Alpinistas planejam escalar o Everest em menos de uma semana usando gás xenônio

Por Redação

xenônio
O guia Lukas Furtenbach no topo de Everest em 2024. Foto: Reprodução / ExplorersWeb.

Um grupo de alpinistas planeja reduzir o tempo de escalada do Everest, acelerando quimicamente o ciclo de aclimatação e o desempenho graças a um novo método. Eles vão inalar gás xenônio antes da escalada e seguir diretamente para o cume.

O xenônio, um gás incolor usado em anestesias e como propulsor de foguetes, aparentemente tem o efeito colateral de aumentar radicalmente a produção de EPO (eritropoetina, um hormônio que regula os níveis saudáveis de glóbulos vermelhos).

Veja também
+ Atletas do outdoor compartilham histórias de sobrevivência nos incêndios de Los Angeles
+ A tecnologia que monitora biodiversidade, árvores e ar da Amazônia
+ Ciclista chilena quebra recorde ao subir o vulcão mais alto do mundo de MTB

O gás ajuda na multiplicação dos glóbulos vermelhos sem a necessidade de aclimatação ou injeção de uma versão sintética do hormônio.

Embora alpinistas tradicionais critiquem a crescente “turistificação” do Everest, alguns clientes com mais dinheiro do que tempo passaram a enxergar o método como uma solução ideal.

De acordo com o site ExplorersWeb, um pequeno grupo de clientes da Furtenbach Adventures planeja voar para Katmandu nesta primavera, assim que as previsões indicarem uma janela climática favorável.

Lá, eles receberão terapia com xenônio em uma clínica antes de voar para o Campo Base do Everest e iniciar a subida ao cume imediatamente.

A equipe explicou a nova abordagem em um artigo publicado na última semana no Financial Times. O plano é escalar o Everest em três dias, com oxigênio suplementar e auxílio de sherpas. Eles reservaram mais um dia para a descida.

Responsável pela empreitada, o guia austríaco Lukas Furtenbach confirmou o plano ao ExplorersWeb. Ele também se diz preparado para receber críticas de parte da comunidade do montanhismo.

Nos últimos anos, Furtenbach especializou-se em “expedições rápidas”. Essas escaladas utilizam treinamento em hipóxia antes da viagem e tecnologia de ponta durante a subida. Os alpinistas são monitorados constantemente durante o ataque ao cume.

“Fazemos isso para prevenir HAPE e HACE [edema pulmonar e cerebral], como qualquer outra forma de aclimatação, e não para melhorar o desempenho”, explicou Furtenbach.

“Em última análise, trata-se de aumentar a segurança. Melhor aclimatação significa melhor prevenção de doenças de altitude, e menos tempo de exposição na montanha significa uma expedição mais segura. Se as pessoas são contra isso, são contra melhorar a segurança na montanha.”

No entanto, também é verdade que expedições mais curtas reduzem custos para os organizadores e atraem um novo nicho de clientes ricos.

Furtenbach cobrará US$ 154 mil por cliente no programa com xenônio. E o gás é extremamente caro: uma sessão de 30 minutos custa US$ 5 mil por pessoa, segundo o artigo do Financial Times.

Furtenbach tornou-se adepto da terapia com xenônio após usá-la no Aconcágua em 2000, seguindo a sugestão de Michael Fries, um anestesiologista alemão.

“Uma pequena equipe, incluindo eu, usamos isso por cinco anos em diferentes montanhas”, disse Furtenbach. “Entre elas estão o Aconcágua, o Everest e o Lhotse. Começaremos a usar isso com nossos clientes em 2025. Não tenho conhecimento de ninguém mais com a experiência, o conhecimento e o equipamento técnico para esse tratamento.”

Para alguns alpinistas experientes ouvidos pelo ExplorersWeb, como Alan Arnette, a história do xenônio é apenas mais um capítulo em uma série de controvérsias em torno do Everest e dos picos de 8.000 metros comercializados, revelando um problema que vai muito além de um alpinista usar uma substância específica.

Trata-se da percepção geral de que apenas os cumes e os recordes importam, em detrimento da experiência — o longo caminho até lá, as intermináveis esperas no acampamento para o clima melhorar, o companheirismo que se forma e, sim, até mesmo os fracassos, diz o texto.

Apesar de o montanhismo não ser considerado um esporte profissional, a WADA, a Agência Mundial Antidoping, incluiu o xenônio em sua lista de substâncias proibidas nas modalidades regulamentadas pela entidade.