Dois novos estudos trazem dados frescos no debate sobre exercício e função cerebral
Em 2023, pesquisadores frearam uma das minhas crenças mais queridas sobre exercícios: a ideia de que a aptidão aeróbica torna o cérebro mais saudável e resistente ao declínio cognitivo relacionado à idade. O raciocínio é que o exercício estimula a produção de substâncias químicas que promovem o crescimento cerebral, melhora o fluxo sanguíneo para o cérebro ou simplesmente incentiva hábitos de sono mais saudáveis e interações sociais mais benéficas. Essa ideia existe há décadas e é um pilar do jornalismo de saúde. No entanto, uma grande revisão publicada na Nature Human Behaviour concluiu que as evidências científicas eram fracas demais para afirmar que o exercício torna as pessoas mais inteligentes.
Por isso, fico feliz em relatar dois novos estudos que apoiam os benefícios do condicionamento físico para o cérebro. Ambos utilizam o VO2 máximo como uma medida objetiva e de referência para a aptidão aeróbica, em vez de estimar o nível de condicionamento ou os hábitos de exercício. Um dos estudos descobriu que um VO2 máximo mais alto está associado a uma melhor função cognitiva em adultos mais velhos; o outro concluiu que ele preserva o tamanho de uma região-chave do cérebro com o passar dos anos. Ultimamente, o VO2 máximo tem recebido bastante atenção por sua capacidade de prever a longevidade, e esses novos dados reforçam a ideia de que seus benefícios também se aplicam ao cérebro.
O primeiro estudo foi publicado no British Journal of Sports Medicine por uma equipe de pesquisadores de várias universidades, coordenada por Kirk Erickson, do AdventHealth Research Institute. Eles submeteram 648 adultos, com idades entre 65 e 80 anos, a um teste de esforço em esteira até a exaustão para medir o VO2 máximo. Além disso, aplicaram uma série de testes cognitivos para avaliar memória episódica, velocidade de processamento, memória de trabalho, função executiva/controle atencional e habilidade visuoespacial.
Há várias maneiras de analisar os dados, mas o resultado básico é direto: um VO2 máximo mais alto foi associado a pontuações melhores em todos os cinco aspectos da função cognitiva, com um nível de significância estatística muito forte.
Veja como os dados se comportaram em cada uma das cinco categorias:
O uso do VO2 máximo como medida de aptidão física aqui é fundamental. Parte da confusão em estudos anteriores pode ter ocorrido porque eles se basearam em medidas menos precisas de condicionamento físico ou níveis de exercício. Isso lembra os achados sobre aptidão física e longevidade. Se você perguntar às pessoas quanto elas se exercitam e depois esperar para ver quanto tempo elas vivem, os resultados costumam ser ambíguos. Mas se você medir diretamente o VO2 máximo delas, o resultado fica cristalino: aqueles com VO2 máximo mais alto tendem a viver mais, sem um limite superior claro para esse benefício. Esses dados sugerem um padrão semelhante para a função cognitiva.
No entanto, isso não responde a todas as nossas perguntas. Será que um nível mais alto de aptidão física causa uma melhora na função cognitiva? Se sim, como? E será que isso ajuda a evitar o declínio cognitivo? O segundo estudo, conduzido por Rong Zhang e colegas do University of Texas Southwestern Medical Center, aborda essa última questão ao testar 172 adultos em uma faixa etária muito mais ampla, de 22 a 81 anos. Além dos testes de VO2 máximo e cognição, os participantes passaram por exames de ressonância magnética para medir o tamanho e a estrutura do cérebro. A hipótese era de que um VO2 máximo mais alto estaria associado a uma menor redução do volume cerebral com o envelhecimento, o que, por sua vez, estaria ligado a melhores pontuações cognitivas.
Os resultados, publicados no Journal of Applied Physiology, não corresponderam totalmente às expectativas. O VO2 máximo não foi associado ao volume total de massa cinzenta nem à espessura do córtex cerebral (as duas medidas da estrutura cerebral nas quais os pesquisadores esperavam ver diferenças), nem ao desempenho cognitivo geral.
Por outro lado, uma região-chave do cérebro chamada volume do córtex parietal superior direito apresentou um padrão interessante: nos adultos mais velhos com menor aptidão física, essa área era menor, sugerindo um encolhimento com a idade. Já nos adultos mais velhos com maior aptidão física, essa mesma região não apresentou redução significativa de tamanho. Veja como esses dados se comportaram:
A linha laranja (e os círculos brancos) mostra o declínio gradual no tamanho dessa região cerebral conforme a idade avança nos participantes com VO2 máximo abaixo da média. Já a linha azul (e os círculos pretos) permanece praticamente reta: não há encolhimento aparente com o envelhecimento nos participantes com VO2 máximo acima da média.
Curiosamente, o tamanho dessa região do cérebro também foi associado a pontuações mais altas em testes de inteligência fluida, que mede a capacidade de pensar rapidamente e responder a novas informações. Isso sugere que manter ou melhorar sua aptidão física pode ajudar a evitar parte da redução do volume cerebral e do declínio cognitivo que geralmente acompanham o envelhecimento. No entanto, como os pesquisadores precisaram buscar efeitos secundários—focando em uma pequena região do cérebro em vez do órgão como um todo—, os achados não são tão conclusivos.
Há, no entanto, uma ressalva importante. Os participantes de ambos os estudos eram sedentários! No primeiro estudo, o VO2 máximo médio foi de 21,7 ml/kg/min. No segundo, variou de cerca de 35 ml/kg/min nos participantes mais jovens para 23 ml/kg/min nos mais velhos. Esses valores estão entre a média e abaixo da média em relação à população geral. Não é tão surpreendente que os pesquisadores não tenham encontrado um efeito forte do condicionamento físico, porque (com todo o respeito) nenhum dos participantes era realmente condicionado.
O cenário fica mais animador quando olhamos para atletas treinados. Por exemplo, um estudo de 2016 comparou 16 triatletas da categoria masters (idade média de 53 anos, VO2 máximo médio de 55 ml/kg/min, o que é excepcional) com 16 indivíduos saudáveis e ativos (idade média de 58 anos, VO2 máximo médio de 38 ml/kg/min, o que ainda é um bom nível). Nesse caso, havia diferenças claras na estrutura cerebral. De modo geral, os atletas tinham um córtex cerebral mais espesso—camada externa do cérebro responsável pela cognição. Também foram encontradas diferenças no tamanho de várias regiões cerebrais individuais.
Olhando além dos estudos individuais, o quadro geral reforça a ideia de que a aptidão física tem impacto no cérebro. No entanto, não se trata de uma solução instantânea ou de uma cura milagrosa. Se eu tivesse que fazer um palpite, diria que qualquer atividade física que você pratique provavelmente traz benefícios para o cérebro (e, claro, para o corpo) de alguma forma. Mas, para obter vantagens significativas e mensuráveis, é provável que seja necessário se exercitar de uma maneira que melhore—ou, com o envelhecimento, mantenha—seu VO2 máximo. Em outras palavras, se você quer ficar mais inteligente, comece ficando mais rápido.
*Alex Hutchinson escreve sobre treinamento na Outside.