Do esqui para as ultramaratonas


FORÇA: Mirlene durante a subida casca-grossa da Two
Oceans Ultra Marathon

Por Mariana Mesquita

Todo ano milhares de corredores se reúnem na Cidade do Cabo, na África do Sul, para participar da Two Oceans Ultra Marathon, prova de 56 quilômetros. A competição é conhecida pela beleza de suas paisagens e pelo alto grau de dificuldade.

Neste ano, o evento aconteceu em dia 31 de março. Entre os 14 brasileiros inscritos, a atleta Mirlene Picin, conhecida como representante no país na modalidade ski cross country, defendeu a bandeira verde e amarela com raça: ela concluiu o desafio em 4 horas, 53 minutos e 34 segundos, ficando na 90ª colocação no geral e tornando-se a primeira brasileira a figurar no "Top 100" da prova. Com esse resultado, ela bateu o recorde brasileiro da prova, que era de Amauri Silva, alcançado em 2011 com o tempo de 4 horas, 54 minutos e 33 segundos.

Em 2013, o sul-africano David Gatebe foi o vencedor do desafio, com o tempo de 3 horas, 8 minutos e 54 segundos. Confira abaixo um bate-papo com Mirlene.


GO OUTSIDE: Você é conhecida como grande representante do Brasil em competições de esportes de neve. Como foi parar nas ultramaratonas?

MIRLENE PICIN: Minha relação com a corrida veio depois do esqui. Como o ski cross-country é um esporte muito exigente fisicamente, a corrida se tornou uma ferramenta dos treinos de verão para melhorar meu desempenho na neve. Influenciada pelo meu treinador, Beto Carnevale, fui pegando gosto, e os treinos de corrida me levaram as competições.

Como foi o treinamento para a ultra sul-africana?

Eu treinei pouco para essa prova, não tinha muito tempo, mas foi um treino muito bem direcionado. Minha temporada de neve terminou no dia 22 de fevereiro de 2013, com minha participação no mundial de ski nórdico em Val di Fiemme, na Itália, defendendo a equipe brasileira. Por todo esse período eu fiquei fora da corrida. Meu treinamento específico para essa prova, planejado pelo Beto, se iniciou no dia 24 de fevereiro. Foram cinco semanas antes da prova. A base dos treinos foram corridas longas com baixa intensidade. Realizei dois “longões” chaves para o desafio, um de 3h40min, percorrendo 37 quilômetros, e outro de 4 horas fechando 41 quilômetros. Eu tive uma fratura por estresse no final de setembro do ano passado, por isso tínhamos que ser cautelosos.

Depois de tantos quilômetros, qual momento vai ficar para sempre?

A paisagem é linda. O percurso é duríssimo, as subidas começam depois do quilômetro 30 e vão até o final da prova. Mas dois fatos me marcaram muito: primeiro vi quenianos da elite deitados chorando de dores ao lado da estrada ou caminhando nas subidas finais, pois na tentativa de vencer a prova “quebraram”.