A onda da vez

Kelly Slater e um engenheiro australiano competem para ver quem criará a primeira onda artificial perfeita

Por Zachary Slobig
Ilustração John MacNeill


ERA DE SE ESPERAR que, entre arranha-céus, estações de esqui indoor e robôs que aspiram pó, alguém tivesse inventado uma onda artificial decente. No entanto, o melhor que fizemos foram ondinhas de meio metro e uma esteira de ondas, criada pela empresa por FlowRider, que lança uma camada fina de água em uma espécie de escorregador móvel de plástico. Matt Warshaw, historiador especialista em surf, compara ambas as tentativas a “sexo com uma boneca inflável”.

Agora, dois homens trabalhando em projetos distintos – um deles um engenheiro e sharper australiano; o segundo, o surfista mais famoso do mundo – dizem estar perto de reinventar o surf artificial criando piscinas quase idênticas, com 95 metros de diâmetro e capazes de gerar ondas tubulares de até dois metros.

Na sede da Kelly Slater Wave Company, em Los Angeles, o surfista onze vezes campeão mundial está ocupado aperfeiçoando uma maquete construída com a ajuda de um professor da Universidade da Califórnia do Sul (USC) especialista em dinâmica de fluidos. Um braço robótico localizado no centro do aparelho gira um casco com formato similar a de um barco ao redor da piscina. Ele cria uma ondulação que quebra constantemente em direção ao centro da piscina, que é mais raso. Enquanto isso, jatos submersos impedem que a água simplesmente gire, como acontece quando misturamos açúcar no café. O resultado, em teoria, é que o surfista poderá pegar ondas constantes ao redor do centro da ilha. “O segredo”, Kelly Slater explicou via e-mail, “é criar uma ondulação forte e oferecer uma profundidade de água e angulação adequados uma vez que a onda esteja em movimento”.



A ilustração mostra as duas abordagens, a de Greg e a de Kelly.
O casco de Greg, à esquerda, cria duas ondas simultaneamente.
O design de Kelly, abaixo, gera uma única ondulação que ele afirma
ter mais potência.

O outro cara que alega ter desvendado o mistério das ondas artificiais é Greg Webber, um australiano de 52 anos nascido na cidade de Avalon. O design de Greg é similar ao de Kelly, seu financiamento para pesquisa está garantido e dois investidores já se mostraram interessados em seu projeto. Até o final do ano, ele espera começar a construção da primeira Webber Wave Pool (piscina de onda Greg) na Austrália e inaugurar, logo em seguida, outra no Qatar (Kelly não forneceu detalhes a respeito das suas finanças, mas garantiu que um protótipo está a caminho. “Não é um processo rápido”, alega o surfista).

Os dois são cautelosos quando se trata de detalhes sobre o design. O de Kelly, antes de ser aceito em novembro do ano passado, chegou a ser rejeitado duas vezes pelo Escritório de Patentes dos Estados Unidos por ser muito parecido com o de Greg. A única diferença concreta entre eles está no formato do casco que gera as ondas: a piscina de Greg cria duas ondas distintas, enquanto a de Kelly forma uma única ondulação, que ele acredita ser mais forte. “É uma onda mais poderosa, sem sombra de dúvidas”, Kelly insiste. “[Greg] provavelmente abandonou esse design porque nós conseguimos a patente.”

É claro que há uma grande chance de que os dois fracassem. Durante décadas, surfistas e engenheiros falharam, em diversas ocasiões, na criação de ondas realmente surfáveis. Em 1975, o inventor Arnold Forsman patenteou o Continuous Wave Surfing Facility (Centro de Surf de Ondas Contínuas), mas nunca o colocou em atividade (Kelly e Greg estão simplesmente modernizando o design de Arnold). Mais recentemente, em 2008, uma empresa da Nova Zelândia chamada ARS postou um vídeo de um aparelho chamado Wave Box, mas esse logo caiu no esquecimento. No final de 2011, um grupo espanhol disponibilizou filmagens promissoras de ondas perfeitas produzidas na piscina do seu “Jardim de Ondas” e deixou a entender que mais novidades estavam por vir.

Ainda assim, Greg e Kelly possuem verba e equipes que incluem PhDs em engenharia, e chegaram aos seus atuais projetos após anos de teste. Greg prevê que, de uma maneira ou de outra, centros de ondas artificiais com alta qualidade logo serão tão comuns quanto os resorts de esqui. “Em cinco anos, teremos 50 desses”, afirma.

(Reportagem publicada originalmente na Go Outside de abril de 2012)