Um novo relatório entrevistou 500 atletas profissionais de 55 esportes sobre seus rendimentos em 2023 e revelou que a maioria das mulheres no esporte ainda mal consegue se sustentar.
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Um novo relatório da Parity, uma plataforma de marketing esportivo, é um lembrete contundente dos desafios financeiros enfrentados por muitas atletas profissionais.
Pesquisando 500 atletas de 55 esportes, o estudo de 2023, Beyond the Game: Exposing the Economic Realities of Professional Women Athletes [Além do Jogo: Revelando as Realidades Econômicas das Atletas Profissionais], revelou uma realidade econômica preocupante: a maioria dessas atletas mal consegue se sustentar — e, em alguns casos, chegam a pagar para competir.
Os números
Os resultados do estudo destacam a situação financeira precária enfrentada pelas atletas mulheres. [As entrevistadas vêm de 30 países diferentes (73% dos Estados Unidos) e competem em mais de 28 países diferentes (64% competem principalmente nos Estados Unidos)]. Veja alguns dos dados:
- 58% das entrevistadas ganham menos de $25.000 [cerca de R$ 150.000] anuais com o esporte, bem abaixo da renda individual média nos EUA de $48.060 em 2023.
- 50% relataram não ter nenhuma renda líquida após considerar custos como viagens, equipamentos e treinamentos.
- 41% gastaram $10.000 [cerca de R$ 60.100] ou mais do próprio bolso para competir, e 8% gastaram mais de $50.000 [cerca de R$300.700].
Compreensivelmente, essas estatísticas levam muitas mulheres a questionar se vale a pena permanecer no esporte. 64% afirmaram que o estresse financeiro as levou a considerar uma aposentadoria precoce, enquanto 5% já se aposentaram em 2024 devido a restrições financeiras.
Mesmo aquelas que ganham dinheiro com o esporte enfrentam a imprevisibilidade de suas rendas. 40% das entrevistadas citaram a inconsistência salarial, enquanto 57% lidaram com flutuações em patrocínios e oportunidades de endosso.
Como resultado dessa incerteza financeira, 74% das atletas têm empregos fora do esporte, e 25% trabalham em período integral enquanto treinam, em média, mais de 22 horas por semana.
Mulheres no esporte: a perspectiva de uma ciclista
As ciclistas estavam entre os 55 esportes incluídos no estudo da Parity, e os resultados ressoam com dados da The Cyclists’ Alliance (TCA), uma organização trabalhista que representa ciclistas profissionais. A pesquisa anual da TCA fornece uma visão específica do ciclismo sobre o tema e corrobora os achados da Parity.
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De acordo com a pesquisa da TCA, em 2023, 27% das ciclistas profissionais que não competem no WorldTour relataram não receber nenhum salário. Não é surpresa que a pesquisa também tenha apontado “motivos financeiros” como o principal fator que levou 41% das ciclistas a deixarem o esporte antes do esperado.
Segundo a TCA, ciclistas profissionais consistentemente identificam a implementação de um salário mínimo como prioridade, juntamente com maior cobertura da mídia para aumentar visibilidade e patrocínios.
Embora alguns avanços importantes tenham sido feitos para abordar a disparidade de renda no ciclismo feminino, eles geralmente afetam apenas os níveis mais altos.
Conforme Grace Brown, recém-aposentada do WorldTour e nova presidente da TCA, “os salários das ciclistas aumentaram mais de quatro vezes para atletas de alto valor nos últimos cinco anos.”
“Apesar do crescimento positivo do esporte, ainda existem áreas que estão ficando para trás”, afirmou Brown. “Estamos particularmente cientes de que o crescimento no topo nem sempre se reflete nas bases.”
A introdução de salários mínimos para equipes do Women’s WorldTour representou um passo significativo, mas a disparidade entre as equipes do WorldTour e as Continentais é marcante.
As equipes Continentais não são obrigadas a pagar um salário mínimo às atletas, e muitas não o fazem. De acordo com a pesquisa de 2023 da TCA, as ciclistas dessas equipes “lutam para se sustentar”, e as oportunidades de desenvolvimento para atletas jovens frequentemente têm um custo financeiro pessoal.
Pequenos passos, grande impacto
Apesar das estatísticas desanimadoras, há razões para otimismo. A pesquisa da Parity destaca como mesmo investimentos modestos podem fazer uma diferença transformadora para as atletas mulheres:
- 42% das atletas disseram que um patrocínio de $5.000 seria muito significativo, enquanto 88% afirmaram que uma parceria de $20.000 mudaria suas vidas.
As marcas que investem no esporte feminino têm muito a ganhar. De acordo com o estudo, fãs de esportes femininos têm 2,8 vezes mais probabilidade de comprar produtos recomendados por atletas mulheres, vistas como modelos confiáveis e acessíveis.
Como mencionado, o ciclismo especificamente tem mostrado progresso incremental. O estabelecimento de salários mínimos para equipes do Women’s WorldTour e a introdução das UCI ProTeams, um nível intermediário entre as equipes Continentais e as WorldTeams, sinalizam um compromisso crescente com a profissionalização do ciclismo feminino.
Além disso, a paridade no nível olímpico, onde 257 homens e 257 mulheres competiram em cinco disciplinas de ciclismo nos Jogos de Paris, demonstra que a equidade no esporte está se tornando a regra, e não a exceção.
Embora pesquisas como as realizadas pela Parity e pela The Cyclists’ Alliance representem amostras pequenas, elas traçam um panorama claro: atletas mulheres, e ciclistas em particular, continuam enfrentando barreiras financeiras significativas que dificultam sua longevidade e comprometimento com o esporte. Abordar essas questões não é apenas uma questão de justiça — é sobre promover um futuro sustentável para os esportes femininos.