Tesouros do Tocantins

A jornalista Paloma Denaro conta aqui como foi viajar pelo Jalapão, localizado em meio à imensidão da Serra Geral, dois lugares que merecem ser visitados, preservados e reverenciados, com praias paradisíacas e natureza praticamente intacta


Por Paloma Denaro
Fotos
Luiz Begliomini Jr.


Dunas de areia dourada, no Jalapão

Apreciar o nascer do sol do alto da serra, o entardecer de cima do morro, vendo o sol se por bem no meio da Pedra Furada… Experimentar a magia de entrar num fervedouro ou a falta de ar provocada não tanto pelo cansaço, mas pelo impacto de chegar ao topo do monte e deparar com gigantescas dunas de areia dourada, deixar-se levar pelo vento… Sentir a liberdade, desfrutar de banhos de cachoeira, brincar em correntezas de rios cristalinos, aproveitar praias de água doce e deserta… Explorar os rios da região, descendo as volumosas corredeiras em botes de rafting ou ducks. Que tal a sensação de voltar a ser criança ou, por que não?, despertar a criança que adormece dentro de você? Sozinho ou acompanhado, vale muito a pena visitar as Serras Gerais e o Parque Estadual do Jalapão, dois destino svizinhos que não podem faltar na agenda de ecoturistas e aventureiros.

Foi assim que resolvemos entrar o ano de 2013: longe da badalação, no meio do cerrado, ao som dos pássaros, das cachoeiras, dos rios e, muitas vezes, ao som do silêncio.


NO MERGULHO: Cachoeira da Formiga e sua água cor esmeralda

Serras Gerais

Começamos nosso tour pelas Serras Gerais, região sudeste do Tocantins onde estão os municípios mais antigos do Estado: Natividade, Almas, Dianópolis e Taguatinga. Antes de explorarmos a natureza local, uma paradinha em Natividade, primeira cidade tocantinense, que abrigou cerca de 40 mil escravos no século 18, quando o ouro era abundante na região. Além das ruínas da Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, construída em alvenaria de pedra por negros livres, o centro histórico, tombado pelo IPHAN, lembra um cenário de filme antigo, com casas em estilo lusitano. Isso tudo sem falar no artesanato em ouro e prata, cultura passada entre as gerações e no famoso biscoito “amor oerfeito” da casa de Dona Naninha, parada obrigatória.

Hora de seguir viagem e, agora sim, entrar no mato, quase sempre em estradas estaduais, mas sempre de terra, ou melhor, areia. Os guias garantem que as condições das estradas melhoram nesta época, por causa das chuvas, que deixam a areia mais batida, provocando menos atolamentos. Seguindo a TO-040, chegamos ao cânion encantado e cachoeirinha. O nome do cânion condiz com o que se vê, já o diminutivo não revela exatamente a grande cachoeira que brota no alto dele. Presenteados com o sobrevoo de dezenas de andorinhas, nosso visual ficou ainda mais lindo. Para finalizar, um pôr-do-sol bem colorido, desses que quem mora em cidade grande não está acostumado a ver, no Arco do Sol, um lugar isolado, no município de Almas, onde o som das araras é tudo o que se pode ouvir e de onde trouxemos imagens incríveis, que ficarão guardadas na memória.

Em Dianápolis, visitamos a lagoa Bonita. Por ser um berçário natural de peixes, um snorkle se faz necessário para curtir o que há de melhor nesse oásis. Fechamos o tour pelas Serras Gerais com chave de ouro: cachoeira do Cavalo Queimado e cachoeira da Fumaça, outros dois paraísos próximos dali. Na primeira, é possível até estender a canga e curtir uma praia, quase particular, de água doce, com vista para a queda d´água. Já a da Fumaça impressiona pelo volume e pela maneira como se chega até ela. Seguimos uma trilha bem rápida e, diferentemente de outras cachoeiras, tomamos banho atrás da queda, vendo a cortina de água se formar ali, a nossa frente.

O rio Balsas, que forma a cachoeira da Fumaça, é o limite entre as Serras Gerais e o Jalapão. Oficialmente, então, estávamos começando uma nova viagem. Novas paisagens, novos amigos… Naquela noite dormimos em Ponte Alta, que, juntamente com os municípios de Mateiros, São Félix e Novo Acordo, formam o Parque Estadual do Jalapão, ainda por muitos conhecido como deserto do Jalapão.


VISUAL: Fervedouro da formiga

Deserto do Jalapão

Afinal, por que chamar de deserto uma região com tantos oásis? Segundo Rafael Moraes Cavalcante, turismólogo da Rota da Iguana, que nos levou até lá, a palavra deserto, nesse caso, está relacionada à falta de pessoas e não à falta de água. “A região é um ponto de passagem para viajantes e tropeiros desde o fim do século XVIII, e todos que viajavam por ali sempre souberam que, apesar da abundância de água, qualquer imprevisto seria um grande problema pela dificuldade de encontrar alguém para ajudar ou dar abrigo”, explica. E completa: “Ao passar de carro, isso não fica muito claro, mas tente cruzar a região a pé, a cavalo ou de bicicleta, e você entenderá bem o conceito de deserto que dão ao lugar".

Parque Estadual do Jalapão

O título de parque estadual, por enquanto, parece mais um mito, já que a passagem é livre a qualquer hora e lugar. Os únicos atrativos que realmente estão sob domínio público são a cachoeira da Velha, Prainha do Rio Novo e as Dunas. Os outros lugares que visitamos no Jalapão estão em áreas particulares e, para usufruir do local, é cobrada uma taxa (R$ 5 cada).

O Jalapão leva este nome por causa da planta trepadeira nativa da região, jalapa-do-brasil. Abrange uma área de 160 mil hectares e guarda ricas surpresas entranhadas no meio do cerrado e das veredas. Palco do programa Survivor, da rede de TV norte-americana CBS, em 2008, o parque também ficou muito conhecido como uma das etapas mais temidas do Rally dos Sertões, competição internacional entre carros, caminhões e motos possantes e de alta tecnologia, que acontece todo ano no interior do Brasil.

Para nós, o Jalapão ficará conhecido como um lugar especial, de beleza rara e paraísos escondidos. A 14 km de Ponte Alta está o cânion Sussuapara, que, apesar de ter sido praticamente esvaziado por causa do assoreamento do rio, ainda é um lugar para se visitar, especialmente perto de meio-dia, quando uma fresta de sol consegue iluminar a vegetação e o cânion encharcados pela água que forma uma pequena cachoeira ao fundo. Na mesma tarde visitamos a cachoeira do Soninho e nos banhamos no rio de mesmo nome. A correnteza ali é forte, um convite para brincar com as águas e se refrescar. Esse dia terminou com um lindo espetáculo que a natureza nos preparou… O sol se pôs bem no furo da pedra, no Morro da Pedra Furada, em Almas.

Cachoeira da Velha, Prainha do Rio Novo e Dunas foram as atrações do segundo dia no parque e, cada uma que visitávamos nos fazia pensar: será que alguma vai conseguir superar esta? A resposta que nos vinha, ao passar pelos pontos era: não. Realmente, no Jalapão, um lugar não se sobrepõe ao outro. A sensação é de complemento. Assim sendo, cada lugar foi único. Fizemos um piquenique na passarela que leva ao mirante da volumosa e imponente Cachoeira da Velha, mas o banho ficou para a Prainha do Rio Novo, localizada a uns 20 minutos de caminhada dali. Uma verdadeira praia de água doce, com uma cachoeirinha ao fundo, que tal? Para fechar em alto estilo, assistimos ao pôr-do-sol do alto das famosas dunas douradas do Jalapão. A subida e a chegada ao topo são impactantes. São dunas com cerca de 15 metros de altura, formadas há cerca de 50 anos, apenas. Um visual lindo, mas que precisa ser preservado. A vontade de rolar até lá embaixo é grande, mas, atenção! A prática do sandboardé proibida, embora muitos insistam em desrespeitar.

Havia ainda mais surpresas por vir. Levantamos antes do sol no outro dia, na cidade de Mateiros, a fim de vê-lo despontar lá do alto da Serra do Espírito Santo. E valeu muito a pena a subida de 40 minutos. Como adolescentes que esperam a chegada do namorado, lá estávamos nós, aguardando o astro-rei. E ele não decepcionou. Altivo e brilhante ele apareceu, pontualmente às sete horas. Meia horinha a mais de caminhada lá em cima e fomos para o outro lado avistar as dunas, onde tínhamos estado no dia anterior. Depois do colírio para os olhos, fomos ao famoso Fervedouro, um dos lugares mais conhecidos e procurados no Jalapão e que encanta a todos. Não é só o oásis que impressiona. A piscininha natural, de água cristalina, rodeada por bananeiras guarda um segredo. Ali é uma nascente de água mineral e, com a pressão da água que brota, é impossível afundar. Realmente nos divertimos muito nesse lugar. E há vários fervedouros espalhados pelo Jalapão… O Firmeza, da Formiga e do Alecrim. Por falar em Formiga, a Cachoeira de mesmo nome também é parada obrigatória. Suas águas de cor verde esmeralda a fizeram uma das mais belas do Jalapão.

Almoçamos na comunidade de Mumbuca, onde vivem cerca de 60 famílias descendentes dos quilombolas. Foi lá também que nasceu o artesanato com o Capim Dourado, típico da região, principal fonte de renda das comunidades que residem no interior do Parque.

Já era quase hora de voltar, mas antes resolvemos descer 18 km do rio soninho num rafting cheio de corredeiras, para viver um pouco mais de emoção e adrenalina e levar estas sensações ainda frescas para casa.

O caminho de volta a Palmas percorre estradas judiadas, mas com um visual belíssimo em quase todo o percurso. Finalizamos com uma foto ao lado dos guias, Delei e Genival e do grupo que dividiu toda a alegria dessa viagem com a gente. É isso aí, pessoal! Conheçam o Jalapão!

Como chegar

Sempre em uma 4×4, saímos de Palmas pela TO -070 até Porto Nacional, onde pegamos a TO-050 até Silvanópolis. Nesse trecho a estrada vira BR-010 até Natividade, onde tomamos a TO-280 até Dianópolis (para ir ao cânion encantado usamos a TO-040). De Dianópolis a Ponte Alta, passando por Rio da Conceição, fomos pela TO-476. De Ponte Alta para Mateiros, TO-255, de Mateiros para São Félix, TO-110 e, por fim, de São Félix para Palmas, fomos pela TO – 030. Neste link você encontra o mapa rodoviário do estado: http://www.mapas-brasil.net/mapas-pdf/tocantins.pdf, mas o ideal mesmo é contratar empresas especializadas, já que nem sempre as placas indicam o melhor caminho, dentre tantos que foram abertos para chegar aos atrativos principais da região.

Quem leva:

Rota da Iguana
rotadaiguana.com.br

40 Graus no Cerrado

40grausnocerrado.com.br

Jalapão:

Korubo
korubo.com.br

Pisa Trekking
pisa.tur.br