Treeking divino

A jornalista Paloma Denaro conta aqui como foi fazer a espetacular travessia Petrópolis-Teresópolis – carinhosamente apelidada de “Petê-Terê” –, um trekking de 30 quilômetros entre penhascos de mais de 2.000 metros de altitude, no Parque Nacional da Serra dos Órgãos (RJ)

Por Paloma Denaro
Fotos
Luiz Carlos Begliomini


VISUAL: Vale do Bonfim, Rio de Janeiro

Que tal preparar-se para uma viagem diferente? Está ncluído no “pacote”: atividade física intensa ao ar livre, novas amizades, paisagens de tirar o fôlego (literalmente), além de uma vista de 360 graus com as cidades de Petrópolis, Teresópolis e Rio de Janeiro. Trata-se de uma das travessias mais famosas e charmosas do Brasil, conhecida como “Petê-Terê”, dentro do Parque Nacional da Serra dos Órgãos (PARNASO).

Atravessar a pé de uma cidade a outra não chega a ser o feito mais fácil de se concluir. Por isso meu alerta logo no início é: prepare-se! Há quem percorra os 30 quilômetros que ligam as pitorescas e imperiais Petrópolis e Teresópolis em um só dia, mas, se você não é atleta de montanha, corrida de aventura ou algo parecido, não é o caso. O melhor mesmo é se planejar, organizar e só aí se lançar numa aventura de dois ou até três dias. Lembre-se também que, se você não é um expert em trilhas, deve contratar um guia. A trilha não chega a ser fechada, mas há muitos que se perdem por falta de conhecimento da área. Embarcamos nessa eu e Luiz, meu namorado e fotógrafo oficial das nossas aventuras.

O começo: primeiro dia


Abrigo do primeiro dia de trekking



Luiz e Paloma durante trekking pela região. Ao funo o Dedo
de Deus e cadeia montanhosa

J
á fiz algumas travessias e por experiência sei que a primeira parte costuma ser a mais difícil. Isso porque é preciso internalizar a ideia de que aquela mochila será uma extensão sua nos próximos dias. Para apimentar um pouco mais, no caso da Petê-Terê isso é feito numa subida longa e íngreme, a chamada ladeira da Isabeloca, batizada em homenagem à princesa Isabel, que, no século 19 já subia e apreciava as trilhas do parque (não exatamente com as próprias pernas, mas com ajuda de escravos).

Dependendo do ritmo imposto, serão de quatro a seis horas morro acima (fizemos em cinco horas, descansando bem ao longo do trajeto), com direito a paisagens incríveis do vale do Bonfim. Com tempo, vale uma desviada logo no início da trilha para a cachoeira Véu da Noiva.

Depois da extenuante subida, a recompensa: a chegada ao camping e abrigo, no Morro do Açú. Mas antes de se jogar na barraca ou, com sorte, nos beliches do abrigo (a estrutura do parque é realmente incrível e é possível dormir em cama e tomar banho quente no meio da trilha) a parada é obrigatória para admirar o Dedo de Deus, os castelos de Açú e as formações rochosas ao redor. É impossível não se encher de orgulho em ter chegado até ali.

Chegando ao abrigo ou camping, fomos muito bem recebido pelo guardião local, que, além de fazer nosso "check-in", o que garante que passamos por ali e diminui qualquer eventual risco de nos perdermos, nos deu todas as informações necessárias sobre uso do banheiro e do chuveiro, além do alerta de que nosso lixo deveria mesmo continuar conosco, até o fim.

Rumo ao abrigo 4

Abrigo 4 sob a luz do luar

O PARNASO só permite acampar em duas áreas, no Morro do Açú e na Pedra do Sino, mas mesmo assim o segundo e último abrigo mantém o nome de Abrigo 4. E é para lá que nós fomos no segundo dia de travessia. Acordamos cedo e tomamos um café reforçado, que nos daria energia para mais algumas horas de caminhada. Nesse momento, é preciso ignorar o cansaço e lembrar o que o levou a estar ali: a vontade de chegar onde poucos conseguem e viver momentos raros. É hora de respirar fundo porque dentro de instantes começaria a parte mais bonita da travessia — agora com companhia, já que encontramos outras três duplas de aventureiros e formamos um grupo que permaneceria junto até o fim. Oito personalidades totalmente diferentes, mas com uma coisa em comum: a gana de atravessar aquela desafiante trilha.

É no segundo dia que você descobre o porquê do nome serra dos Órgãos, num ponto conhecido como Portal de Hércules, de onde é possível vislumbrar a cadeia de montanhas que, dispostas paralelamente, remetem ao formato dos tubos de um órgão de Igreja. Os picos que dão o nome ao parque são: Dedo de Deus, Dedo de Nossa Senhora, Cabeça de Peixe, Garrafão, Verruga do Frade, Santo Antônio, São João e Agulha do Diabo. Você saberá do que estou falando assim que avistá-los, imponentes, a sua frente, pode ter certeza!

Cerca de cinco a sete horas de trekking nesse dia o levarão ao Abrigo 4. Mas antes vale deixar a mochila no pé da montanha e subir ao cume da travessia, a Pedra do Sino, de onde é possível ter uma visão 360 graus esplêndida, onde você é o ponto mais alto de tudo que está ao redor. Momento único, a 2.270 metros de altitude. Hora de parar a mente e abrir o coração para receber tudo de bom que aquele lugar paradisíaco pode oferecer. Alguns aguardam para ver o pôr-do-sol, mas estes correm o risco de não verem nada além de muita neblina. Minha sugestão é: não deixe para depois, especialmente se o tempo estiver aberto, o que dará um visual belíssimo lá de cima. Missão cumprida! Hora de comer e descansar de novo. Caso você chegue vendendo energia, dá para seguir daqui até o fim, mas o mais recomendável é dormir e deixar o dia seguinte só para a descida.


Fim da linha


Depois de todo o esforço, um pouco de refresco

E assim, no terceiro dia, antes do meio-dia, estávamos assinando nossa saída na sede de Teresópolis, tranquilizando os guardas de que mais quatro duplas haviam finalizado a travessia, exaustos, mas muito felizes e em segurança.
Fazer uma travessia como esta, uma das mais cobiçadas e queridas do Brasil, pode ser um bom começo para quem tem o desejo de conhecer melhor nosso país.


Saiba mais sobre a travessia aqui.