Com Patagônia em chamas, governo argentino classifica grupo indígena de terrorista

Por Redação

Foto: Jade Sivori / Climbing.

Incêndios florestais seguem devastando milhares de hectares de florestas nativas na Patagônia, sul da Argentina. Em apenas dois meses, mais de 20 mil hectares foram queimados em três províncias: Chubut, Río Negro e Neuquén.

Isso equivale a 28 mil campos de futebol ou o dobro da área de Buenos Aires. Especialistas alertam que a situação deve permanecer crítica pelo menos até o mês de abril.

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Há semanas o governo de Javier Milei vem apontando o grupo indígena RAM (Resistência Ancestral Mapuche) como sendo o responsável pelo fogo. O motivo real por trás dos incêndios, no entanto, ainda não foi esclarecido.

A área recentemente mais afetada foi a da pequena cidade de El Bolsón, em Río Negro, com cerca de 24 mil habitantes. Ali, com dez dias de fogo constante, 3.500 hectares foram tomados e 140 casas, destruídas. Ao menos um homem morreu.

Os moradores se somaram aos bombeiros para controlar o fogo como puderam, até que uma pancada de chuva nesta semana aliviou os trabalhos de controle das chamas.

O grupo radical mapuche RAM ao longo de toda a última década teve diferentes confrontos com governos por disputas por terra. Uma das mais graves se deu justamente quando a linha-dura Patricia Bullrich ocupava o mesmo cargo, mas na gestão de Mauricio Macri, em 2017.

Foi quando, durante uma manifestação mapuche na Patagônia, o ativista Santiago Maldonado desapareceu, e seu corpo foi encontrado mais de dois meses depois em um rio. Até hoje o caso não foi resolvido.

As acusações atuais pelos incêndios recaem especialmente sobre Facundo Jones Huala, 38, autoproclamado líder mapuche e dirigente da RAM, a liderança indígena mais controversa do país.

No início deste mês, o governo Milei formalizou uma denúncia contra ele por intimidação pública, incitação a violência coletiva, apologia ao crime e associação criminosa. Há afirmações muito pouco detalhadas ou esclarecidas de que ele teria assumido a autoria dos incêndios.

Junto ao decreto no Diário Oficial, a pasta da Segurança apresentou um informe de 19 páginas no qual lista mais de 130 diferentes acusações contra o grupo mapuche desde 2010. O documento público descreve a agrupação como “um movimento étnico-nacionalista violento que opera no território argentino há mais de 15 anos”.

E segue: “Seus ativistas cometem delitos contra a propriedade, a segurança pública, a ordem e as pessoas. Têm como objetivo promover uma luta de insurreição contra o Estado argentino e a propriedade privada da terra. A organização desconhece a soberania do Estado argentino e proclama que a República e suas leis são ilegítimas”.

Os mapuches, povo originário do sul da Patagônia, espalham-se hoje entre território chileno e argentino. São, ao todo, mais de 1,8 milhão de pessoas. A maioria (cerca de 1,7 milhão) vive do lado chileno da fronteira, e uma minoria (145 mil) do argentino, segundo os últimos censos demográficos dos respectivos países.

Há diversos grupos que fazem reivindicações em níveis diferentes. Existem os que pedem demarcação de territórios, o direito à soberania e o ensino da cultura mapuche nas escolas. E há os mais radicais, que reivindicam o reconhecimento de uma nação mapuche independente.

Os incêndios estão se espalhando a apenas 200 km de Piedra Parada e 1.270 km de El Chaltén, dois dos destinos de escalada mais icônicos da região. “A Patagônia do Norte abriga 120 setores de escalada, muitos dos quais agora estão em risco”, afirma Esteban Degregori, membro da Acceso PanAm, uma organização sem fins lucrativos que protege o acesso e promove a conservação de áreas de escalada na América Latina. “Alarmantemente, dois desses incêndios estão ocorrendo dentro de parques nacionais, colocando ainda mais em perigo ecossistemas frágeis.”

Os incêndios em curso representam uma ameaça significativa para essas áreas de escalada, potencialmente levando ao fechamento de trilhas, destruição de habitats e impactos ecológicos de longo prazo.

Uma campanha no GoFundMe foi criada para arrecadar fundos para os esforços de combate aos incêndios e ajudar os moradores deslocados. As contribuições auxiliarão na aquisição de equipamentos essenciais e no suporte às iniciativas de recuperação.

Com informações de Folha de S.Paulo.