A viúva que correu a Maratona de Londres vestida de noiva

Por Sarah Wassner Flynn, para a Outside USA RUN

viúva corre Maratona de Londres vestida de noiva
Foto: Laura Coleman-Day

Ela nunca pensou que seria viúva aos 33 anos, mas essa “noiva em fuga” da Maratona de Londres está decidida a viver de um jeito que homenageie seu marido

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Corredores costumam seguir uma regra sagrada: nada de estreias no dia da prova. Mas, no trecho final da quarta Maratona de Londres mais quente da história, Laura Coleman-Day abriu uma exceção. Ela saiu brevemente do percurso, puxou um vestido de noiva sobre a cabeça, vestiu a peça suada por cima do corpo já exausto e correu os últimos 5 km envolta em uma mistura cremosa de cetim, renda e tule.

Na verdade, seu “algo novo” nem era novo — ela já tinha usado aquele vestido uma vez antes, exatamente seis anos atrás, no dia do casamento. Desde então, ele estava guardado com cuidado em uma caixa, intocado. Ainda assim, Coleman-Day, mãe de 33 anos que vive em Lincolnshire, no Reino Unido, não estava preocupada se o vestido a faria perder tempo, se causaria assaduras ou se o peso do cetim dificultaria ainda mais a corrida após mais de quatro horas em movimento.

Tudo o que ela conseguia pensar era em seu falecido marido, Xander, que morreu no ano anterior devido a complicações após um transplante de células-tronco para tratar uma leucemia linfoblástica aguda (LLA). Para Coleman-Day, esse momento de “noiva em fuga” não era uma encenação — era uma homenagem.

Timing perfeito

Coleman-Day já planejava correr a Maratona de Londres para arrecadar fundos para a Anthony Nolan, organização britânica que facilita doações de células-tronco. Ela imaginava que a prova aconteceria na mesma semana de abril do ano anterior — mas, por causa do feriado de Páscoa, a data foi empurrada para 27 de abril.

“Eu pensei: ‘Uau, é o nosso aniversário de casamento’”, ela relembra. “E a ideia simplesmente apareceu na minha cabeça — usar o vestido. Achei que seria a maneira mais próxima de estar com o Xander naquele dia.”

Seria apenas o segundo 27 de abril sem ele ao lado dela — um homem de óculos, sorriso fácil e uma risada que ela ainda escuta na própria cabeça. Alguém que ela descreve como “a pessoa mais engraçada e incrível que você teria o prazer de conhecer”. Naquele mesmo dia, ela também completaria o último capítulo de sua jornada: correr 13 maratonas em 12 meses, arrecadando dinheiro e conscientização sobre o câncer do sangue em nome de Xander.

Sim, o momento pedia algo especial. Algo marcante. No início, Coleman-Day chegou a considerar correr os 42 km inteiros com o vestido. “Percebi bem rápido que seria uma ideia horrível”, ela ri. “Então decidi que usaria apenas para cruzar a linha de chegada.”

Correndo com o luto

Nos primeiros tempos do namoro, Coleman-Day e Xander corriam juntos. “Quando a gente se conheceu, eu queria impressionar ele”, ela conta. “Ele era super em forma, e eu lá, ofegante, vermelha — nada atraente.”

Eles se casaram em 2019, tiveram o filho Amos, que hoje tem três anos, e as corridas ficaram em segundo plano. Mas quando Xander recebeu o diagnóstico em 2022 e depois passou por um transplante de células-tronco por meio da Anthony Nolan, Coleman-Day calçou os tênis e voltou a correr.

“Queria retribuir”, ela diz. “Então me inscrevi para correr a Maratona de Londres de 2023 por caridade. Nunca achei que fosse ser aceita, mas fui! Treinei, arrecadei fundos — foi incrível. Disse que nunca mais correria outra maratona, mas vira um vício. Me inscrevi para 2024 e fui aceita de novo.”

Mas a tragédia mudou tudo. Xander faleceu aos 36 anos, em fevereiro de 2024, após desenvolver doença do enxerto contra o hospedeiro. Devastada, Coleman-Day transferiu seu número de inscrição e passou a se concentrar em reconstruir uma rotina para ela e o filho pequeno. Nos dias mais escuros, ela se forçava a sair para correr alguns quilômetros.

“A corrida me deu espaço para respirar”, conta. “Me deu tempo para pensar, para entender as coisas. Me deu estrutura. Me ajudou a cicatrizar.”

Com o tempo, ela se sentiu pronta para encarar novamente os 42 km — mas dessa vez, com um novo propósito: correr 13 maratonas em um ano, encerrando o ciclo em Londres. E cruzar essa última linha de chegada com o vestido que usou para se casar com Xander.

bride running a race and with her London Marathon 2025 medal

Troca de roupa

Usar um vestido de noiva durante uma maratona pode parecer simples na teoria, mas a prática é bem diferente — especialmente com 56.640 corredores batendo os pés no asfalto e multidões com até dez pessoas de profundidade ao longo do trajeto.

Coleman-Day pediu ajuda a duas de suas melhores amigas, que foram madrinhas em seu casamento, para levar o vestido até a prova e encontrá-la no quilômetro 37. O plano original era que elas “jogassem o vestido por cima da grade”, mas no fim das contas, o trio se encontrou em um ponto de torcida para uma rápida (e cômica) troca de roupa.

“Ah, eu estava quente e suada, e tivemos muita dificuldade para vestir o vestido”, ela ri, explicando que manteve o short de corrida e o top esportivo por baixo. “Ele nem servia direito — ter um filho muda seu corpo! Mas isso acabou sendo uma bênção. O zíper não fechava todo, então entrou um pouco de ar.”

Com o vestido meio aberto, ela partiu para os quilômetros finais. Sorrindo a cada passo, absorveu os gritos da multidão à sua volta, muitos gritando “Runaway bride!” (noiva em fuga).

Apesar da carga emocional do dia, Coleman-Day não chorou. Em vez disso, pensou em Xander e em como ele reagiria à cena. “Consigo ver ele lá em cima, rindo de mim, pensando: ‘Você é maluca!’”

Laura Coleman-Day with her race medal and with her son

Valeu a pena

Vídeos e fotos dos últimos quilômetros de Coleman-Day se espalharam rapidamente pela internet, compartilhados milhares de vezes em diferentes países. “Tô em todo lugar!”, ela brinca. “Até na Indonésia!”

A repercussão a surpreendeu. Mas ela torce para que tenha um significado.

“Não achei que alguém fosse se importar tanto assim”, ela diz, com os olhos azuis marejados atrás dos óculos. “Sou só uma mãe de Lincolnshire que correu umas maratonas. Mas adoro saber que a história do Xander agora está por aí. Ele era um homem maravilhoso. E se isso inspirar alguém a fazer algo bom, então tudo isso valeu a pena.”