Nossa capa no Mundial Ironman 70.3


MAR DE BIKES: Atletas ao lado das magerlas durante Mundial de Ironman 70.3, em Las Vegas
(Foto: kswiss.com.br)

No último domingo (dia 09), rolou em Las Vegas o Campeonato Mundial de Ironman 70.3 – uma das provas mais difíceis da modalidade. Os participantes enfrentaram calor acima dos 35°C e um clima bem seco, o que deixou a competição ainda mais brutal.

Depois de 1,9 quilômetros de natação, 90 quilômetros de bike e 21 quilômetros de corrida, os grandes vencedores do dia foram o alemão Sebastian Kienle e a britânica Leanda Cave, que garantiram o lugar mais alto do pódio na categoria geral.

O Brasil conquistou dois pódios na prova: Luiz Renato Topan terminou com a segunda colocação na categoria 45-49 anos, e Joachim Doeding — que tentava defender o título conquistado no desafio de 2011 –, obteve o mesmo resultado na 55-59 e registrou o tempo de 4h52min23.

Joachim aparece na capa da Go Outside de setembro, sobre reportagem que mostra como se manter na ativa (e ao ar livre) por muito tempo. Leia mais sobre ele no texto abaixo.

A voz da experiência

Por Mario Mele


UM SENHOR CICLISTA: Joachim durante trecho de bike de prova de triathlon

Aconteceu recentemente: o administrador de empresas Joachim Doeding, de 56 anos, estava na beira da piscina quando um aspirante a triatleta chegou dizendo que já estava inscrito no Ironman. “Acho isso um absurdo”, diz Joachim, que completou sete prova dessas, inclusive o mundial no Havaí. “O Ironman não requer apenas treino. Antes, você tem que passar por uma fase de aprendizado”, afirma.

Joachim nasceu na Alemanha e se mudou para o Brasil ainda criança. Em 1990, quando tinha 35 anos, um amigo lhe apresentou o triathlon e ele decidiu experimentar. Se você acha uma idade tardia para começar uma nova modalidade, Joachim sequer teve pressa em evoluir: ele encarou o primeiro Ironman somente oito anos depois. “Sou como um elefante”, brinca. “Fico muito tempo parado, mas quando começo a correr não consigo mais brecar.”

Foi assim com o triathlon. A primeira prova, um triathlon de distância olímpica (1,5 quilômetro de natação, 40 quilômetros de ciclismo e 10 quilômetros de corrida) em Ubatuba, ele só decidiu fazer porque “não tinha nada melhor para o fim de semana”. E, apesar de correr desde os 17 anos, foi um sacrifício para Joachim encarar essa modalidade que lhe era tão familiar depois de já ter pedalado e nadado. “Não fui bem, achei um saco, mas terminei disposto a tentar novamente.”

Desde a adolescência, quando seu esporte ainda era a vela oceânica, Joachim carrega uma característica que fez toda a diferença quando ele resolveu dar uma segunda chance ao triathlon: a competitividade. Aos 16 anos já era bicampeão mundial de vela na classe pinguim. Entre a fase velejadora e a fase triatleta, a competição até que deu uma sossegada. Rodou o mundo surfando de pranchinha e velejando de windsurf. “Mas agora faz anos que não surfo, por falta de oportunidade e porque o triathlon consome muito tempo.”

Demorou até Joachim começar a ter resultados na nova modalidade. Joachim chegou a ser desclassificado em uma prova “só” porque se esqueceu de colocar o capacete no trecho de ciclismo. “Na verdade eu nem tinha um.” Nadar, pedalar e correr, no entanto, despertaram o espírito competitivo e o elefante que descansavam dentro desse alemão: hoje Joachim é bicampeão mundial do Ironman 70.3, popularmente conhecido como Meio Ironman (1,9 quilômetro de natação, 90 quilômetros de ciclismo de 21 quilômetros de corrida) na categoria 55-59 anos. “Conheci os limites do meu corpo e sei que estou preparado física e mentalmente para essas distâncias.”

Para se esquivar da clássica pergunta sobre qual a modalidade em que se sai melhor, ele prefere dizer que seu forte é o triathlon, como um só esporte. “Mas não vou tão bem na natação”, entrega. “E não me importo em sair da água relativamente atrás porque pelo menos posso seguir olhando para a frente. Ao contrário da maioria, que nada bem e depois fica virando a cabeça para trás com medo da hora de ser ultrapassado.”

Com 200 provas e 180 vitórias na bagagem, Joachim aprendeu a controlar o corpo e a mente nas situações mais difíceis. “A cabeça comanda tudo – inclusive fazer a coisa certa, como não exagerar nos treinos e se alimentar corretamente. A maioria dos triatletas sabe disso, mas poucos colocam em prática.” Este mês ele estará em Las Vegas, apostando todas as fichas na experiência para conseguir o tricampeonato no Mundial de Ironman 70.3. É algo que jamais um novato empolgado com a modalidade poderia fazer.

(Reportagem publicada originalmente na Go Outside de setembro de 2012)