Dormir perto do celular faz mal?

Por Calin Van Paris, do Yoga Journal/Outside USA

Dormir perto do celular
Foto: Freepik

Dormir perto do celular sempre me pareceu algo intrinsecamente incômodo. Posicionado no criado-mudo ou próximo ao travesseiro, o aparelho exerce um apelo poderoso demais, tornando ações como checar e-mails ao acordar ou ficar nas redes sociais tarde da noite muito acessíveis — e isso deve estar prejudicando meu descanso.

Mas será que isso é um problema pessoal meu ou é realmente ruim dormir perto do celular?

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Dormir perto do celular faz mal?

“Embora as pesquisas ainda estejam evoluindo, existem várias razões bem documentadas para o fato de manter o celular perto de você à noite ser algo disruptivo”, afirma Nicole Moshfegh, psicóloga clínica norte-americana e autora do livro The Book of Sleep [O Livro do Sono, em tradução livre]. Desde notificações até a luz azul artificial ou a tentação de rolar a tela, Moshfegh destaca que o “efeito do celular na cabeceira” é muito real.

A psicóloga clínica e especialista em medicina comportamental do sono, Shelby Harris, diz que desligar os dispositivos à noite pode ajudar a criar um ambiente de sono mais tranquilo. “Você evita ser interrompido por notificações ou cair na tentação de rolar a tela, o que ajuda a alcançar um sono mais profundo e restaurador”, ela explica. “Algumas pessoas também relatam se sentirem menos ansiosas ou agitadas ao se desconectar, o que pode melhorar a qualidade geral do sono.”

Eu posso atestar isso pessoalmente. Algumas semanas atrás, meu namorado e eu decidimos começar a deixar nossos celulares em outro cômodo na hora de dormir (uma prática defendida por autores como Neil Pasricha). Por volta das 21h45, dissemos boa noite aos nossos telefones, substituímos o alarme do iPhone por um despertador com luz simulando o nascer do sol e fomos dormir.

Na primeira noite sem os celulares, ambos dormimos a noite toda pela primeira vez em muito tempo. Sem o brilho sutil de uma notificação perdida iluminando o teto, senti-me menos ansiosa e “ligada”, o que me permitiu adormecer com mais facilidade do que o habitual. Pela manhã, acordamos com o nascer do sol (tanto o real quanto o simulado) e aproveitamos alguns momentos de calma antes de enfrentar o bombardeio de notificações.

Algo particularmente notável (e desconcertante) para mim: meus sonhos vívidos voltaram. Acordei naquela primeira manhã impressionada com a vivacidade dos meus sonhos e com a minha capacidade de recordá-los. Eu nem tinha percebido o quanto meu mundo onírico havia se tornado insípido. Mas sem o celular, parecia que minhas visões noturnas, que por anos apareceram como imagens apagadas, voltaram em um tecnicolor dinâmico, divertido e fascinante.

Pode ser efeito placebo, mas, após três semanas, esses efeitos parecem persistir.

Se não dormir perto do celular soa desafiador, tente reduzir gradualmente o uso digital antes de dormir. Eventualmente, você pode perceber que deixar o telefone — e toda a sua urgência — bem longe de você enquanto dorme é mais atraente do que o hábito de rolar a tela sem parar.

4 dicas para um detox digital na hora de dormir

“Um detox digital não exige que você elimine completamente a tecnologia”, diz Moshfegh. “Trata-se de estabelecer limites saudáveis.” Aqui estão algumas maneiras de começar a nova rotina de não dormir perto do celular:

  1. Estabeleça um horário para desligar as telas
    Harris recomenda iniciar sua jornada de detox noturno com um “toque de recolher” tecnológico que comece de 30 a 60 minutos antes de dormir. “Use esse tempo para relaxar com atividades sem telas, como ler um livro, escrever em um diário ou praticar um pouco de atenção plena”, ela sugere.
  2. Use o modo “não perturbe”
    Se o celular ainda permanecer no quarto (por enquanto), aproveite os recursos disponíveis, começando pelo modo “Não Perturbe” ou “Modo Avião”. Essas funções, que muitos celulares permitem programar em um horário recorrente, podem silenciar a maioria das notificações, enquanto ainda permitem chamadas ou mensagens de contatos selecionados.
  3. Ative o modo noturno
    A luz azul pode estar interferindo na sua mente — e nos seus hormônios. “Os celulares emitem luz azul, que pode atrapalhar a produção de melatonina, o hormônio responsável por regular o sono”, diz Moshfegh. “Essa interferência pode dificultar o ato de adormecer e, em alguns casos, prejudicar a qualidade do sono, deixando você menos descansado pela manhã.” O recurso “Night Shift” do iPhone minimiza a luz azul com um filtro de aquecimento embutido, tornando o uso do telefone na cama um pouco mais amigável ao sono.
  1. Limite o conteúdo estimulante
    Se você gosta de consumir conteúdo como crimes reais, notícias, filmes de terror ou qualquer tipo de rede social para relaxar, talvez seja hora de reconsiderar seus hábitos. Segundo Moshfegh, esse tipo de conteúdo pode aumentar os níveis de estresse, dificultar o adormecer e interromper a qualidade do sono. Não se preocupe — sua mídia favorita estará disponível ao acordar.