Com estas dicas, você pode explorar o planeta inteiro com um 4×4

Por Wes Siler

Scott Brady define o overlanding como “viagens de aventura com veículo” e diz que isso pode incluir tanto viagens curtas quanto longas. Foto: Arquivo Pessoal / Outside.

Depois de escrever um livro definitivo sobre expedições extremas de overlanding, o norte-americano Scott Brady resume seus conselhos em cinco dicas essenciais

Em 2014, Scott Brady, fundador da Overland Journal, tornou-se a primeira pessoa a cruzar todos os sete continentes com um veículo 4×4 — uma jornada frequentemente fora da rede, enfrentando alguns dos terrenos mais extremos do planeta. Em 2018, Brady completou também a primeira travessia da camada de gelo da Groenlândia de sul a norte com um 4×4. Embora esses objetivos possam parecer inatingíveis para uma pessoa comum, Brady discorda: segundo ele, é muito mais simples do que parece.

Brady condensou tudo o que aprendeu sobre viagens de aventura com veículos em seu primeiro livro: Overlanding 101. A obra, ainda sem tradução para o português, reúne orientações práticas sobre habilidades e equipamentos, misturadas com relatos das experiências reais que lhe ensinaram todas essas lições.

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“Leia isso e vá”, diz Brady, que também publica a revista e o podcast Overland Journal, além de administrar o site Expedition Portal. O livro oferece o conhecimento prático que você vai precisar pelo caminho — junto com muita inspiração para planejar suas próprias viagens.

Embora 256 páginas de dicas sejam ótimas, queríamos saber se Brady conseguiria simplificar alguns conselhos. Então, ligamos para ele e pedimos suas melhores dicas para viajantes iniciantes. Aqui estão as cinco que ele me deu:

Em seu novo livro, Brady detalha as habilidades necessárias para enfrentar obstáculos perigosos com segurança. Foto: Arquivo Pessoal / Outside.

Vá o Quanto Antes

“Acho que as pessoas têm medo de fracassar ou de que algo dê errado”, diz Brady. “Mas acho que essa é justamente a definição de aventura: é quando algo sai do planejado.”

O primeiro conselho de Brady é que, se você quer começar a viver aventuras, o melhor jeito é simplesmente ir. Se você esperar até ter o veículo ideal, ou os equipamentos perfeitos, ou até dominar alguma habilidade específica antes de partir, vai acabar gastando mais tempo esperando do que viajando.

“Você não precisa ter o catálogo inteiro da REI [rede americana de equipamentos outdoor]”, explica. “Vá com menos peso, gaste menos dinheiro e vá agora. Na maioria das vezes, você estará melhor sem aquele monte de tralha.”

No Overlanding 101, Brady conta a história da sua primeira viagem de overlanding, logo após sair da Força Aérea, em 2002. Para encarar o Camino del Diablo — uma rota off-road de 225 km ao longo da fronteira com o México — ele se equipou com um bagageiro no teto e um trailer para carregar tudo o que achava necessário. Mas acabou descobrindo que levar chuveiro portátil, galões extras de gasolina e água suficiente para sobreviver indefinidamente só serviu para atrapalhar mais do que ajudar.

“Em meio a tanta compra e acúmulo, eu perdi o verdadeiro sentido de ter ido”, ele diz.

Conquiste o Apoio dos Seus Companheiros de Viagem

“O que eu acho que as pessoas mais erram, e que normalmente leva a uma experiência ruim, é que elas não conversam com seus companheiros de viagem”, diz Brady. “O cara tem a ideia de percorrer toda a América e simplesmente arrasta a esposa e os filhos junto, sem nunca ter tido uma conversa com eles sobre o que eles gostariam de viver nessa jornada.”

“Talvez a filha dele seja super interessada em geologia e queira entender as rochas e a história da região, ou o filho queira muito aprender a dirigir — e, se você não tiver essas conversas, não vai ter o engajamento deles”, continua ele. “Quando isso acontece, normalmente a experiência familiar fracassa rapidamente.”

Ao longo do livro, Brady reforça que o mais importante são as pessoas — tanto aquelas que estão dentro do carro quanto as que você encontra pelo caminho. Planeje suas viagens pensando nelas, e não em algum objetivo artificial ou conquista vazia.

Aprender a acampar com conforto é uma habilidade à parte. Isso pode parecer tão complexo quanto esta estrutura — ou tão simples quanto um equipamento barato de trilha. Foto: Arquivo Pessoal / Outside.

Foque na Viagem, Não no Equipamento

Viajantes de overland tendem a exagerar na bagagem. Mas, na prática, apenas alguns itens são realmente essenciais. “Você precisa de alguma forma de identificação, alguma forma de comunicação e alguma forma de transação comercial”, diz Brady. “Você não precisa de mais nada além disso.”

Além das pessoas perderem tempo demais se preocupando com equipamentos, Brady afirma que esse investimento pode até atrapalhar a experiência, já que as coisas quebram, se perdem ou são roubadas. Mas se você tiver um passaporte, um cartão de crédito e um celular, tem as ferramentas necessárias para resolver praticamente qualquer problema, em qualquer lugar do mundo.

“Vejo muita gente ficando arrasada quando perde alguma coisa. Isso acaba estragando a viagem. Mas, no fim das contas, se seu laptop for roubado, tudo bem. Aprenda a desapegar dessas coisas e foque na jornada.”

Foto: Arquivo Pessoal / Outside.

Vá Devagar

“E depois que você fizer isso, vá ainda mais devagar”, diz Brady. Isso é tanto uma filosofia quanto um conselho prático. Diminuir o ritmo torna mais fácil e seguro enfrentar obstáculos — além de te dar tempo para aproveitar a experiência.

“Essa é uma coisa com a qual eu ainda luto”, continua Brady. “Estou sempre no modo ‘ataque total’. Sempre quis conquistar um objetivo atrás do outro, e muitas vezes nem lembro direito do que fiz depois.”

“Então, se eu fosse dar um conselho para alguém, seria: planeje um pouco menos”, ele diz. “Planeje percorrer menos quilômetros e passe mais tempo naquela vilazinha. Tire uma hora para sentar em um café e simplesmente observar as pessoas passando.”

Em sua viagem mais recente, Brady dirigiu um Ineos Grenadier atravessando a África, de sul a norte. Foto: Arquivo Pessoal / Outside.

Encontre uma Maneira de Retribuir

“Essas experiências nos dão tanto”, diz Brady. “Mudei muito ao ver o resto do mundo. Estranhos deixaram de ser ‘os outros’ — passaram a ser pessoas com quem almocei, ou que me ajudaram durante a jornada. Quando você começa a passar tempo com pessoas em outros lugares, passa a entender melhor que elas são diferentes, sim — mas de maneiras incríveis.”

Com esse espírito, Brady reforça que é importante respeitar as comunidades e os ecossistemas por onde você passa. “Pise leve, não deixe rastros, encontre formas de minimizar seu impacto”, sugere. “Em vez de sair correndo do acampamento de manhã cedo, tire cinco minutos para recolher o lixo ao redor.”

Se puder, vá além de apenas apagar os sinais da sua passagem — deixe o lugar melhor do que encontrou. Brady diz que agregar valor às pessoas e comunidades que você visita pode ser algo tão simples quanto pagar uma cerveja para alguém e tomar o tempo de apreciá-la com essa pessoa. Ou pode ser algo mais envolvido. Em uma de suas primeiras viagens a Baja, no México, Brady conheceu pessoas que cuidam de um orfanato em Mulegé, uma pequena cidade no Mar de Cortez. Na vez seguinte em que passou por lá, ele separou um tempo para parar no Costco de Los Cabos e levar várias semanas de café da manhã não perecível para as crianças. Agora, ele não guarda apenas memórias de uma viagem divertida — mas também de uma contribuição positiva.