O Parque Nacional da Serra dos Órgãos (Parnaso), localizado na região serrana do Rio de Janeiro, é uma das várias unidades de conservação no Brasil que vem sendo impactadas por incêndios florestais. O fogo atinge regiões de difícil acesso, o que complica as operações de combate.
O trabalho para conter as chamas está sendo conduzido pelo Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro, em conjunto com brigadistas do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), órgão do Ministério do Meio Ambiente responsável pela administração do parque.
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Segundo o biólogo Ernesto Viveiros de Castro, que dirige o Parnaso, uma perícia será realizada após o controle total do incêndio para auxiliar nas investigações.
No entanto, ele afirma categoricamente: “alguém colocou fogo”, disse em entrevista à Agência Brasil. A principal suspeita é que o incêndio tenha começado em áreas rurais próximas ao parque e se espalhado para dentro da unidade de conservação.
O ICMBio relata que existem atualmente 80 focos de incêndio no estado do Rio de Janeiro. O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) reforça essa preocupação, com dados que apontam 978 focos de incêndio no estado desde janeiro. Esse número já representa o maior índice anual desde 2014, quando foram registrados 1.283 focos.
A situação é ainda mais grave em estados do Centro-Oeste e Norte do Brasil, como Mato Grosso, Amazonas e Pará. Em resposta ao aumento das queimadas no país, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva convocou uma reunião interministerial. A Polícia Federal está investigando se há envolvimento de ações criminosas nesses incêndios.
No Parque Nacional da Serra dos Órgãos, as chamas afetam a área da travessia Cobiçado e Ventania. O parque possui a maior rede de trilhas do Brasil e é um dos destinos mais procurados para a prática de esportes de montanha, como escalada, caminhada e rapel.
Em uma entrevista concedida à Agência Brasil na última segunda-feira (16), Castro discutiu a evolução do incêndio, as estratégias de combate, o histórico recente de queimadas na região, as expectativas para a recuperação das áreas atingidas, o funcionamento da unidade e as medidas preventivas para evitar futuros incêndios.
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Qual as principais preocupações envolvendo esse incêndio?
Esse ano está bem seco. Devido aos efeitos do El Niño, a gente já esperava uma ocorrência maior de incêndios nesse ano. Temos tido incêndios com frequência, mas esse último é o pior do ano com certeza. E o pior de alguns anos. O ponto de atenção é que está queimando uma área que não costuma ser atingida. A gente não tem registro de queimadas nessa área. São as florestas das encostas viradas para o mar, em Magé. Esse incêndio veio de Petrópolis, da área do Caxambu que fica na vertente de dentro da serra. Mas virou a serra e está descendo por área de floresta em direção à Magé.
Como tem se dado o trabalho de combate ao fogo?
É um fogo complicado de combater porque ele está queimando o solo da floresta. Felizmente, a princípio não está queimando a copa das árvores. Mas é uma área muito íngreme. E por essas características, só conseguimos fazer o combate com aeronaves e montando trincheiras para frear a expansão do fogo. Estamos lá hoje com 60 pessoas sendo 36 ligadas ao ICMBio e 24 bombeiros. De ontem para hoje, deu uma chuviscada em parte da vertente da serra. Isso trouxe um pouco mais de umidade e melhorou um pouquinho com a condição de combate.
Já é possível apontar as causas do incêndio ou as principais hipóteses?
Tanto a Polícia Federal como o ICMBio possuem investigações abertas. A gente só consegue fazer a perícia depois de apagar o fogo. Mas a origem mais provável são as áreas rurais vizinhas ao parque. E, sendo assim, é uma prática criminosa porque não é permitido fazer queimada nesse período. O que podemos dizer é que não existe registro de incêndio natural nesta região. Não temos registro de raios há meses aqui. Então certamente alguém pôs fogo. A questão é se foi intencional ou não.
Houve outros momentos críticos similares ou piores nos últimos anos?
Tivemos um incêndio bem grande em 2014, há dez anos atrás. Foi pior do que esse, pelo menos até o momento. Na época, as chamas subiram para os campos de altitude, na área mais alta da serra. É uma área que tem muitas espécies endêmicas [espécies que ocorrem exclusivamente em uma determinada localidade geográfica, não sendo encontradas naturalmente em outros lugares]. Mas queimada de área de floresta no nível que estamos observando agora não registramos há muitos anos. Normalmente, o que queima são áreas mais abertas na vertente voltada para o continente, que é mais seca. A umidade da floresta consegue abafar o fogo. Mas agora está propagando para a floresta porque a região toda realmente está muito seca.
É possível estimar quanto tempo a vegetação leva para se regenerar após esses cenários críticos?
Isso só com uma avaliação após o incêndio. Vai variar muito. Depende se o incêndio atingiu a copa das árvores, se queimou o chão da floresta. Tem áreas de difícil recuperação na parte mais alta que foi atingida, onde temos a travessia do Cobiçado e Ventania e o Caminho da Mata Atlântica, que são trilhas do parque. Topo de montanha demora mais para se recuperar. Mas ainda não fizemos uma avaliação detalhada porque o objetivo agora é apagar o fogo.
Essas trilhas estão com acesso suspenso?
Só estão fechadas as trilhas na área do fogo. O parque não está fechado à visitação por enquanto. As decisões administrativas dependem de avaliação, que é feita constantemente. A reabertura das trilhas vai depender da propagação do fogo.
Na sua visão, o que pode ser feito para impedir que eventos similares a esse voltem a ocorrer no futuro?
O principal é a conscientização da sociedade. De maneira nenhuma, as pessoas podem usar o fogo nesse momento de seca, seja para queimar lixo, para limpar áreas agrícolas, para qualquer coisa. E em outros períodos, só em condições muito específicas. Na parte de coerção, cabem punições e penas mais rígidas. E precisamos fortalecer as estruturas de investigação. Hoje, raramente alguém que coloca fogo na vegetação é realmente responsabilizado.