá-los nunca foi meu objetivo principal. Em minha primeira vitória como profissional, eu tinha 14 anos. Como estou nisso desde pequeno, hoje o sentimento de derrotá-los é meio vago para mim. Foi animal a primeira vez que ganhei o Bowl-A-Rama, o Pro-Tec ou os X Games, claro, porém a minha emoção foi mais pela vitória no evento, pois são competições com as quais sempre sonhei. Uma coisa que muita gente não entende no skate é que ganhar um campeonato ou circuito não te faz o melhor skatista, e sim o melhor competidor. O [skatista dinamarquês] Rune Glifberg anda bem mais do que eu. Ele só perde para os próprios erros. Além dele, há caras como Raven Tershy e Grant Taylor que podem me vencer facilmente nos X Games.”


Foto: Red Bull Content Pool


Treinos

“Só quando vou competir na modalidade half pipe eu me preparo fisicamente. Caso contrário, o máximo que faço é fisioterapia, para manter o corpo no lugar. Geralmente não treino para nada, só ando de skate todos os dias com meus amigos.”


Influências

“Sempre andei de skate ouvindo música no talo. Tenho amigos músicos dentro e fora do Brasil. Bandas e artistas como Marcelo D2, Sepultura, Raimundos e Agent Orange frequentam meu meio e me fizeram ser musicalmente seletivo. Como skatista, aprendi a história do esporte e me espelhei nela. Assistia muito aos vídeos de Jay Adams, Christian Hosoi e John Cardiel andando com um som pesado rolando no fundo. Meu estilo foi desenvolvido em cima dessas influências. Um skatista do street que tem influência e estilo parecidos – na música e no skate – é o [colombiano] David González.”


Julgamento

“No bowl, os juízes dão muito valor às manobras técnicas, mas andar com velocidade e criatividade é bem mais difícil. É diferente do street e do half pipe.”


Superstar

“Eu odeio o título de superstar. Para mim, superstar é alguém que gosta de estar na mídia mostrando seu lado pessoal. Eu sou respeitado pelo skate, pelo que tenho feito em cima do carrinho. Dificilmente vou participar de um programa de TV para ficar de blá-blá-blá. Sou skatista, só apareço se for para promover o skate, e não a minha cara.”


Conquista

“Meu maior bem material são as pistas que eu pude construir com a ajuda do meu pai. Elas são a alegria de muita gente, e estão sempre abertas para qualquer um que realmente queira andar de skate.”


Sonho

“O maior prêmio que um skatista pode receber é o Skater of the Year, oferecido pela revista norte-americana Thrasher. Sinceramente, eu ficaria muito feliz com esse reconhecimento, mas acho que ainda estou longe de conseguir. Se um dia ele vier, será ótimo, caso contrário não fará diferença na minha vida. Desejo poder viver o que vivo hoje para sempre.”

(Reportagem publicada originalmente na Go Outside de abril de 2013)