A Caça ao Tesouro de Fenn: nova série documental da Netflix explora mistério nas Montanhas Rochosas

Por Frederick Dreier, da Outside USA

still da série A Caça ao Tesouro de Fenn
Foto: Netflix

A nova série da Netflix A Caça ao Tesouro de Fenn narra a busca que durou uma década nos Estados Unidos. A série também inclui pistas sobre uma nova fortuna escondida.

+ As 14 melhores ilhas do mundo para aventuras ao ar livre
+ Esses são os 10 parques mais visitados do Brasil, de acordo com levantamento inédito

A caça ao tesouro de Forrest Fenn está de volta e, se você quiser encontrar o prêmio, vai precisar maratonar a Netflix.

Essa é a grande revelação da série documental A Caça ao Tesouro de Fenn, lançada na plataforma nesta quinta-feira, 27 de março. A produção de três episódios acompanha a busca de uma década pelo baú que Fenn enterrou no oeste dos Estados Unidos – e as histórias das pessoas que foram arrastadas pela febre da caça ao tesouro. Ao longo de três episódios de 50 minutos, a série mergulha nos momentos bons, ruins e trágicos da busca, incluindo as cinco mortes ocorridas ao longo da jornada.

(Atenção: spoilers a seguir) Mas o grande momento da série acontece nos minutos finais do último episódio. Um dos caçadores de tesouros retratados no documentário, o engenheiro de software Justin Posey, revela que comprou alguns dos 476 itens do tesouro de Fenn após o leilão de 2022. Agora, ele colocou esses objetos – junto com ouro adicional, rubis e até um meteorito – dentro de um baú e o enterrou em algum lugar. Para encontrar essa nova fortuna, é preciso decifrar pistas escondidas nos três episódios da série.

“Eu consegui inserir algumas dicas durante as gravações desta série – ninguém sabe quais são além de mim, nem mesmo os produtores”, diz Posey na cena final. “Então vale a pena assistir e prestar muita atenção.”

Para ser sincero, essa revelação ajuda a explicar algumas das excentricidades de Posey ao longo da série. Ele dirige um caminhão envelopado com um mapa topográfico, concede entrevistas diante de telas de computador exibindo montanhas, riachos e lagos, e mora em uma casa repleta de artefatos estranhos de sua coleção particular.

“A maioria dos meus amigos e familiares me considera excêntrico”, diz Posey no primeiro episódio.

Então, sim, qualquer pessoa que queira encontrar o tesouro de Fenn – ou melhor, o de Posey – precisará assistir a A Caça ao Tesouro de Fenn repetidas vezes, até memorizar cada detalhe do documentário.

Acho que essa é uma maneira criativa de promover um filme.

A Caça ao Tesouro de Fenn vale a pena?

Sem dúvida. Além de servir como ponto de partida para a nova caça ao tesouro de Posey, a série faz um bom trabalho ao capturar o fervor (ou, talvez, a obsessão) que levou milhares de pessoas a se aventurarem na natureza em busca das riquezas de Fenn. A revista Outside USA cobriu essa história entre 2015 e 2023, publicando reportagens extensas, análises e até episódios de podcast. Mas, para quem não conhece a saga, A Caça ao Tesouro de Fenn é uma ótima introdução.

O episódio de abertura dedica bastante tempo a apresentar Forrest Fenn, o piloto aposentado e negociante de arte de Santa Fé, Novo México, e a explicar por que ele lançou a caça ao tesouro em 2010.

Fenn, que faleceu em 2020 aos 90 anos, deu início à busca com um poema publicado em seu livro de memórias, Thrill of the Chase. O poema trazia pistas extremamente vagas sobre a localização do baú:

“Comece onde as águas quentes param, e siga pelo cânion abaixo,
Não muito longe, mas longe demais para ir a pé,
Entre abaixo da casa de Brown.”

As direções enigmáticas estavam abertas às mais variadas interpretações.

A maior contribuição de A Caça ao Tesouro de Fenn para o debate sobre o fenômeno do tesouro de Fenn é mostrar como algumas pessoas se convenceram de que sua interpretação do poema era a correta.

Um desses grupos, a família Hurst – um clã de autoproclamados caipiras de Wyoming – acredita que as pistas descrevem a topografia perto de seu trailer. Ao longo de uma década, eles embarcam em missões quase impossíveis, chegando a passar dois anos tentando escavar uma enorme rocha porque acreditam que o baú está embaixo dela.

Outro caçador, o piloto de avião Lou Boyer, da Califórnia, mergulha em teorias na internet até se convencer de que o tesouro está enterrado em uma propriedade privada na fronteira entre Colorado e Novo México. Ele leva sua família em diversas viagens à área, mas é repetidamente frustrado por portões fechados, pneus furados e outros imprevistos.

Já Cynthia Meachum, uma aposentada, acredita que a chave para encontrar o tesouro está em criar uma relação pessoal com Fenn. Com o tempo, ela absorve pistas dele e se convence de que o baú está enterrado no Parque Nacional de Yellowstone.

E então há Justin Posey, cuja abordagem obsessiva é tão impressionante quanto preocupante. Ele desenvolve um software de reconhecimento facial para analisar entrevistas de Fenn na televisão, na esperança de captar pistas nos gestos do homem de 85 anos. Também treina seu cachorro para farejar ouro e bronze enterrados.

Assim como Meachum, Posey se convence de que o baú está em Yellowstone e, durante uma de suas expedições, acaba procurando exatamente na área onde o tesouro foi encontrado em 2020 por um estudante de medicina chamado Jack Steuf.

Caçadores de padrões

Enquanto assistia A Caça ao Tesouro de Fenn, lembrei-me da minha adolescência e da teoria de que tocar Dark Side of the Moon, do Pink Floyd, enquanto se assiste a O Mágico de Oz cria uma trilha sonora perfeita para o filme. Levei anos para perceber que essa conexão era apenas o cérebro instintivamente traçando padrões entre as duas obras – além, claro, da influência de um pouco de fumaça.

Esse fenômeno psicológico, provavelmente um resquício evolutivo, alimenta a obsessão dos caçadores do tesouro de Fenn. Eles enxergam padrões em tudo e não precisam de um bong para largar tudo e se embrenhar na floresta. Mas há também razões profundamente humanas que os impulsionam.

O irmão de Posey, que também caçava o tesouro, morreu por suicídio, e a tragédia convenceu Posey de que ele precisava encontrar o baú. A família Hurst via a caça como uma saída para a pobreza e uma forma de garantir um futuro melhor para sua irmã com deficiência.

Além disso, todos os grupos admitiram que o espírito de aventura ao ar livre os motivava a continuar. Apesar dos aspectos sombrios da caça ao tesouro – incluindo perseguições a Fenn e sua família, além de um invasor que chegou a entrar em sua casa –, Ouro & Ganância argumenta que essa busca pelo desconhecido fez tudo valer a pena. Cabe ao espectador decidir se concorda com essa conclusão.

O que diz o diretor de A Caça ao Tesouro de Fenn

Recentemente, entrevistei Jared McGilliard, diretor e produtor executivo de A Caça ao Tesouro de Fenn, que compartilhou os bastidores da produção.

Outside USA: Você teve alguma preocupação com o fato de o documentário servir como ponto de partida para a nova caça ao tesouro de Justin Posey?

McGilliard: “O anúncio de Justin pode ser o primeiro capítulo da nova busca, mas, para mim, também é a última página de sua história com o tesouro de Fenn. Meu foco era contar sua trajetória com profundidade e sinceridade. Se eu não incluísse essa revelação no final da série, estaria ignorando um aspecto essencial da história dele.”

Como você escolheu os caçadores retratados no documentário?

“O critério principal era a obsessão. Todos eles passaram anos na busca e experimentaram altos e baixos intensos. Eu queria histórias com riscos emocionais reais – tragédia, beleza, aventura. Também busquei diversidade socioeconômica, para mostrar o que o tesouro significava para cada um. E, claro, diferentes estratégias de caça, para tornar a série envolvente.”

O que espera que o público leve desta história?

“Muitas vezes focamos apenas no resultado: ganhar ou perder. Mas essas pessoas viveram muitas vitórias e derrotas ao longo da jornada. Nenhuma delas voltou para casa com um baú de tesouro, mas todas tiveram suas vidas transformadas.”