Com menos de 30 mil casos por ano nos EUA, a rabdomiólise não é uma doença comum — mas para alguns trilheiros que ultrapassam seus limites, ela pode ser fatal.
Em junho de 2024, Christopher “Crigas” Rigas estava no meio de um trekking pela Continental Divide quando começou a sentir náuseas e tremores, e sua frequência cardíaca disparou para 240 batimentos por minuto.
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Rigas procurou atendimento em uma clínica de urgência, onde os médicos o diagnosticaram com rabdomiólise, uma condição potencialmente letal causada por lesões no tecido muscular, que pode levar à falência renal e ao AVC.
A equipe médica rapidamente transferiu Rigas para um hospital, onde ele recebeu dez bolsas de fluidos intravenosos. Escrevendo para o site The Trek, Rigas contou que um médico lhe disse que ele provavelmente teria morrido se tivesse esperado mais um dia para buscar ajuda.
Depois de sair do hospital, ele continuou dormindo 12 horas por dia e, ocasionalmente, desmaiava sob luzes fortes. Quando se recuperou o suficiente para voltar à trilha, percebeu que já não sentia necessidade de fazê-lo. Em vez disso, caminhou pela trilha Tahoe Rim com alguns amigos e começou a lidar com sua recém-adquirida dívida médica.
A história de Rigas é um alerta sobre os riscos de atletas de resistência que desafiam seus próprios limites. Mas entre os trilheiros de longa distância, seu caso não é único: no ano passado, Kyle Curtin estabeleceu um novo recorde de tempo na trilha Colorado Trail, de 800 quilômetros. Apesar da façanha inspiradora, ele acabou no hospital com rabdomiólise.
Curtin relatou que os quilômetros finais de sua jornada foram insuportáveis; pouco depois, internou-se no hospital, onde recebeu sete bolsas de fluidos. Assim como Crigas, Curtin quase acabou no necrotério devido à sua tentativa de quebrar um recorde. Em 2023, um trilheiro perdeu a vida devido à mesma condição, após uma caminhada intensa no Grand Canyon resultar em um ataque cardíaco.
O Dr. Jared Menchin, podólogo baseado no Colorado, explica que a rabdomiólise não é comum.
“Há aproximadamente 26 mil casos de rabdomiólise relatados nos EUA por ano”, diz ele. Em comparação, há cerca de 41 milhões de casos de gripe anualmente, com até 52 mil mortes resultantes.
Com vários casos da doença ocorrendo em trilhas de longa distância, é evidente que há uma possível conexão entre o backpacking e a condição. O Dr. Menchin explica que a rabdomiólise pode se manifestar de maneiras diferentes para cada pessoa.
“A quantidade de esforço necessária para desenvolver rabdomiólise varia conforme fatores individuais, como nível de condicionamento físico, hidratação e condições de saúde preexistentes”, afirma. “No entanto, exercícios extenuantes ou atividades físicas que envolvem contrações musculares prolongadas ou repetitivas, especialmente em condições de calor e umidade, aumentam o risco.” O que se sabe é que a doença surge quando os tecidos musculares são danificados a ponto de liberar substâncias tóxicas na corrente sanguínea.
A rabdomiólise também pode ser muito mais difícil de detectar do que uma gripe comum. Em alguns casos, ela é assintomática. O Dr. Menchin alerta que os trilheiros devem ficar atentos a dores musculares, fraqueza, inchaço, urina escura (com cor de chá) e fadiga generalizada.
“Se você apresentar sinais ou sintomas de rabdomiólise, é fundamental procurar atendimento médico imediato”, enfatiza Menchin. “O diagnóstico e o tratamento precoces podem ajudar a evitar complicações e melhorar os desfechos.”
A lição? Trilheiros precisam estar atentos e ouvir seus corpos. É essencial saber quando o desgaste normal de uma caminhada se transforma em algo mais sério — e estar pronto para buscar ajuda sem demora.
Mary Skylis escreve para a Backpacker.