Ondas criadas em piscina, trilhas indoor de mountain bike, simuladores de saltos de paraqueda e até parque de kitesurf levam diferentes esportes a novos públicos e dão uma força a mais a quem precisa treinar forte durante todo o ano
Por Maria Clara Vergueiro
Mountain bike indoor
Primeira pista indoor de mountain bike e BMX do mundo, a Ray’s MTB Indoor Park (raysmtb.com) foi criada em 2004 para que os fanáticos pela modalidade pudessem praticá-la também no inverno norte-americano. O parque funciona apenas de outubro a abril e fecha no verão, quando todo mundo pode aproveitar as trilhas ao ar livre, e aí os donos têm tempo hábil para fazer pequenos reparos e preparar as pistas para uma nova temporada. A unidade mais antiga da empresa fica em Cleveland, no estado de Ohio, e tem 12 mil metros quadrados preenchidos com pistas que imitam single tracks e simulam obstáculos naturais. Não espere cenários com grama artificial ou referências bucólicas; no Ray’s, a pista é de ferro e madeira, sem grandes adereços, apenas com ondulações que simulam os desafios encontrados no mato.
Inaugurado no final do ano passado, o segundo Ray’s Park, em Milwaukee, em Wisconsin, foi construído onde antes funcionava uma enorme loja de departamentos de 9 mil metros quadrados. Apesar de ser um pouco menor, a área é melhor ocupada, e os oito anos de experiência com a matriz em Cleveland permitiram que os donos evoluíssem na qualidade da pista e na proposta. A unidade tem três níveis de dificuldade e oferece um passe especial para quem vai ao parque pela primeira vez: o kit completo, que inclui bike, equipamentos e uma diária sai por US$ 24,99. Para os iniciantes, o parque reservou uma trilha mais tranquila que contorna as pistas mais pró – uma maneira de preservar a diversão dos experts e a segurança dos iniciantes. Onda (quase) de verdade
No futuro, as ondas artificiais vão permitir a quem vive longe dos oceanos praticar esportes como o surf. A evolução das piscinas também possibilitará que se surfe em dias de mar flat, a qualquer hora e em estação do ano. Será possível até mesmo ter a própria piscina de ondas artificiais, no caso dos mais abonados. As previsões são do diretor de redação da revista Hardcore, Steven Allain. “Lógico que nada irá superar a experiência de se surfar no mar. Mas isso não quer dizer que piscinas de onda não sejam válidas. Muito pelo contrário: serão uma alternativa prática e bem-vinda”, avalia. Há três anos, ele testou, ao lado de um time de surfistas profissionais, o Sunway Lagoon (sunwaylagoon.com), um parque de diversões aquáticas na Malásia. “Essa é atualmente uma das melhores ondas artificiais do mundo, servindo de cenário para alguns filmes e campanhas publicitárias de surfwear”, conta Steven.
O sistema mais comum de produção de ondas se dá a partir de um pistão hidráulico que estimula pressões periódicas dentro d’água, liberando ondas sistemáticas e intervaladas. A onda do Sunway Lagoon – que quebra tanto para a direita quanto esquerda e pode chegar a 1,5 metro – tem força semelhante à gerada pelo mar. “Mas o que tornou a experiência ainda mais interessante foi ter a nossa disposição um jet-ski que nos impulsionava para entrarmos na onda com maior velocidade”, conta Steven. O parque também permite que se pague para ter a piscina exclusiva para um único surfista ou grupo fechado por uma hora. As diárias custam a partir de R$ 45 (na moeda local, o ringgit), e o serviço de aluguel de pranchas sai por cerca de R$ 28.
Até o norte-americano Kelly Slater, o maior campeão mundial da história do surf, já reconhece o valor de uma onda de mentirinha, e está trabalhando em um projeto que promete resultar em uma piscina arredondada, com uma ilha no centro, capaz de produzir ondas de melhor qualidade e maiores do que as já existentes, com uma aparelhagem bem mais barata que a atual. Para o projeto de Kelly sair do papel, entretanto, terá que sofrer adaptações. A técnica, aparentemente, é a mesma desenvolvida pelo surfista e inventor Greg Webber, que patenteou o sistema antes que o projeto de Kelly fosse formalizado, o que vai obrigar o decacampeão mundial e sua equipe técnica a criar algo ainda mais arrojado – ou, no mínimo, diferente. Paraquedismo em túnel de vento
Quando a Brazilian Dream Team, equipe brasileira da modalidade big way, decidiu superar a própria marca e saltar com cem paraquedistas, no ano passado, seus atletas usaram um túnel de vento em Goiânia para treinar os movimentos que desempenhariam no céu. O túnel, coordenado pelo Exército brasileiro, possui 12 pés de altura (pouco mais de 3,5 metros) e tem força suficiente no motor para simular um vôo de verdade e proporcionar sensação de queda livre, tanto para quem só quer experimentar a brincadeira como para profissionais que precisam aperfeiçoar a técnica. É possível reservar uma hora pelos emails Há vários túneis de vento semelhantes no mundo. “Meu preferido é o Paraclete Sky Venture (paracletexp.com), na Carolina do Norte, nos Estados Unidos. É muito bom e mede 16,5 metros”, conta Ricardo Pettená, um dos mais experientes integrantes do Brazilian Dream Team.
Os túneis de vento podem ser abertos nas laterais e no teto, e possuem um motor no solo que sustenta o atleta no ar. Podem ainda ser fechados por paredes em volta. Para o paraquedista Gui Pádua, que tem mais de cem horas de vôo indoor e é um dos principais nomes brasileiros do esporte, os túneis são muito eficientes para os iniciantes e para equipes que pretendem intensificar seus treinamentos em qualquer condição climática. Mas, ele conclui, “nada chega perto da liberdade e da adrenalina de se saltar de um avião e estar em queda livre em pleno céu”. Esqui fora de hora
Em países tropicais, onde esquiar está fora de questão, pistas de esqui cobertas com neve artificial têm se tornado uma opção para quem deseja sentir um pouco da adrenalina desse esporte. A neve é produzida com água fria, impulsionada por um ventilador turbo. Quando a água sai de finas mangueiras e entra em contato com ar frio, forma os flocos de neve. Estados Unidos, Inglaterra, Espanha, Holanda, Bélgica, Alemanha, Dubai, Japão e Coréia estão entre os países que oferecem pistas artificiais para um esqui fora de hora, ou mesmo para compensar meses com pouca neve em estações de esqui “de verdade”.
Isabel Clark é a brasileira dona do melhor resultado verde-amarelo em uma Olimpíada de Inverno: ficou entre as top 10 na edição de Turim do evento, em 2006. Acostumada a treinar em parques indoor durante o verão, a atleta é fã do sistema. “É fundamental para os profissionais porque garante que a temporada seja boa, mesmo com pouca precipitação natural. Além disso, é muito importante para os turistas e para o mercado”, diz Isabel, que elegeu o Landgraaf Indoor Ski Centre, na Holanda, o melhor dos centros de esqui artificial que já conheceu. O Landgraaf (snowworld.com) tem oito teleféricos e pistas de até 520 metros de extensão para todos os níveis. Kite sem vento, wake sem barco
Existem mais de 13 parques desse tipo nos Estados Unidos, dois no Canadá, quatro na Austrália, dez na França e nove na Inglaterra, para citar alguns exemplos. A Alemanha é recordista de cable parks, com 56 deles espalhados pelo país. No Brasil, por enquanto, existe apenas um, o Naga Park, (nagacp.com.br) na cidade paulista de Jaguariúna. O parque cobra R$ 60 por uma hora e R$ 150 para o dia inteiro. O kitesurfista baiano Maurício de Abreu é um fervoroso defensor dos cable parks e pretende abrir um novo por aqui em breve. “Cable parks são o futuro do esporte, pois permite que ele exista mesmo em cidades muito distantes da costa”, diz ele, que está ajudando a desenvolver um novo parque no Oregon (EUA) enquanto trabalha no projeto brasileiro do Wakeparks Solutions. “O CamSur Watersport Complex (CWC), nas Filipinas, e o TrunCable, na Alemanha, são de alto nível e estão entre os meus preferidos”, diz o kitesurfista. (Reportagem publicada originalmente na Go Outside de março de 2012)
Quem depende do vento, como os kitesurfistas, chega a passar dias e dias em alguma costa do mundo esperando a sorte virar para a pipa poder voar. E quem faz wakeboard depende de um barco para ser rebocado. Por causa disso, foi desenvolvida uma saída prática e inteligente para esse público com a criação dos chamados cable parks, que permitem que atletas das duas modalidades pratiquem seu esporte, mesmo quando o vento ou o barco não ajudam. Funcionando como espécies de tirolesas elétricas, os cabos de aço são puxados por motores, geralmente em áreas represadas. Em alguns, há pistas das quais os praticantes podem saltar e fazer manobras.