Existem dois tipos de fadiga, e cada uma exige uma abordagem única para ser resolvida
Uma das minhas clientes de coaching, que chamarei de Jenny, é uma empreendedora de 39 anos. Ultimamente, ela tem lutado contra a fadiga, nada muito grave, mas um cansaço geral ou, em suas palavras, “não me sentindo tão afiada e energética quanto gostaria”. A primeira solução que vem à mente é simples: descansar. Mas o que acontece se ela tenta descansar e ainda se sente sem energia?
Os dois tipos de fadiga
A situação de Jenny não é incomum. Ela ilustra o que passei a considerar como a diferença entre dois tipos de fadiga:
1. Quando seu sistema corpo-mente está verdadeiramente cansado, ou o que chamarei de fadiga real.
2. Quando seu sistema corpo-mente está enganando você, fazendo-o sentir-se cansado porque está preso a uma rotina, ou o que chamarei de fadiga falsa.
É importante diferenciar essas duas sensações porque a resposta que cada uma requer não poderia ser mais diferente — a primeira exige desacelerar e descansar, enquanto a segunda exige se impulsionar na direção da ação, não levando muito a sério a sensação de exaustão, mas, em vez disso, trabalhando para sair dela.
Veja também
+ Maya Gabeira anuncia aposentadoria do big surf: “Sei que escolhi a carreira certa”
+ De volta aos trilhos: como retomar a rotina sem stress
+ Monte McKinley: por que Trump trocou o nome do Denali?
“Fadiga Real”
Quando se trata de fadiga física, ela pode ser mais fácil de identificar. Isso porque o feedback tende a ser mais objetivo — seus músculos ficam doloridos, sua frequência cardíaca aumenta ou a velocidade com que você corre (ou o peso que você levanta) diminui. Para a fadiga mais generalizada e predominantemente psicológica, entretanto, faltam métricas tão claras. Isso significa que você precisa “sentir” qual é a resposta certa.
De maneira geral, o custo de superar a fadiga real é maior do que o custo de ceder à fadiga falsa. Forçar-se demais por muito tempo pode resultar em esgotamento, que, segundo pesquisas, pode levar muitos meses — e, em casos graves, anos — para ser revertido.
A aposta mais segura, então, é tratar o início da exaustão como se fosse fadiga real. Tire um dia (ou alguns) de folga. Durma um pouco mais. Desconecte-se de dispositivos digitais. Se puder, passe um tempo na natureza. Reavalie sua rotina diária e, se algo parecer fora do lugar, faça ajustes.
Se você fizer tudo isso e ainda assim sentir um mal-estar, vale a pena ver o que acontece se você se impulsionar firmemente para a ação.
“Fadiga Falsa”
Um exemplo extremo de fadiga falsa é a exaustão que acompanha a depressão. Seu cérebro faz de tudo para enganar você, querendo que fique na cama o dia todo, enquanto a melhor coisa para romper o ciclo seria levantar-se e agir, o que os psicólogos chamam de “ativação comportamental”, um tratamento padrão-ouro para a depressão.
Isso não significa que as sensações de letargia, apatia e torpor não sejam reais — elas são, e podem ser bastante paralisantes. Mas essas sensações, até onde sabemos, não são orgânicas, não são causadas por falta de sono, consumo de recursos fisiológicos ou algo errado no corpo. Se fossem, agir só pioraria a situação. Mas, como mostram as pesquisas, na depressão, agir — especialmente quando apoiado por terapia — tende a melhorar a situação.
Esse tipo de fadiga falsa acontece em menor escala o tempo todo. Por exemplo, cerca de oito meses atrás, continuei adiando o início do meu próximo grande projeto de escrita. Eu me sentia cansado! Então descansei. E descansei mais. Após cerca de três semanas, com a ajuda do meu próprio coach, decidi me forçar a começar. Três dias depois, eu estava em um ótimo ritmo de escrita que durou mais de um mês. Mais descanso só teria aprofundado o marasmo. Eu precisava trabalhar para sair dele.
Como parar de sentir cansaço
Há uma nuance a mais aqui, e é importante. Às vezes, romper o ciclo da fadiga exige combinar ambas as estratégias acima. Você pode estar experimentando fadiga real e, portanto, precisar descansar. Mas, após uma semana de descanso, seu sistema corpo-mente pode estar recuperado e ainda preso na inércia de não fazer nada. Nesse ponto, a estratégia muda. No esporte, é por isso que tantos períodos de recuperação terminam com alguns esforços curtos e intensos. Estudos mostram que esses esforços despertam o corpo e o colocam de volta em ação.
Sua melhor aposta é pensar em gerenciar a exaustão como uma prática contínua. Com o tempo, se prestar atenção em como se sente, no que faz em resposta e nos resultados disso, você se tornará melhor em diferenciar a fadiga real da falsa. O primeiro passo é aprender que nem todas as sensações de cansaço significam a mesma coisa.
Para aqueles acostumados a sempre superar a exaustão, talvez você precise de mais descanso. Para aqueles acostumados a sempre descansar, talvez você se beneficie de uma mentalidade de “apenas comece”, em que “o humor segue a ação”. Pense nessas abordagens como duas ferramentas na caixa. Há um tempo e lugar para cada uma.
*Brad Stulberg (@Bstulberg) é coach de desempenho e escreve a coluna “Do It Better” para a Outside. Ele também é autor best-seller dos livros “The Passion Paradox” e “Peak Performance”.*