Os lugares mais remotos para se hospedar no planeta — que valem cada passo da jornada

Por Chloe Berge

Foto: Cortesia Ungava Polar EcoTours.

Viaje para longe das multidões e se hospede em algumas das regiões mais selvagens do planeta

Silêncio profundo na tundra do subártico canadense, o estalo de um glaciar se partindo ouvido de dentro de uma barraca no interior da Groenlândia, o reflexo de picos nevados numa lagoa espelhada no altiplano boliviano. Algumas das experiências de viagem mais impressionantes que já vivi aconteceram em meio à natureza bruta, onde me senti pequeno diante da imensidão do tempo e do espaço — e, ao mesmo tempo, mais conectado ao mundo natural.

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Aqui estão alguns dos lugares mais remotos do mundo onde é possível se hospedar e sentir esse chamado da natureza selvagem. Seja para refletir sobre a vida ou apenas se deixar levar pela beleza do cenário, essas hospedagens oferecem experiências únicas — de um chalé com cinco quartos no meio de uma geleira a um refúgio de mountain bike na borda do “Grand Canyon da África”. E embora o acesso a esses destinos não seja dos mais fáceis — sem falar no custo, às vezes salgado —, a sensação de isolamento absoluto torna a jornada algo verdadeiramente inesquecível.

Sonhando com uma aventura nos cantos mais isolados do planeta? Estes são nove dos lodges e acampamentos mais selvagens do mundo onde você pode realmente sair do mapa.

Sheldon Chalet, Alasca

Estadia no Sheldon Chalet é voltada para travessias de esqui e caminhadas com raquetes pelo Glaciar Ruth, à sombra do mítico Denali. Foto: Reprodução / Outside USA.

No Sheldon Chalet, você estará cercado apenas por neve, gelo e céus estrelados. Este refúgio íntimo, acessível apenas por helicóptero, fica no alto de uma crista afiada no meio do Glaciar Ruth, dentro do Parque Nacional de Denali. A cidade mais próxima está a cerca de 80 quilômetros de distância. Não há sinal de celular, Wi-Fi nem TV — apenas vistas infinitas do Denali coberto de neve e da vastidão branca do glaciar logo ali, pela janela. Com apenas cinco quartos, você terá a sensação de ter essa imensidão toda só para você.

O espírito da aventura faz parte da história do local desde o início. Após ajudar a mapear grande parte da Cordilheira do Alasca, o aviador e explorador Don Sheldon e sua esposa, Roberta, construíram a “Mountain House” em 1966, no mesmo local onde hoje está o chalé, como refúgio para alpinistas, esquiadores e viajantes destemidos que buscavam a majestade do Denali. Em 2018, os filhos do casal deram início a uma nova era ao inaugurar o luxuoso Sheldon Chalet. Hoje, as chegadas de helicóptero com champanhe e ostras contrastam com as origens modestas da cabana na montanha, mas a essência da aventura selvagem continua viva.

Dica de aventura: A proposta aqui é explorar o Glaciar Ruth com esquis ou raquetes de neve, sempre com o Denali imponente ao fundo — ou até descer de rapel em suas fendas azuis cintilantes. Do outono à primavera, é possível fazer caminhadas noturnas sob a lua cheia ou assistir ao espetáculo das auroras boreais verdes e rosas dançando no céu. Depois, basta se aquecer em volta da fogueira ou na sauna. No verão, piscinas turquesa surgem na superfície do glaciar, e o estrondo distante de avalanches ecoa pela imensidão branca.

Como chegar: Vá até a cidade de Talkeetna, a cerca de 2 horas de carro de Anchorage, e de lá pegue um helicóptero para um voo de 30 minutos até o chalé. Também há a opção de voar diretamente de Anchorage em um avião monomotor, num trajeto de 1h30. Ambos os traslados estão incluídos na estadia, assim como todas as refeições e experiências. A partir de R$ 23 mil por pessoa, por noite, em regime all-inclusive, com transporte a partir de Talkeetna ou Anchorage.

Ungava Polar Eco-Tours Camp, Canadá

A Ungava é a primeira empresa de ecoturismo 100% de propriedade e operação inuíte em Nunavik. Foto: Cortesia Ungava Polar EcoTours.

Mesmo nos refúgios naturais mais tranquilos do planeta, é comum ouvir o zumbido de insetos, a água beijando a margem ou, com menos sorte, o barulho de um drone perdido. Mas, ao me deitar de costas e olhar para o céu azul sem nuvens durante uma pausa de fat bike em Nunavik — a região mais ao norte de Quebec, logo abaixo do Círculo Polar Ártico —, não se ouvia sequer um sussurro do vento. Esse silêncio raro e precioso foi parte do que atraiu Jonathan Grenier e James May, fundadores da Ungava Polar Eco-Tours, a estabelecer o acampamento base da empresa de aventuras ao ar livre nesse local remoto.

A empresa é o primeiro empreendimento de ecoturismo 100% administrado e operado por inuítes em Nunavik, levando viajantes para as desabitadas Ilhas Gyrfalcon. Instalado na pequena Ilha Tiercel, às margens da Baía de Ungava, o acampamento é composto por cinco aconchegantes domos aquecidos que remetem aos tradicionais iglus e resistem tanto às tempestades locais quanto à curiosidade de ursos polares. Quando visitei, durante a temporada inaugural em 2024, o primeiro frio do outono já havia transformado a tundra subártica em um mosaico flamejante de tons alaranjados e castanhos. Navegamos por canais desérticos em barcos só nossos, aprendendo sobre a cultura e as tradições inuítes pelo caminho.

Dica de aventura: Os dias aqui são repletos de avistamentos de fauna enquanto se explora a paisagem de fat bike ou a pé, em caminhadas guiadas e interpretativas. Se visitar no fim do verão ou no começo do outono, a tundra se transforma em um verdadeiro banquete de frutas nativas, como crowberries e cloudberries, ideais para petiscar no meio da trilha. No mar, é possível navegar pelo arquipélago em busca de baleias-anãs saltando, focas-barbudas, bois-almiscarados — uma das poucas megafaunas que sobreviveram à Era do Gelo — e lobos árticos patrulhando as margens.

Como chegar: A estadia de uma semana inclui todos os voos, inclusive partindo de Montreal rumo a Kuujjuaq, a maior cidade de Nunavik. De lá, pega-se um voo fretado da Air Inuit até a Ilha Tiercel, pousando diretamente na pista improvisada da tundra — mas não sem antes apreciar uma vista espetacular do acampamento do alto. A partir de R$ 57 mil por pessoa, para uma viagem all-inclusive de sete noites com voos saindo de Montreal.

Ramaditas Mountain Lodge, Bolívia

Ramaditas fica na beira de uma lagoa espelhada a mais de 4.000 metros de altitude. Foto: Cortesia Explora.

“Você viaja de Marte à Terra e depois para a Lua nessa jornada”, disse minha guia Aida Belén, referindo-se à Travesía, uma expedição terrestre de uma semana promovida pela Explora. A aventura segue um trecho do Qhapaq Ñan, rede ancestral de caminhos incas que cruza seis países e percorre cerca de 30.500 quilômetros. A rota liga o deserto marciano do Atacama, no Chile, ao sal lunar do Salar de Uyuni, na Bolívia. E quando nosso jipe desceu uma estrada íngreme em meio à poeira levantada por uma manada de vicunhas, a Lagoa Ramaditas lá embaixo parecia tão de outro mundo quanto os dois destinos que emolduram essa jornada.

Localizado a mais de 4.000 metros de altitude, o lodge de Ramaditas se encontra na beira da lagoa espelhada e é um dos dois refúgios da Travesía no trecho boliviano do altiplano. Projetado por Max Núñez, o lodge minimalista elevado sobre pilares tem apenas quatro quartos com vista para a lagoa e, ao longe, para montanhas nevadas e o impressionante planalto desértico da Bolívia. A região oferece aventuras durante o dia, e à noite, você retorna para um banho de chuva quente, uma taça de carménère defumado e um quarto moderno revestido em madeira de mani, com uma grande janela panorâmica.

Dica de aventura: As principais atividades são trilhas e mountain bike pelas planícies varridas pelo vento. Um dos destaques é a caminhada de 8 quilômetros em Pastos Grandes — que, a mais de 4.800 metros de altitude, parece bem mais longa. O percurso leva por entre pedras e vegetação desértica até antigos pictogramas nas paredes de formações rochosas imensas esculpidas pelo vento, antes de uma parada para piquenique e descanso.

Como chegar: A jornada começa em San Pedro de Atacama, no Chile, acessível por um voo de 2 horas a partir de Santiago. O lodge Jirira, que marca o fim da Travesía e fica às margens do Salar de Uyuni, também pode ser reservado de forma independente. O aeroporto mais próximo é o Joya Andina, em Uyuni, com 1h30 de carro sobre o salar na estação seca (abril a novembro), ou 5 horas contornando-o na estação chuvosa (dezembro a março). A partir de R$ 46.000 por pessoa, para uma expedição de sete noites em regime all-inclusive (voos não incluídos).

Three Camel Lodge, Mongólia

Bem-vindo a um dos lugares mais despovoados — e belos — da Terra. Foto: Reprodução / Outside USA.

A Mongólia é um dos países menos densamente povoados do mundo. E no coração do Deserto de Gobi, uma vasta imensidão de mais de 1,2 milhão de quilômetros quadrados, está o Three Camel Lodge. Acomodado aos pés da montanha Bulagtai, cada tradicional ger (versão mongol da yurt), aquecido com fogão a lenha, se abre para a estepe infinita, onde o vento sussurra entre as gramíneas douradas. Escondidas nesta paisagem ancestral estão pinturas rupestres da Idade do Bronze e uma história geológica e paleontológica ainda mais antiga.

Parte da coleção Beyond Green, o lodge foi fundado com o propósito de preservar a terra, a fauna e a cultura nômade do povo mongol. Apesar da localização remota, cada hóspede é imerso em cultura local, culinária e histórias, em visitas a famílias nômades — com aventuras no deserto à sua porta.

Dica de aventura: Caminhe pelas Falésias Flamejantes, formações avermelhadas icônicas do Gobi e um dos mais importantes sítios paleontológicos do mundo (foi ali que ovos de dinossauro foram encontrados pela primeira vez, em 1923). Outra opção é caminhar pelo verdejante Parque Nacional do Vale Yol, cheio de flores silvestres e riachos. Cavalos são parte vital da cultura mongol: monte em um deles para visitar uma família nômade e conhecer suas tradições culinárias e artesanais — ou experimente a arqueria mongol.

Como chegar: O acesso ao Three Camel Lodge é feito por um voo de 1h30 saindo de Ulaanbaatar até Dalanzadgad, na borda do Deserto de Gobi. De lá, uma viagem cênica de 1 hora em veículo 4×4 leva até o lodge. A partir de R$ 26.500 por pessoa para duas noites.

Kongde Lodge, Nepal

A quase 4.300 metros de altitude, Kongde é um lodge remoto e elevado, a horas de distância do circuito turístico tradicional. Foto: Cortesia Mountain Lodges of Nepal.

A trilha até o Acampamento Base do Everest, lugar carregado do espírito de expedições montanhistas tanto lendárias quanto controversas, continua sendo uma das aventuras mais icônicas do mundo. Apesar das críticas recentes sobre superlotação e impactos ambientais e sociais negativos, a Mountain Lodges of Nepal oferece uma alternativa mais sustentável — tanto para a natureza quanto para as comunidades locais.

A viagem de 12 dias, batizada de Everest Base Camp Trail, começa a 2.800 metros de altitude, em Lukla, e termina com um voo de helicóptero direto até o acampamento base, cercado pela imponência mágica das montanhas nevadas do Himalaia. Ao longo do caminho, os viajantes se hospedam em lodges tradicionais e têm contato direto com a cultura local. O ponto alto da jornada é o Kongde Lodge, a quase 4.300 metros de altitude — o mais remoto e elevado do trajeto. Cercado por montanhas e com vista panorâmica para o vale do Khumbu e para o próprio Everest, o cenário é de um isolamento majestoso difícil de superar.

Dica de aventura: A caminhada até o Kongde Lodge atravessa aldeias sherpas, pontes suspensas, florestas de pinheiros e rododendros, além do mosteiro mais isolado do mundo. O ponto central da experiência é a imersão na cultura sherpa — por meio de cantos, danças e da culinária local. Depois de duas noites no lodge, o trecho final da expedição é feito de helicóptero, numa viagem curta e cinematográfica até o Acampamento Base.

Como chegar: Após seis dias de trekking, um helicóptero parte do Deboche Lodge e leva os viajantes até o Kongde Lodge. Um café da manhã com espumante nas nuvens recepciona quem chega por esse trajeto. A partir de R$ 53 mil por pessoa.

Sal Salis Ningaloo Reef, Austrália Ocidental

Este acampamento isolado no estilo safári fica entre dunas que margeiam as brilhantes lagoas turquesa do Recife de Ningaloo, um Patrimônio Mundial da UNESCO. Foto: Cortesia San Salis Ningaloo Reef.

A costa da Austrália Ocidental guarda algumas das paisagens mais remotas e intocadas do planeta. É lá, quase 1.300 km ao norte de Perth, que está o Sal Salis — um acampamento estilo safári escondido entre dunas de areia branca e banhado pelo azul vívido da Lagoa Ningaloo, Patrimônio Mundial da UNESCO. Com apenas 16 tendas e nenhum vizinho por quilômetros, é o tipo de lugar em que você acorda com o canto dos pássaros e adormece ao som das ondas do oceano.

O recife é um santuário para a vida marinha: baleias jubarte, raias manta, tartarugas marinhas e, entre março e agosto (e também em outubro), enormes cardumes de tubarões-baleia, os maiores peixes do mundo. A temporada ainda coincide com a rara oportunidade de nadar com jubartes durante sua migração rumo à Antártida.

Dica de aventura: Nadar lado a lado com tubarões-baleia e baleias jubarte é uma das experiências selvagens mais emocionantes da Austrália. Mas há muito mais: mergulho com cilindro ou snorkel, passeios de caiaque ou SUP, e trilhas pelo Mandu Mandu Gorge, no Parque Nacional de Cape Range — uma paisagem de calcário erodido, acácias retorcidas e histórias aborígenes milenares.

Como chegar: O Sal Salis está a uma hora de carro ao sul de Exmouth, cidade acessível por voos diários a partir de Perth para o aeroporto de Learmonth. Diárias a partir de R$ 3.500 por tenda.

Fish River Lodge, Namíbia

“Pouca gente sabe o quão imenso é o Canyon do Rio Fish — e ele é perfeito para quem quer se conectar com a natureza de forma profunda e imersiva.” Foto: Cortesia Journeys Namíbia.

Embora a África seja mais conhecida por safáris e vida selvagem, a Namíbia oferece um outro tipo de aventura: crua, solitária e profundamente conectada à vastidão da natureza. No sul do país, o Cânion do Rio Fish — considerado o “Grand Canyon africano” — esconde um dos retiros mais espetaculares e pouco explorados do continente.

Com mais de 160 km de extensão e 550 metros de profundidade, o cânion é um gigante silencioso. Bem à beira da fenda está o Fish River Lodge, onde a vista do abismo pode ser admirada de uma piscina suspensa enquanto o rio serpenteia abaixo e o deserto se estende até onde os olhos alcançam.

Dica de aventura: Comece o dia com trilhas ou pedaladas ao longo da borda do cânion. O silêncio absoluto só é quebrado pelo grito dos babuínos ecoando entre os penhascos. Para os mais dispostos, há expedições de dois ou três dias até os acampamentos remotos Camp Eternity e Camp Edge — jornadas de imersão total em uma África sem cercas nem turistas.

Como chegar: Partindo da capital Windhoek, são cerca de oito a nove horas de estrada até o lodge — recomenda-se o uso de um 4×4. Diárias a partir de R$ 1.100 por pessoa (atividades cobradas à parte). Pacotes de trilha e ciclismo também estão disponíveis.

White Desert, Antártica

Acampamentos homenageiam os primórdios da exploração espacial, com estética futurista e conforto sofisticado. Foto: Cortesia White Desert Antarctica.

Apesar de ser sensível ao enjoo, enfrentei com coragem a travessia do temido Estreito de Drake em um cruzeiro rumo à Antártida. Mas, se fosse repetir a jornada, minha escolha seria viajar com a White Desert. Além de evitar os mares mais turbulentos do planeta, graças a um voo fretado a partir da África do Sul, essa expedição oferece acesso ao coração do continente mais remoto da Terra — uma região que poucos têm o privilégio de conhecer. Enquanto os cruzeiros percorrem a costa tomada por icebergs e penhascos rochosos, o interior da Antártica revela um outro universo: túneis de gelo azul, fendas profundas, picos montanhosos recortados e paisagens lunares que parecem de outro planeta.

Durante uma travessia leste-oeste pela Antártida em 2005, Patrick Woodhead — cofundador da White Desert — ficou tão impressionado com a beleza bruta do interior que decidiu, junto com a esposa Robyn, criar uma forma de compartilhar essa experiência com outros aventureiros destemidos. Se a paisagem já não parecer alienígena o suficiente, os dois acampamentos da empresa — Whichaway e Echo — remetem à era das explorações espaciais com sua arquitetura futurista e conforto sofisticado. Apesar de ser uma experiência de luxo incomparável (com preços a partir de R$ 267 mil por pessoa para uma viagem de seis dias), a sustentabilidade está no centro da filosofia da White Desert, que é carbono neutra. Os acampamentos têm impacto ambiental mínimo, os voos utilizam combustível sustentável, e a empresa mantém uma fundação que apoia iniciativas de conservação e pesquisa climática na Antártica.

Dica de aventura: Caminhe por túneis de gelo labirínticos, escale paredes com crampons e piolet, ou desça de rapel por penhascos de 100 metros envoltos por um anfiteatro azul cintilante. Também há bike no gelo, esqui e travessias por cordilheiras inexploradas.

Como chegar: Um voo fretado de cinco horas parte da Cidade do Cabo (África do Sul) e pousa na pista Wolf’s Fang, dentro do Círculo Polar Antártico. A partir de R$ 267 mil por pessoa, para uma viagem de sete dias com tudo incluído, incluindo voos de ida e volta. Também há uma versão de bate-volta de um dia saindo da Cidade do Cabo, por cerca de R$ 86 mil por pessoa.

Nanoq Lodge, Groenlândia Oriental

Nestes vales escavados por geleiras, o vento carrega o cheiro do gelo e o gosto do mar. Foto: Cortesia Hinoki Travels.

Assim como na Antártida, evitar os cruzeiros e mergulhar nas paisagens selvagens da Groenlândia é uma escolha recompensadora. Existem lugares por lá que ainda parecem intocados pela civilização. Em uma expedição terrestre de sete dias com a Hinoki Travels, percorri tundras marcadas por vestígios da cultura Thule (ancestrais dos inuítes), acampei às margens de fiordes azul-cobalto e contemplei glaciares e montanhas nevadas. No fundo de vales escavados pelo gelo, o ar cheirava a neve e maresia. Durante toda a semana, nosso pequeno grupo de sete pessoas não cruzou com mais ninguém.

A jornada começa em Kulusuk, uma vila inuíte localizada em uma ilha homônima logo abaixo do Círculo Polar Ártico. É ali que fica o Nanoq Lodge, um chalé de madeira construído à mão que serve como base para os viajantes que partem rumo ao interior gelado da Groenlândia com a Pirhuk — empresa especialista em esqui e montanhismo que opera em parceria com a Hinoki. Durante minha estadia ali, acordei com os uivos dos cães de trenó na alvorada e vi icebergs navegando pela baía. Ajudei a pescar truta ártica e colher azedinha sob um céu azul intenso — ingredientes que viraram nosso jantar depois de uma caminhada até o alto da ilha, de onde víamos as casinhas coloridas brilhando no pôr do sol.

Dica de aventura: Para chegar ao primeiro acampamento da expedição de sete dias da Hinoki Travels, cruzei o Estreito de Tunu de caiaque rumo ao Glaciar Apusiaajik — escoltado por jubartes saltando ao redor. Os dois acampamentos remotos da jornada são acessados a pé, por trilhas sobre glaciares, morros gelados e cavernas de gelo azul que brilham como cristais. Além desse roteiro exclusivo, que mistura cultura local com aventura, a Pirhuk oferece expedições de esqui, trekking, escalada e caiaque ao longo de centenas de quilômetros de costa selvagem.

Como chegar: A ilha de Kulusuk é acessada por um voo direto de menos de duas horas saindo de Keflavik, na Islândia. Do pequeno aeroporto até o lodge, são cerca de 30 minutos de caminhada ou esqui. A partir de R$ 36.500 por pessoa para a expedição de sete noites Interdependence: East Greenland da Hinoki Travels (voos a partir de Reykjavik não incluídos).

*Chloe Berge é repórter da Outside USA.